Oscilações monetárias e destinos caros aumentam o custo dos intercâmbios

Marília Port
Redação Beta
Published in
5 min readJun 26, 2022

Entre 2 e 4 alunos de graduação da Unisinos realizam mobilidade acadêmica com bolsas de auxílio neste semestre; programas parceiros sofreram cortes

Tássia Becker Alexandre na Universidade de Múrcia, durante seu período de doutorado sanduíche (Foto: Arquivo pessoal)

Muitos estudantes de graduação e pós-graduação compartilham o interesse por cursar algum nível da sua formação no Exterior. Daniel de Oliveira, auxiliar administrativo integrante da equipe do Escritório de Internacionalização da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), setor que coordena as iniciativas de mobilidade acadêmica dentro da instituição, conta que o baixo número de alunos em mobilidade acadêmica nesse momento é consequência do corte de verbas para alguns programas.

Neste semestre, menos de cinco alunos da graduação estudam fora do país com bolsa-auxílio. Daniel explica que os números de vagas por edital influenciam esse número, bem como a cotação monetária e a diferença de custo de vida no Brasil das nações de destino. “Atualmente, Portugal está no topo da lista de países mais escolhidos para intercâmbio [entre os estudantes da Universidade], em seguida vem Espanha e Coréia do Sul”, conta.

O integrante do escritório de Internacionalização da Unisinos afirma ainda que muitas universidades e consulados disponibilizam estimativas que ajudam a planejar os gastos. Portanto, essa realidade exige organização e recursos. Segundo informações da pesquisa Selo Belta 2019, encomendada pela Associação das Agências Brasileiras de Intercâmbio (Belta), a procura por viagens estudantis fora do país cresceu 5,86% em 2019 em relação ao ano anterior, apesar das condições econômicas pouco favoráveis para os brasileiros. Naquele ano foram 386.000 viajantes, contra os 364.400 registrados em 2018. De acordo com a pesquisa, o setor movimentou cerca de 1,3 bilhões de dólares no ano que antecedeu a pandemia.

É importante lembrar que, desde aquela época, o real brasileiro passou por uma desvalorização considerável. Moedas como o dólar americano e o euro estão menos acessíveis: em 2019, um dólar equivalia a R$ 4, enquanto um euro totalizava o equivalente a R$ 4,50. Agora, a unidade do dólar já soma R$ 5,23, enquanto o euro custa R$ 5,52.

Nesse sentido, a escolha do país de destino faz toda a diferença, conforme explica Daniel. “As bolsas variam e seus auxílios também. Sempre é recomendado que o aluno tenha uma reserva financeira, pois os programas incluem acomodações e alimentação, mas demais gastos, como transporte e lazer, ficam por conta dele. As despesas no Brasil com vistos, traduções e seguros também são de responsabilidade do estudante”, ele explica.

Existem opções

Bolsas de estudo e planejamento prévio podem ser fortes aliados para os estudantes que planejam obter uma experiência acadêmica no Exterior. Este foi o caso de Tássia Becker Alexandre, jornalista e professora substituta da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Durante o doutorado, Tássia foi contemplada pelo primeiro edital do Programa Institucional de Internacionalização da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Programa CAPES-PrInt). Foram cerca de seis meses desde a inscrição no processo seletivo até o momento da viagem para a Espanha, que aconteceu em junho de 2019.

Tássia junto à professora Inmaculada J. Martínez, sua orientadora na Espanha (Foto: Arquivo pessoal)

“Comecei a me organizar desde que entrei no doutorado, em 2017 — eu já tinha planos de fazer sanduíche [formação que inclui um período realizado fora do país]. Então, já fui organizando proficiência, pensando em projeto, para onde gostaria de ir, quem eu gostaria que me orientasse. Quando abriu o edital, eu já estava mais ou menos com tudo encaminhado”, ela conta. “Eu não imaginava que um dia teria essa oportunidade de viajar, estudar no Exterior, porque realmente não tinha recursos financeiros para isso, então precisava contar com uma bolsa”, avalia. Ao longo de 2018, Tássia realizou aulas de espanhol e o exame de proficiência para o idioma, Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (DELE).

“A gente recebe a bolsa em real, de acordo com a conversão relativa ao valor do euro, que é a moeda local, na época. Então, recebi esse dinheiro na minha conta no Brasil e depois tive que fazer essa conversão para poder ter acesso lá na Europa”. Durante os seis meses em que morou em Múrcia, no sudeste espanhol, ela recebia uma quantia mensal de € 1300, além de auxílio-deslocamento, passagem e saúde. “Foi muito tranquilo para bancar todas as minhas despesas de alimentação e de moradia, porque a cidade onde fiquei não é uma cidade tão cara. Tinha um pouco da perda do dinheiro em função da conversão, das taxas que a gente paga para fazer essa conversão, até mesmo do período, pelas oscilações da moeda, mas em geral a minha bolsa deu para todo o período”.

No entanto, ela reforça que nem todas as instituições oferecem o mesmo valor. “Depende muito do programa ao qual a pessoa vai se inscrever… Tem bolsas que são de mil euros, outras que são de um pouco menos, tem algumas que só vão pagar o valor do curso, é preciso ficar atento a essas questões. Tive colegas que viajaram para cidades um pouco mais caras, como Barcelona (Espanha) ou Paris (França). Recebendo o mesmo valor, ficava um pouco mais apertado, porque são cidades em que as pessoas gastam muito mais para comer e para morar. […] Dependendo da cidade para onde vai, talvez uma reserva seja a melhor solução. Ou tentar formas de economizar. Eu, por exemplo, dividia apartamento”, relembra.

Atenção às oportunidades

“Para a minha formação acadêmica, vejo [a viagem] como um complemento muito importante para que eu pudesse ter acesso a outras perspectivas de pesquisa, pudesse qualificar ainda mais o processo de investigação e os resultados que eu trouxe para a minha tese. Considero que foi um momento essencial e valorizo muito essa oportunidade que tive”, reflete Tássia. Ela indica que quem se interessa por possibilidades semelhantes busque informação e adiante as etapas possíveis, como o domínio do idioma estrangeiro para, nas palavras dela, poder aproveitar da melhor maneira possível quando a oportunidade chegar.

“Fique atento aos editais da universidade e planeje com antecedência. Mantenha seus documentos de viagem em dia, especialmente o certificado de proficiência. Observe prazos de inscrição, envio de documentação, entre outros. É importante ter ciência dos possíveis gastos durante a mobilidade para se preparar financeiramente. Antes de viajar, pesquise sobre a cultura local do país, pois assim você diminui um pouco o impacto do choque cultural e facilita a adaptação. Também é interessante estimular um mindset flexível para encarar outra cultura e aproveitar o máximo possível da experiência”, enfatiza Daniel.

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