Sessão plenária na Assembleia Legislativa do RS em 19 de março, último dia antes da suspensão de atividades (Foto: Divulgação/AL-RS)

Parlamentares gaúchos divergem sobre prioridades em tempos de Covid-19

Apesar de defenderem quarentena, políticos apontados como pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre dão importância a causas diferentes

Luana Rosales
Redação Beta
Published in
6 min readApr 30, 2020

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O distanciamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus colocou a saúde e a economia no centro das discussões políticas do País. Ainda que a maioria das decisões esteja na esfera do Executivo, parlamentares têm atuado ativamente sobre o tema, principalmente os que estão de olho nas próximas eleições municipais — que, de acordo com Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda têm o primeiro turno mantido para 4 de outubro.

Apesar de defenderem a quarentena, os políticos apontados como pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre divergem sobre o que é prioridade.

Testes para a saída do isolamento

Para o deputado estadual Thiago Duarte (DEM), mais conhecido como Doutor Thiago, o foco agora deve estar na saúde da população, mantendo o acompanhamento periódico para os grupos de risco. Segundo o médico, isso previne que os problemas de saúde pré-existentes fiquem descompensados, evitando uma infecção pelo coronavírus com mais gravidade.

O parlamentar afirma, no entanto, que isso não está sendo executado em Porto Alegre. “Muitas gestantes não estão sendo atendidas, sem fazer o seu pré-natal. Outra medida que considero necessária para aumentar a imunidade da população é prover alimentos para as comunidades mais carentes”, diz.

Duarte conta que tem trabalhado no fortalecimento do trabalho assistencial de algumas associações e CTGs, além de acompanhar tecnicamente os passos dados pelo executivo estadual e municipal.

“Porto Alegre recebeu mais de R$ 60 milhões na última semana e nós queremos saber aonde foi cada centavo deste recurso”, destaca Thiago Duarte.

Para o político, o valor, que é parte dos R$ 260,8 milhões repassados ao Rio Grande do Sul pelo Ministério da Saúde, deve ser utilizado para reinstalar os hospitais desativados na capital.

O parlamentar ainda sugere que os R$ 700 mil investidos em um hospital de campanha podem ser empregados em recursos humanos e em medicamentos nos hospitais citados para que eles voltem a operar com quase 600 leitos.

Doutor Thiago não está praticando o isolamento, pois continua exercendo a medicina em comunidades do extremo sul de Porto Alegre, como Restinga, Belém Novo, Ponta Grossa, Lami e Lageado. Em sua jornada de parlamentar, destaca que encaminhou junto à Assembleia Legislativa um projeto para reduzir as mensalidades das escolas particulares durante a crise.

Quarentena para a defesa da vida

Postura diferente foi adotada pela deputada estadual Juliana Brizola (PDT), que está em casa com os dois filhos— um de cinco e outro de dez anos — e o marido, que é o único a sair para atividades essenciais, como ir ao supermercado. Juliana conta que sua rotina inclui cuidar da casa, cozinhar e auxiliar as crianças nas atividades escolares, além das diversas reuniões remotas com deputados e com o governador Eduardo Leite. Já o contato com a população tem sido através das suas redes sociais.

No dia 19 de março, quando o Estado decretou situação de calamidade pública, a Assembléia Legislativa suspendeu as sessões plenárias e reuniões de comissões , adiando a tramitação de projetos que estavam aptos a ir a plenário.

Segundo a parlamentar, a mesa diretora da casa definiu que os deputados apenas apreciariam projetos sobre o coronavírus oriundos do Poder Executivo. “Então, a gente enviou várias sugestões ao governador a título de sugestão, como o caso do Banrisul ter um olhar especial para os servidores públicos, que estão recebendo os salários parcelados há quatro anos, e isso aconteceu”, conta.

Na semana passada, os deputados foram liberados para apresentar projetos novamente, com a exigência destes serem apenas sobre o coronavírus. Juliana conta que apresentou uma proposta sobre o combate às fake news e outra para que a TVE seja utilizada na transmissão de aulas para os alunos da rede pública, que estão sem atividades há mais de 40 dias.

A parlamentar ressalta que acredita muito na eficácia do isolamento social.

“O foco tem que ser em tudo que a gente puder fazer para defender a vida neste momento. É preciso algum sacrifício para isso, não tenha dúvida, mas é muito importante que a gente tenha clara a questão humana”, defende Juliana.

Sobre um possível adiamento das próximas eleições , a deputada diz que não tem pensado sobre o assunto, embora muitas pessoas perguntem a sua opinião.

Igual importância para saúde e economia

Já o deputado estadual Sebastião Melo (MDB) acredita que as eleições vão acontecer na data prevista ou serão adiadas para novembro, com o segundo turno em dezembro. “A não ser que haja um surto gravíssimo”, diz Melo.

Para ele, os políticos que vão ter que mudar o costume presencial de fazer campanha, afinal, o parlamentar é contrário à prorrogação de mandato. “Acho que é abrir um precedente muito ruim no momento em que a democracia brasileira é questionada por parte da sociedade”, opina.

Em relação à rotina de trabalho, Melo conta que tem ido ao gabinete semanalmente e, nos outros dias, despacha em casa. As outras agendas presenciais foram canceladas e ele tem usado as ferramentas disponíveis para entrar em contato com a população. “O que mudamos é o modus operandi. Continuamos fazendo a mesma coisa, só que de outra forma”, afirma.

O deputado, que preside a Comissão de Economia na Assembleia, diz que tem participado de reuniões normalmente. “As atividades aqui têm sido intensas. A gente tem que decidir em qual das comissões vamos participar”, conta.

Quanto às causas que devem ser prioridade no momento de pandemia, Melo afirma que continua sendo favorável ao isolamento social, mas defende uma abertura gradativa das atividades econômicas.

Para o parlamentar, os municípios precisam responder a esta questão junto com a ciência e o bom senso.

“As cidades não conseguem ficar fechadas tanto tempo. Então, essa falsa discussão entre economia e saúde tem que acabar. As duas coisas são importantes”, acredita Melo.

Sebastião Melo e Juliana Brizola optaram por não comentar especificamente sobre as ações do Executivo municipal de Porto Alegre, ao qual podem concorrer no próximo pleito.

Foco em respiradores e alimentos

O vereador de Porto Alegre Valter Nagelstein (PSD), que gerou polêmica após postar um vídeo sobre a Covid-19, também é apontado como pré-candidato às eleições municipais. O político conta que tem permanecido em casa, exceto para saídas que considera necessárias e para ações do Cesta Solidária, projeto de crowdfunding para doação de alimentos que tem engajado diversas personalidades gaúchas.

O político, que preferiu não opinar sobre um possível adiamento das eleições de 2020, afirma que a comunicação com a população tem sido como sempre, principalmente através das redes sociais.

Para Nagelstein, o foco da atual do governo deve estar na garantia de equipamentos para a saúde, nos alimentos para quem precisa e na retomada da economia, questões que aborda ao falar das medidas tomadas até agora pela administração municipal com relação à pandemia.

“Elogio a cautela, mas critico a falta de compra de respiradores, de uma política de auxílio alimentar aos mais necessitados e, mais recentemente, o equivocado rompimento com a rede de assistência social do município”, opina.

Desde o início da crise, o vereador conta que atuou em três projetos de lei: um que buscava isentar endereços comerciais de IPTU, outro em conjunto com cinco vereadores para a retomada das atividades econômicas e um terceiro sobre uso de máscaras no transporte coletivo e espaços públicos.

Apesar de responder às questões encaminhadas pela reportagem, o vereador preferiu não enviar um vídeo — como as demais fontes. A ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) e deputada estadual Any Ortiz (CIDADANIA), também apontadas como pré-candidatas à prefeitura de Porto Alegre, foram contatas pela Beta Redação, mas não responderam os questionamentos até o fechamento da edição.

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Luana Rosales
Redação Beta

Escrevo, aprendo, viajo, logo existo. Não necessariamente nessa ordem.