ParaNóia, a produtora multifacetada de Novo Hamburgo

Há 30 anos, organização cultural garante arte, entretenimento e informação à Região Metropolitana de Porto Alegre

Victor Dias Thiesen
Redação Beta
5 min readNov 17, 2017

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Grupo de palhaços deu origem à produtora de Novo Hamburgo. (Foto: Reprodução, Facebook ParaNóia Produções Artísticas)

A porta de entrada é pequena. Nem parece que lá de dentro se organiza um universo cultural que se estende pela região do Vale do Sinos, digno de homenagem pela Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo. A ParaNóia Produções Artísticas, com 30 anos de existência, se configura em um polo artístico a 40 km de Porto Alegre.

Espetáculo “Hoje é dia de Marias”, produzido pelo ParaNóia. (Foto: Reprodução, Facebook ParaNóia Produções Artísticas)

O nome da produtora, que nem sempre foi esse, é uma palhaçada. Não à toa: a ideia nasceu a partir de um grupo de palhaços de Novo Hamburgo criado no início da década de 1980. “Nóia” é apelido da cidade (a partir do nome do município em alemão, “Neu” — pronuncia-se “nói” — “Hamburg”). A produtora é “para” a cidade, portanto. Um presente. Outro significado para o nome ambíguo é literal: paranoia, delírio, loucura. “Mas num bom sentido!”, sublinha Luiz Fernando Rodembuch, um dos fundadores e diretor da produtora.

Embrião da produtora, o grupo de palhaços Turma do Pirulito foi chamado para animar eventos, daí surgiu a necessidade da criação de uma empresa. No início, eles se denominaram Revista Cartaz Produções Artísticas, em razão de uma revista que circulava na época. Até hoje Pirulito e sua turma estão na ativa. Os integrantes vão de palhaços a mágicos, passando por pernas de pau e artistas circenses.

O menu de atividades culturais do ParaNóia é extenso, com intensos compromissos a cumprir, principalmente no segundo semestre. Em junho, ocorre o Festival de Esquetes Teatrais, uma competição com espetáculos de até 25 minutos de duração. Os participantes são divididos entre as categorias profissional, amador e escolas/oficinas. Já foram 26 edições do evento, que acontece há 19 anos. Cerca de 40 pessoas estão envolvidas com projetos da produtora.

Registros da trajetória de 30 anos da produtora (esq.) e seu reconhecimento (dir.). (Fotos: Victor Thiesen/BetaRedação)

Agosto é o mês do Dançando, festival de dança que se realiza na cidade há 29 anos. Na edição de 2017, foram cerca de 1 mil bailarinos inscritos, segundo a organização. O sucesso tem uma fórmula: a liberdade de grupos de dança da cidade para planejar o evento. Até mesmo o regulamento foi criado por eles. Ao ParaNóia cabe a parte executiva e de mediador entre os grupos. A produção mais jovem é a Mostra de Curtas, que completou sua sexta edição nos dias 8, 9 e 10 de novembro de 2017.

Desde 2007, a produtora trabalha com audiovisual. Hoje são 16 curtas e duas minisséries registradas no portfólio. Ao entrar no ramo da TV e do cinema, criou o programa Tá!, que passa diariamente na ValeTV, com um episódio inédito por semana. O Tá! trata de assuntos diversos: cultura, informação, curiosidades de Novo Hamburgo e região, entre outros.

Além disso, a produtora oferece oficinas de teatro, dança, TV e cinema. Como escola, é referência na formação de atores na cidade. O aluno Assis Dahmer, 19 anos, conta que a ParaNóia é fundamental na sua vida. Depois de frequentar as aulas de teatro para acompanhar os primos mais novos, em 2013, decidiu ser ator profissional. “A ParaNóia é muito mais que uma produtora ou uma escola de artes. A partir do momento em que entrei aqui, conheci um mundo inteiro que não fazia ideia que existia”, diz.

Programa Tá! sobre a Turma do Pirulito, embrião da produtora

Em 2015, a ParaNóia recebeu uma homenagem da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo pelos 30 anos de atuação. No discurso de entrega, os vereadores justificaram que a cultura é essencial para o desenvolvimento do país e que muitos jovens de Novo Hamburgo e região realizaram seus sonhos por meio da ParaNóia. Também foi lembrada, pelo vereador Raul Cassel, a figura de Luis Fernando Rodembusch, diretor da produtora, que contribuiu para a cena da cidade.

A Beta Redação conversou com Fernando, como costuma ser chamado. Ele foi um dos fundadores da ParaNóia. Formado na vivência artística, ele algumas vezes se reconhece como ator; outras, como palhaço; e, às vezes, ainda fala de si mesmo como jornalista.

Luis Fernando Rodembuch (Foto: Luciano Lessa, reprodução do Facebook)

Nome — Luiz Fernando Rodembuch, Palhaço Pirulito.

Idade — 64 anos.

Infância — Nasci em Taquara, Rio Grande do Sul. Vim para Novo Hamburgo com dois anos.

Formação — Autodidata. Me formei no segundo grau, não quis fazer faculdade. Procurei fazer aquilo que eu gosto.

Decisão de ser artista — Na década de 1970 acontecia um festival de teatro escolar em Novo Hamburgo, mas eu nunca tinha participado. No festival de 1975, eu estava louco para participar como ator, só que na minha escola não tinha teatro. Eu já participava do teatro em grupo de jovens da Igreja Católica e da Igreja Evangélica, e um colega meu desses grupos me convidou para fazer a sonoplastia de uma peça. O espetáculo ficou em último lugar no festival, e o único prêmio ganhado foi o de sonoplastia. Esse pra mim foi o incentivo inicial. A confirmação veio em 1977, quando um espetáculo que escrevi, chamado 77 Risadas, ganhou nove dos 11 prêmios do festival.

Homenagem da Câmara de Vereadores pela trajetória do ParaNóia — O trabalho precisa ser reconhecido. Ninguém vive sem reconhecimento. Tu pode até, durante alguns, continuar e tal… Mas eu já estou esperando o próximo reconhecimento, eu quero mais. O ator de teatro precisa querer. O que não pode é subir à cabeça dele. Ele precisa ser um pouco egoísta, mas o egoísta não pode passar por cima das outras pessoas, não pode machucar as outras pessoas. Tem que ser um egoísmo do tipo “eu quero fazer o papel de uma mulher em uma peça de teatro”, “eu quero fazer um papel de padre”, “um papel de bêbado”, “eu quero escrever um roteiro melhor do que eu escrevi”.

Importância do ParaNóia para Novo Hamburgo — Eu acho que a ParaNóia já escreveu sua marca dentro da cidade. Se hoje a gente parasse, tenho certeza de que já teríamos feito nossa parte.

Escrivaninha ou palco? — Palco, sempre.

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