Outubro Rosa a quatro patas

Entenda como o câncer de mama também afeta a vida do seu pet

Mainara Torcheto
Redação Beta
5 min readOct 24, 2017

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O Outubro Rosa é o mês de conscientizar a população sobre a importância de um diagnóstico precoce de câncer de mama, bem como informar e unir forças no combate à doença. Além da luta das mulheres, é importante prestar atenção nos amigos de quatro patas. Segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária, a incidência de câncer de mama em cadelas é de 45% e, em gatas, de 30%. Ou seja, os animais, especialmente os domésticos, também sofrem com os tumores mamários.

Segundo dados da CenterVet, Clínica Cirúrgica de Estatística dos Tumores em Cães, 97% dos casos de câncer de mama acontecem em fêmeas. Porém, entende-se que a doença também possa ocorrer em machos. Marcelo Quinzani, diretor clínico do hospital Pet Care, explicou em entrevista ao site Amigo Não Se Compra que é preciso agir justamente na hora do diagnóstico precoce da doença, quando não há sinal de desconforto ou dor. Afinal, “quando o tratamento é precoce, as chances de cura aumentam em 90%”. Além disso, a rede de hospitais veterinários Pet Care, de São Paulo, observou que “os tumores de mama correspondem a 53% de todos os casos de câncer em cadelas e 17% em gatas atendidas pela equipe de oncologia da rede”.

O diagnóstico

O diagnóstico de câncer de mama se faz através da percepção de nódulos, pólipos ou aumento de volume no tecido mamário. A veterinária Luciana Guidolin atende pequenos animais e indica aos donos de cães e gatos que sempre apalpem a região mamária deles. “Levar ao veterinário regularmente também ajuda. O câncer de mama é provavelmente o tipo de câncer mais comum na clínica de pequenos animais”, complementa a veterinária.

A causa mais comum do aparecimento dos tumores de mama é a falta da castração, a exposição das fêmeas aos hormônios sexuais (ter cio) e o uso de contraceptivos. “O recado que posso dar é: castre seu animal de estimação o quanto antes. Se você castrar antes do primeiro cio, a incidência da doença é de 0,5%; depois do primeiro cio é de 8%; depois do terceiro cio, 26%, variando, assim, até os dois anos de idade”, explica. Depois dos dois anos do animal de pequeno porte, a castração não faz tanta diferença em relação à incidência do câncer de mama. Outro alerta de Luciana em relação à castração é que, além de diminuir as chances de câncer, a prática também ajuda na redução de animais abandonados, devido às gestações indesejadas.

17 anos e uma luta

A Baby, poodle da Bruna Reis e sua família, passou por momentos muito difíceis durante o tratamento contra o câncer de mama. Ela tinha 12 anos quando foi diagnosticada com a doença. A partir daí, os médicos veterinários indicaram alimentação especial e tratamento medicamentoso. A família seguiu todos os passos propostos. “Decidimos fazer a cirurgia nela, que seria a retirada do tumor e a castração no mesmo momento. Ocorreu tudo bem. Quando ela completou 15 anos de idade descobrimos uma metástase no útero (no momento da castração, o médico optou por não fazer a retirada total do sistema reprodutor pela idade dela, por possuir maiores riscos)”, relata Bruna. Desde então, o câncer foi tomando conta e ela perdeu completamente a audição e parcialmente a visão.

“Foram dois anos de muita luta e sofrimento, ela regrediu muito, e não tínhamos o que fazer, somente esperar, pois ela já estava muito velhinha para se submeter a outra cirurgia. Tentamos dar o máximo de qualidade de vida para ela nesse período.” Bruna conta que passou momentos de terror vendo o sofrimento de Baby, que uivava de dor, vomitava e se debatia. “Os especialistas sugeriram a eutanásia, mas não aceitamos. Acho que no fundo a gente tinha esperança de que tudo ficasse bem de novo. Até que, em um sábado, ela faleceu, não da forma tranquila como a gente estava esperando”, conta. Apesar das dificuldades, a família ficou com a consciência tranquila. “Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Foram 17 anos de convivência e de amor, ela teve uma vida linda aqui na Terra.”

A cadela Baby. (Foto: Arquivo pessoal/Bruna Reis)

Uma luta diária

Arlene Goelzer, fundadora da ONG dos Peludos, em Farroupilha, trava uma luta diária para encaminhar os aproximadamente quatro casos por mês para tratamento em clínicas veterinárias. Ela entende que é extremamente necessário prestar esse tipo de serviço aos cães e gatos atendidos pela ONG e acrescenta: eles merecem muito mais.

Vilminha. (Foto: Arquivo pessoal/Arlene Goelzer)

Nas idas e vindas de casos de animais com essa doença dentro da ONG, Arlene também pôde presenciar a batalha de duas das suas cadelinhas dentro de casa. Vilminha foi resgatada com vários tumores, mas não demonstrava dor. A cirurgia era muito arriscada, pois ela já tinha aproximadamente 15 anos. Mas Arlene conta que “numa manhã ela acordou com o útero para fora, então operamos e aproveitamos para retirar os tumores”. Ela sobreviveu por quase quatro anos. Outro caso de sucesso foi o de Lilica, que foi operada do câncer de mama há dois anos com os tumores abertos e hoje está bem, apesar de ter metástase nos ossos.

Lilica, à esquerda. (Foto: Arquivo pessoal/Arlene Goelzer)

Campanha

O Serviço de Oncologia Veterinária do Hospital Veterinário da UFRGS desenvolveu o projeto de extensão “Mastectomia para tratamento de tumores mamários para cadelas e gatas”. A iniciativa busca oferecer um serviço altamente especializado à população, através do aprofundamento de alunos na graduação, além de promover ações de conscientização sobre a prevenção do câncer de mama.

Um dos eventos ocorreu no dia 22, quando veterinários do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS, professores e alunos de graduação e da pós-graduação da Faculdade de Veterinária da UFRGS se uniram no Parque da Redenção, em Porto Alegre, para conversar com o público em geral sobre como prevenir a ocorrência do câncer de mama.

Fique atento!

Se o seu pet é do tipo que adora um carinho na barriga, você pode aproveitar esses momentos para fazer avaliações periódicas. Apalpe as mamas delicadamente e, se notar algum tipo de nódulo, aumento de tamanho ou secreção, procure um médico veterinário. Havendo um diagnóstico precoce, a cirurgia tende a ser a opção mais fácil para o tratamento — muitas vezes dispensando sessões de quimioterapia.

A VetMídia, em parceria com o projeto de extensão “Mastectomia para tratamento de neoplasias mamárias em cadelas e gatas”, preparou um vídeo explicativo sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da doença. Confira:

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