CRÔNICA: A democracia na seção 498

Mesário em uma escola da 76ª Zona Eleitoral de Novo Hamburgo, repórter da Beta Redação narra como foi a votação em dois turnos

Alessandro Garcia
Redação Beta
4 min readOct 29, 2018

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A seção 498, estabelecida na sala 14 da Escola Municipal Boa Saúde, de Novo Hamburgo. (Foto: Alessandro Garcia/Beta Redação)

Na 498 nada de mais ocorreu. Nada além do que se pode esperar de uma entidade que já no primeiro turno mostrava-se decidida a não ir para um “segundo tempo” de disputa.

Lembro que no dia 7 de outubro, meu primeiro dia como mesário, o “boletim de urna” — relatório final do pleito — sinalizava a tendência que viria a se repetir neste dia 28: expressivas votações em Jair Bolsonaro (PSL) e em José Ivo Sartori (MDB), ambos na casa dos 70 pontos percentuais de votos válidos para presidente e governador.

É bem verdade que a predileção da seção por Sartori não acompanhou a vontade da maioria dos eleitores do Estado, que elegeram Eduardo Leite (PSDB) com 52% dos votos, contra 48% do emedebista.

Também é verdade que Jair Bolsonaro não se elegeu presidente da República com tanta vantagem sobre Fernando Haddad (PT), como a 498 desejava. O que veio a se confirmar no fim das apurações foi 55% para o candidato do PSL contra 45% para o representante do Partido dos Trabalhadores.

O que de fato pode-se apontar é que a seção em questão, a 498, foi um retrato fiel da vontade dos hamburguenses, que, democraticamente, puderam expressar sua massiva adesão às candidaturas de Bolsonaro e Sartori.

A apuração final em Novo Hamburgo revelou um cenário com 75% dos votos para presidente em Bolsonaro e 69% para o governo do RS em Sartori. Quase exatamente o que bradou a 498.

Interior da seção 498, vazio, como esteve em diversos momentos. Foto: Repórter

Os clichês

A Escola Municipal Boa Saúde, que fica no bairro de mesmo nome, na Rua 22 de Abril, em Novo Hamburgo, foi a casa, dentre outras, da seção 498, pertencente à 76ª Zona Eleitoral.

Fachada da Escola Municipal Boa Saúde, de Novo Hamburgo. (Foto: Alessandro Garcia/Beta Redação)

A seção era a única com acessibilidade. Um portão lateral, que podia ser acessado da rua a fim de se evitar escadas, ligava o exterior à rampa para cadeirantes existente no prédio, a da sala 14. No entanto, nem no primeiro, nem no segundo turno, a rampa foi utilizada. O cadeirante cadastrado a fazer uso dela não se fez presente.

Na seção 498, esperavam-se 334 votantes, mas 65 não compareceram. Quanto aos que se fizeram presentes no dia (28), estes não enfrentaram filas, situação oposta ao que acontecera no primeiro turno, quando houve quem esperasse mais de uma hora.

Desta vez, a equipe, composta por um 1º e um 2º mesário (eu), além de uma secretária e um presidente, teve tempo pra trocar prosa e tomar chimarrão. Demais dificuldades não ocorreram. Falhas na leitura biométrica, a dor de cabeça do primeiro turno, foram ocorrências quase insignificantes em quantidade no último domingo (24/10).

No primeiro turno, houve quem tumultuou a seção. O caso foi de um homem que alegou ter votado em um candidato e a urna computado o voto para outro. O desenrolar, na ocasião, foi ele esbravejando pelos corredores e acionando os fiscais da votação. E fim. Neste dia 28, este homem voltou extremamente cordial — como se nada tivesse acontecido — , votou e topou o ombro com o marco da porta ao sair.

Como na maioria das seções eleitorais, a 498 participou com todos os clichês. Teve o tiozinho que chegou às 7h e foi o primeiro a voltar. A tiazinha que anulou o voto sem querer: “o 11 não tá concorrendo?”. Teve criança que votou pelo pai.

Como é função de todas as seções eleitorais, a 498 contribuiu para o processo de votação. Até ela, as pessoas foram. Nela, as pessoas votaram. Nada houve de surpresa, nada houve de extraordinário. Para o bem, ou para o mal, o que houve na seção 498, durante primeiro e segundo turnos, foi a concretização da magnífica possibilidade, que só a democracia oferece, de o cidadão escolher quem lhe representará. Para o futuro, a 498 espera não esquecer os candidatos que elegeu. Nem ser esquecida por eles.

Boletim de urna da seção 498. (Foto: Alessandro Garcia/Beta Redação)

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