Pão de forma e de cachorro-quente têm sido alternativas mais baratas para consumidores de cacetinho

Problemas na colheita e IPCA da farinha de trigo em 17,69% elevaram os preços do pão francês na região metropolitana de Porto Alegre, nos últimos 12 meses

Maria Júlia Pozzobon
Redação Beta
4 min readDec 9, 2021

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Alta da inflação faz o valor do pão francês subir ainda mais. (Foto: Pinterest/Reprodução)

Que muitos produtos têm sofrido aumento de preços, já não é mais novidade. Todos os dias, a população brasileira tem sentido no bolso quando vai fazer compras. E com o pão francês, o famoso cacetinho para os gaúchos, a realidade não é diferente. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), métrica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para calcular as tendências da inflação, o ingrediente farinha de trigo acumulou 15,36% nos últimos 12 meses, no Brasil. Na região metropolitana de Porto Alegre, a variação acumulada no mesmo período ficou em 17,69%.

Conforme Diriane Knaack, que é proprietária da Padaria Conesul no município de São Luiz Gonzaga, interior do Rio Grande do Sul, o aumento do preço da farinha de trigo influencia diretamente no valor do cacetinho. Por isso, conta Diriane, uma das alternativas para a população foi substituir o pão francês pelo pão de forma ou pelo pão de cachorro quente. “Tanto o pão de cachorro quente, como o pão de forma, levam mais leite e amido de milho para terem maior duração para os consumidores. Por esse fator, eles têm menos farinha de trigo. Daí, conseguimos fazer com que fiquem em preços mais baixos e acabem sendo uma alternativa para os consumidores do pão francês”, explica.

Depois de Porto Alegre (RS), a capital Curitiba (PR) tem a maior variação acumulada (18,15%), nos últimos 12 meses, da farinha de trigo no Brasil. (Imagem: IBGE/Reprodução)

O que muita gente não sabe, é que o preço do trigo aumenta em cada época de colheita. Os produtores, de modo geral, entenderam que o trigo é um grão que dá certo, exatamente do mesmo modo que acontece com a soja. Então, isso faz com que cada vez mais semeiem o cereal. Ocorre, no entanto, que eles armazenam o trigo em galpões, retendo o produto para vender no preço que acham justo. Com menos grãos circulando no mercado, mais caro o trigo. Consequentemente, mais elevado o preço do pão francês ou cacetinho.

Aumento do preço do trigo está relacionado ao elevado valor do pão francês. (Foto: Pinterest/Reprodução)

O agrônomo Vinicius Souza explica que, na colheita passada (2020 e 2021), o Rio Grande do Sul foi afetado pelo clima. Trabalhador da C. Vale-Cooperativa Agroindustrial, Souza salienta que mesmo com a baixa colheita, foi o período de maior valorização do grão. Para este ano, a expectativa é que se pague preços ainda mais elevados. A justificativa é que o cereal tem vivido uma valorização intensa. “Mesmo com as perdas em decorrência das geadas, o Brasil tem capacidade de produzir muito trigo, e isso tende a pressionar os preços no momento em que o produto entra no mercado”, sublinha.

Devido a alta do trigo em relação à colheita passada e a inflação que o grão sofreu, muitos alimentos quem levam a farinha de trigo como ingrediente também têm seus valores acrescidos. Na padaria de Diriane, o preço do quilo do cacetinho chegou a R$ 9,90 no inicio deste ano. Neste momento, a proprietária relata que não consegue vender o pão por menos de R$ 11,00 o quilo.

De acordo com dados do IPCA do pão francês, o alimento acumulou uma variação de 7,72% nos últimos 12 meses no Brasil. Neste mesmo período, o IPCA do pão francês, na região metropolitana de Porto Alegre, ficou em 18,50% — o mais alto entre as capitais. A única capital brasileira que registrou queda foi Curitiba, com -3,35%. Somente a variação mensal, do mês de outubro, foi de 0,78% do pão francês no Brasil. Em Porto Alegre, o IPCA do mesmo mês ficou em 0,69%. O agrônomo Vinicius Souza explica que, com a queda sofrida no valor da carne, houve a diminuição de todos os produtos que compõem a cesta básica dos brasileiros.

Tabela IBGE mostra dados do pão francês em todo o Brasil nos últimos 12 meses. (Foto: IBGE/Reprodução)

Souza contextualiza, ainda, que outro fator determinante para o aumento do trigo, no país, foi a crise que a Argentina sofreu com o grão. “O país vizinho era o principal fornecedor de trigo ao Brasil, e com a menor oferta para o início deste ano, gerou um aumento tanto de imposto, como de importação, contribuindo para que o valor do trigo subisse mais ainda, fazendo com que os preços da farinha ficassem ainda mais altos para este ano.”, destaca o agrônomo.

De acordo com a proprietária da padaria, não é fácil repassar os custos. “Sempre que há um aumento no valor do cacetinho, a clientela diminuiu por alguns dias, e logo volta ao normal. Acho que as pessoas estão entendendo que não temos outra alternativa. Sempre buscamos meios para satisfazer o cliente, até mesmo criando promoções para quem levar em maiores quantidades”, comenta Diriane.

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