Turismo projeta recuperação a médio e longo prazo

Impactado diretamente com perdas que acumulam R$ 312,6 bilhões desde março de 2020, setor espera retomada a partir do avanço da vacinação

Thariany Mendelski
Redação Beta
8 min readApr 28, 2021

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Prejuízo do turismo do Rio Grande do Sul com a pandemia supera R$ 15 bilhões (Foto: Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo/Divulgação)

De alguma maneira, todos nós fomos impactados pela atual crise sanitária da Covid-19. Do ponto de vista econômico, o setor do turismo está entre os que contabilizam os maiores prejuízos. Até 2020, o segmento era responsável por 8,7% do PIB do país e empregava cerca de 7 milhões de pessoas, direta ou indiretamente. Porém, o setor sofreu muitos prejuízos com a pandemia e está fazendo um esforço enorme para se reinventar e conseguir se reerguer.

Diante desse cenário em que as medidas restritivas foram aplicadas e com a cobertura vacinal nos próximos meses, a tendência é que o mercado do turismo tenha uma elevada procura por serviços, especialmente no segundo semestre. Por isso, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta avanço de 18,8% no volume de receitas do segmento em 2021 comparado ao ano anterior.

Segundo levantamento da CNC, as perdas totais no turismo acumulam R$ 312,6 bilhões desde março de 2020 e resultaram em 35,5 mil estabelecimentos turísticos fechados ao longo do ano passado no Brasil. O volume de receitas do setor encolheu inéditos 36,6% em 2020, em comparação com o ano anterior. A estimativa cruza informações disponibilizadas pelas pesquisas conjunturais e estruturais do IBGE, além de séries históricas referentes aos fluxos de passageiros e aeronaves nos 16 principais aeroportos do país.

O cancelamento de viagens, a redução significativa da malha aérea, a crise econômica e o medo de se locomover de forma geral têm feito as pessoas adiarem seus planos para um futuro ainda incerto. Com isso, toda a cadeia sofre. Das companhias aéreas às agências de viagem, passando por hotéis, tours, passeios e pontos turísticos. Diante desse cenário de incertezas, muitas empresas da área precisaram se reinventar.

O presidente do Sindicato das Empresas de Turismo no Estado do Rio Grande do Sul (Sindetur RS), Danilo Martins, comenta que o setor de turismo foi impactado diretamente pela Covid-19. “Estamos praticamente parados desde março de 2020. O mundo está parado no setor de turismo”, conta.

Danilo relata que o faturamento e a oferta de empregos no setor diminuíram drasticamente. “O faturamento praticamente desapareceu, estimamos que as empresas estejam faturando em torno de 10% do normal. Os empregos foram reduzidos em 50%”, afirma.

O Sindetur RS adotou as medidas que o governo federal propiciou e realizou uma negociação com os sindicatos dos trabalhadores, com reduções de jornadas de trabalho e salários para pode manter o mínimo possível de empregos. Para Danilo, a perspectiva de futuro pós-pandemia é muito boa, só vai depender de quanto tempo ainda teremos que conviver com as medidas restritivas e como as empresas voltarão a trabalhar. “Está muito difícil encontrar maneiras para se reinventar nesse momento. O nosso setor precisa de pessoas, o turismo requer movimentação, aglomerações, festas etc. Tudo o que a pandemia nos proíbe”, ressalta.

De acordo com o Sindetur, com as vacinas sendo aplicadas, o mundo começa a rever as atividades turísticas, sendo que a maioria dos países do mundo necessitam dessa receita para as suas economias sobreviverem. “O tempo é muito difícil estabelecer. Já a normalidade como era não sabemos se voltará. Somos otimistas por natureza e sempre esperamos que tudo volte rápido”, afirma Danilo.

Impactos na hotelaria do Rio Grande do Sul

Assim como na maior parte do mundo, no Rio Grande do Sul o setor hoteleiro também foi prejudicado pela pandemia de coronavírus. Isso porque a doença causou o cancelamento de diversos eventos no Estado, a suspensão de viagens e a imposição do trabalho remoto. De acordo com o presidente do Sindicato Intermunicipal da Hotelaria no Rio Grande do Sul (Sindihotel), Manuel Suárez, cerca de 30% do setor hoteleiro do Estado fechou e os que permaneceram abertos tiveram a redução de 60% da ocupação normal nesse período.

Durante o período de pandemia, o setor tomou algumas medidas para enfrentar a crise e minimizar as perdas. “A mais importante de todas elas foram as demissões do excedente de funcionários e a redução de custos de operação. Deixamos de pagar aquilo que não é essencial nesse momento, pagando basicamente os salários dos funcionários, INSS e os nossos fornecedores de água, luz e suprimentos”, relata Manuel Suárez.

Segundo o dirigente, o quadro de demissões no setor hoteleiro foi de 50% a 60% do quadro de funcionários original. “Ao fazer uma comparação do setor hoteleiro antes da pandemia e agora, é possível notar que baixou bastante o movimento. Na hotelaria temos três tipos de fluxo. O primeiro deles é o turismo corporativo, que também é o que nós mais atuamos, representando 75% do movimento no Rio Grande do Sul. É o também chamado turismo de negócios, composto por representantes que viajam por um período pequeno, de um a três dias, por exemplo. Isso representa cerca de 75% do fluxo total. Os outros 25% estão representados pelo turismo de lazer das grandes regiões das hortênsias, uva, vinho e os free shops que estão divididos com o turismo de eventos, que engloba também o coorporativo, esportivo etc.”, conta.

Para o presidente do Sindihotel, o turismo não deve voltar no ano que vem ao nível de 2019. O setor corporativo deve recuperar de 60% a 80% do que ele era. O turismo de eventos será o mais prejudicado e deve ficar reduzido em 50%, e o turismo de lazer, assim que todos forem vacinados e a situação melhorar, é capaz de retomar 100% do que representava em 2019.

Impactos da Covid-19 no setor da aviação no Brasil

O setor aéreo também foi um dos mais afetados pela crise causada pela pandemia da Covid-19. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, o ano de 2020 foi o pior da história da aviação comercial. “Em abril do ano passado, auge da crise do setor aéreo, chegamos a 7% da média diária de partidas em comparação com a oferta de voos no início de março, antes das medidas de isolamento social e fechamento de fronteiras. O agravamento da pandemia voltou a afetar negativamente o setor em 2021. As companhias aéreas nacionais registram, em abril, uma média diária de 960 voos domésticos, o que representa 40% da quantidade de decolagens verificadas no início de março de 2020”, aponta Eduardo.

Um estudo inédito da Abear mostra que a contribuição do setor para o Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 1,4%, em 2019, para 0,3% em 2020. A arrecadação de tributos, por sua vez, registrou queda de 70%, de R$ 32,6 bilhões para R$ 10 bilhões, no mesmo período. O total de salários pagos também teve retração no mesmo patamar, de R$ 42,9 bilhões para R$ 13,3 bilhões. Já os empregos gerados entre diretos, indiretos e induzidos, considerando-se o transporte aéreo como cadeia, foram reduzidos de 1,5 milhão para 401 mil. Na aviação comercial, porém, o nível de empregos diretos permaneceu estável, ao redor de 60 mil.

Dados sobre o estudo inédito da Abear referente a contribuição do setor nos últimos anos (Arte: Thariany Mendelski/Beta Redação)

Segundo Eduardo, as perspectivas de futuro no setor são as seguintes: “Eu enxergo que a sociedade brasileira deve exigir vacinação em massa e medidas de recuperação econômica para que saúde e economia sejam prioridades e tratadas de forma coordenada em todo o país. A partir daí, a aviação também pode experimentar uma retomada e, consequentemente, gerar um impacto extremamente positivo para toda a cadeia produtiva do turismo. Feito isso, nós teremos condições, em cinco a oito anos, eliminadas as distorções de custos e de ambiente regulatório, para dobrar ou triplicar o número de passageiros e construir uma aviação do tamanho que o Brasil é capaz de absorver, não apenas nacional, mas também regional, atendendo destinos mais distantes dos grandes centros urbanos”, relata.

Pandemia causou crise no setor aéreo (Foto: Gabriel Benevides Pereira/Divulgação Abear)

Impactos da pandemia nas agências de viagens

Para driblar a crise, agências de viagens no Brasil estão mudando estratégias para atrair o público que pretende viajar nos próximos meses. O diretor da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Rio Grande do Sul (Abav-RS), Victor Almeida, acredita que num futuro pós-pandemia as medidas sanitárias e de segurança deverão ser ainda constantes, por mais que grande parte da população seja vacinada. “Acreditamos que o futuro pós-pandemia será promissor, pois existe uma demanda reprimida considerável (pessoas que não tiveram suas rendas afetadas e estão ansiosas para poder viajar). Mas sabe-se também que o tema ‘viajar com segurança’ será um assunto muito levantado por esses públicos. Por isso, acreditamos que a retomada será lenta num primeiro momento, mas crescente, atingindo níveis mais consideráveis nos médio e longo prazos”, projeta.

“Todas as áreas do turismo foram de alguma forma afetadas. A mais atingida foi a do turismo internacional, o que gerou oportunidade ao turismo doméstico. Uma área que nesse período também viu oportunidade foi a emissão de documentos de viagem, como passaportes e vistos. Pelo fato das fronteiras estarem fechadas, muitos passageiros usaram o momento para renovar seus documentos, visando futuras viagens assim que as fronteiras se abram e os protocolos de entrada e saída dos países sejam mais amplamente aplicados”, conta Victor.

No que tange às agências associadas à Abav, é possível observar alguns números constatados antes da pandemia. A associação representa uma rede de distribuição, formada por 2,4 mil agências de viagens espalhadas por todo o território nacional. Juntas, as empresas associadas são responsáveis por 80% do movimento do mercado nacional — incluindo emissão de passagens aéreas, reservas de hospedagens, transporte turístico terrestre, locação de automóveis, operação de pacotes, cruzeiros marítimos, entre outros — além de conferir ampla capilaridade à oferta de produtos e serviços turísticos com impacto em 52 setores econômicos.

No setor da aviação comercial, por exemplo, mais de 80% dos bilhetes aéreos — incluindo voos domésticos e internacionais — são vendidos por agências de viagens. Os produtos turísticos, em grande parte, chegam ao consumidor por meio de milhares de lojas, que prestam atendimento presencial ou virtual de qualidade a milhões de pessoas — físicas e jurídicas.

No Brasil, as agências de viagens mantêm cerca de 35 mil empregos diretos e mais de 100 mil empregos indiretos. Composta por um Conselho Nacional, que é eleito democraticamente, a entidade de representação máxima do setor tem sede em São Paulo, e está presente em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, com as 27 unidades que formam o Sistema Federativo Abav.

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Thariany Mendelski
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