Outubro Rosa: Ligas de combate ao câncer precisam de ajuda da população

Campanhas de conscientização do câncer de mama utilizam meios digitais para evitar aglomerações

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Redação Beta
7 min readOct 20, 2020

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Por Elias Vargas e Laura Blos

O câncer de mama é a quinta causa de câncer em geral e a mais frequente entre as mulheres. (Foto: YinYang/Istock)

O slogan “Quanto antes melhor” é o tema central da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) no combate ao câncer de mama em 2020. A campanha ocorre de forma online para evitar a propagação da Covid-19, porém, com o mesmo objetivo de conscientização para os cuidados do corpo da mulher.

O câncer de mama é a quinta causa de câncer em geral (626.679 óbitos/ano) e a mais frequente entre as mulheres. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a taxa de mortalidade por câncer de mama representava 13,84 óbitos a cada 100 mil mulheres, em 2018. Para o ano de 2020, foram estimados 66.280 novos casos, o que representa 43,74 ocorrências a cada 100 mil mulheres.

Slogan de conscientização contra o Câncer de mama (Fonte/Reprodução: Site SBM)

O Inca destaca também que o problema ultrapassa continentes, sendo o mais frequente entre mulheres em todo o mundo. A campanha do Outubro Rosa, para conscientizar o público feminino sobre o câncer de mama, ocorre todo ano. Em 2020, no entanto, se tornou ainda mais importante.

De acordo com a Fundação do Câncer, houve uma queda de 84% nas mamografias feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro durante a pandemia, em comparação com o mesmo período no ano passado. Esse exame, junto ao autoexame, é a melhor forma de diagnosticar a doença.

Diante dessa realidade, a conscientização segue sendo de extrema importância. O que muda neste ano durante a pandemia é a maneira como serão feitas as ações. Conforme Nelma Wagner Gallo, presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer no Rio Grande do Sul (Liga/RS), localizada em Porto Alegre, o trabalho ficou um pouco prejudicado, face a determinação dos protocolos sanitários e os decretos municipais. “Apesar disso, a Liga assistiu seus pacientes carentes portadores de câncer com cestas básicas, passagens para que continuassem as sessões de quimioterapia e radioterapia, medicamentos, perucas e material de higiene”, relata.

A Liga/RS tem por finalidade assistir ao doente carente portador do câncer, conscientizar e educar a população visando a prevenção e melhorar a qualidade de vida. Conforme Nelma, a entidade realiza seus trabalhos em vários âmbitos. “Temos o setor de Educação e Prevenção, o Setor Assistencial, Grupo de apoio aos pacientes Laringectomizados (Grupo Gala), o Setor Promocional, que realiza eventos para arrecadar fundos e a Liga Jovem”, conta.

Liga/RS em ação no Hospital da Criança Santo Antônio. (Foto: Reprodução/Facebook LigaRS)

Apesar das dificuldades enfrentadas durante a pandemia, a Liga/RS suspendeu seus trabalhos em março e voltou a atuar no início de junho. “Nós retomamos o atendimento no ambulatório de prevenção e na secretaria da entidade, sempre respeitando os protocolos sanitários e incentivando os pacientes a não abandonarem o tratamento”, comenta.

A palestrante Fátima Lemos, que trabalha na Liga Feminina de Combate ao Câncer Sapiranga, relata que a maior dificuldade foi a arrecadação de fundos. “Com a chegada da pandemia, nossa dificuldade foi não poder organizar mais as ações, como chás e jantares, por exemplo. Esse dinheiro é usado para auxiliar as pessoas”, conta.

Mesmo com as orientações para evitar as aglomerações, Fátima revela como trabalharam para conscientizar as pessoas. “Fazemos palestras online nas redes e nos aplicativos de reunião, colocando tudo o que a Liga faz e precisa continuar fazendo. As redes sociais são uma ferramenta essencial para continuar com nossas ações”, comenta.

Campanha para arrecadar fundos em Sapiranga. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com o passar do tempo, a Liga de Sapiranga voltou a trabalhar com o brechó. “Seguimos todos os protocolos, igual aos do comércio. Entram cinco pessoas por vez, e permanecem cerca de vinte minutos dentro do local”, explica.

Para arrecadar fundos e conseguir dinheiro para comprar medicamentos, a Liga de Sapiranga vai realizar um drive-thru. “Esse ano vai ter a ‘pastelada’. A pessoa vem de carro, pega o pastel e vai embora. Não pode comer aqui dentro”, relata Fátima.

O Instituto do Rio Grande do Sul (IMAMA) possui vários produtos no seu site para arrecadar fundos, além de incentivar as mulheres a fazerem uma caminhada para relembrar a importância da prevenção do câncer de mama. O evento de encerramento do Outubro Rosa, em Porto Alegre, ocorrerá no dia 31 de outubro de 2020, às 15h. O local de saída será no Parque Moinhos de Vento (Parcão), com trajeto pela avenida Ipiranga e a chegada na Orla do Gasômetro, prevista para 18h. Serão permitidos somente carros, motos e bicicletas.

Pacientes relatam a importância do autoexame e do trabalho das Ligas

Jéssica Tamara Dutra descobriu aos 29 anos estar com câncer de mama. O diagnóstico veio após Jéssica perceber um caroço durante um autoexame. “Eu sempre ouvi falar do autoexame e eu fazia, mas sem pretensão nenhuma. Aí, numa dessas, eu descobri um caroço. Na hora, eu não dei muita importância, porque eu não imaginei que podia ser algo, mas como ele continuava ali, fui no médico pra ver o que que eu podia fazer”, conta a paciente.

Depois de ecografias mamárias, troca de médicos, pulsão e biópsia, Jéssica descobriu estar com câncer de mama, em agosto de 2017. No mês seguinte, já iniciou o tratamento com quimioterapia. Ainda realizou uma cirurgia e radioterapia, até ser considerada curada no final de 2018. “O tratamento não é fácil. Perdi o cabelo, fiquei enjoada, não tinha fome. Toda aquela coisa chata mesmo da quimio. Depois da cirurgia para retirar o tumor e das 30 sessões de radioterapia, que foram mais tranquilas, eu precisei tomar, durante mais cinco meses, uma quimioterapia oral, porque o tumor que eu tive era bem agressivo”, explica Jéssica.

Jéssica Tamara Dutra participou de ações da Liga. (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

“Eu acredito que o que me ajudou muito foi o fato de ter feito o autoexame. Eu acho que, se eu não tivesse feito isso, nunca teria descoberto tão logo assim. A gente precisa muito manter essa prevenção, ir atrás de alguma coisa diferente, a gente acaba deixando passar tanta coisa importante na vida da gente. Não podemos ter medo de falar, de se cuidar, de se tocar. Tem tanta gente nova sofrendo com esse tipo de câncer. Se a gente prevenir, se a gente descobrir antes, nós podemos evitar muita coisa”, defende Jéssica.

Muitas vezes se tem a ideia de que as ligas ajudam com coisas mais “físicas”, como ranchos, leite e roupas, mas não é só isso. Jéssica conta que foi sua mãe quem fez seu cadastro junto a Liga de Sapiranga e que sempre que podia participava das ações da instituição. “Tive consulta com a nutricionista, comecei a fazer Reiki, Barras (um tipo de terapia), participava dos encontros de pacientes, tudo que elas ofereciam sempre eu estava fazendo. Era algo para me distrair, um momento de estar com outras pessoas, em contato com histórias diferentes”, explica a paciente.

Esse acompanhamento em diversas esferas é essencial para quem está enfrentando o câncer. “Pra mim, foi muito importante porque depois de um tempo de tratamento, quando ele já começou a ir para a parte final, eu fiquei me sentindo inútil. Eu queria fazer alguma coisa e não podia, então elas sempre estavam ali me envolvendo em alguma coisa. Eu tenho muito o que agradecer às meninas. Elas foram muito especiais nestes momentos, me abraçaram muito, em todos os sentidos”, afirma Jéssica.

O apoio aos pacientes marca intensamente cada um deles e demonstra a importância de contar com instituições como as Ligas de Combate ao Câncer, tanto que muitos retornam depois de curados. É o caso de Michelle Ternus dos Santos que também contou com o apoio da Liga sapiranguense. “Quando descobri um câncer agressivo de intestino, procurei a Liga. Recebi todo o apoio para o tratamento, como psicóloga, medicação, leite e terapia energética de Reiki. Precisei passar por cirurgia, quimioterapia, e tudo foi muito intenso, doloroso muitas vezes, mas venci”, comemora Michelle.

Michelle Ternus dos Santos venceu o câncer e hoje é voluntária. (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Após todo o apoio da Liga e de se curar do câncer, Michelle voltou a instituição, desta vez para ser voluntária. “É muito importante esse auxílio às pessoas num momento em que elas estão mais vulneráveis e fora do seu equilíbrio, mental, emocional e espiritual. Por isso, trabalho lá com uma técnica energética de Cura Reconectiva que traz esse equilíbrio”, afirma a voluntária, que também destaca a importância de poder estar ali como um exemplo de vitória da doença e também de empatia por saber pelo que o paciente está passando.

SERVIÇO

Local: Liga Feminina de Combate ao Câncer no Rio Grande do Sul (Liga/RS)

Endereço: Rua Sarmento Leite, 187, 3º andar do Hospital de Oncologia Santa Rita, do Complexo Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 14h às 18h

Local: Liga Feminina de Combate ao Câncer Sapiranga

Endereço: Rua Duque de Caxias, 48, bairro Centro, Sapiranga

Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 14h às 18h

Local: Instituto de Mama do Rio Grande do Sul

Endereço: Rua Dr. Vale, 157, bairro Floresta, Porto Alegre

Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h.

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.