Partidos trocam de nome em estratégia de rebranding para as eleições 2018

Com propostas de renovação, siglas adotaram slogans para conquistar o voto nas urnas

Mariana Blauth
Redação Beta
5 min readAug 24, 2017

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Eleitores precisam ficar atentos às mudanças dos nomes dos partidos para as próximas eleições. Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

Em uma tentativa de se desassociar da crise política e atrair votos nas eleições 2018, partidos investem na mudança de suas siglas. Elas são substituídas por slogans, no intuito de representar o desejo de mudança que é demonstrado pela população brasileira. A estratégia pode ser vista como um processo de rebrandinguma reformulação de marca.

Nessa mudança, as siglas retiram a palavra “partido”, uma vez que o grau de desconfiança a esse tipo de instituição decai a cada ano entre os cidadãos. Ao menos oito legendas apostam nisso. Por enquanto, a única mudança autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é do PTN, que virou Podemos.

Para que, de fato, as novas denominações estejam válidas nas eleições do ano que vem, os partidos precisam formalizar o pedido ao TSE até o dia 5 de outubro.

Com requerimento encaminhado ao tribunal, o PTdoB será Avante, e o PSDC, Democracia Cristã. Há outros que adotarão slogans, mas ainda não fizeram a solicitação. O PEN pretende mudar para Patriota; o PP, para Progressistas; o PSL, para Livres. Ainda sob análise, o DEM considera se tornar Mude.

Partidos já utilizam slogans nas redes sociais. Foto: Reprodução/Facebook

O PMDB não fica de fora. O partido está em destaque no cenário da crise devido ao envolvimento de nomes importantes em casos de corrupção, entre eles Michel Temer. A proposta, que será votada na convenção nacional do grupo, é que ele seja MDB (Movimento Democrático Brasileiro). É a mesma sigla que utilizava em sua fundação, na época da ditadura militar.

Na semana passada, o presidente nacional do partido, Romero Jucá, defendeu que não é uma estratégia para se esconder. “Estamos resgatando nossa memória histórica. Queremos realmente ganhar as ruas”, disse.

Entretanto, a estratégia é batida, segundo especialistas. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS, Silvana Krause aponta que a mudança de nome não garante inovação, pois é apenas uma reação tradicional em momentos de impasse na política. Para João Silvestre, assessor de imprensa na área política com experiência em campanhas eleitorais, o que muda é apenas a marca.

Apesar disso, Fernando Vieira, consultor de marketing político do Podemos, afirma que a reposição da sigla PTN não foi uma transição de marca. “É mais do que uma mudança de nome, é a refundação do partido. Trata-se do resultado de um estudo de dois anos, envolvendo profissionais de comunicação, marketing e ciência política”, defende.

Segundo ele, o slogan é inspirado no partido espanhol que leva o mesmo nome, apesar de os dois terem ideologias distintas. O intuito era encontrar uma palavra que representasse os anseios e o novo posicionamento do partido.

O objetivo é atualização. Não dá para fazer política no século 21 com uma bandeira do século 19. Precisávamos de um conceito que se encaixasse no momento atual, especialmente porque o ganho tecnológico permite que a democracia seja feita de diversas formas”, explica.

Vieira considera a mudança como uma construção, um começo. “É um novo partido, sem criar uma sigla, apenas aproveitando o ‘PTN’. Nesse momento, era preciso mudar, não apenas ajustar”, afirma.

A lógica da mudança de nome

Krause aponta que a troca da sigla dos partidos é uma tradição enraizada no Brasil. Entretanto, para ela, os grupos e oligarquias continuam os mesmos. Portanto, é um fenômeno que se repete na política do país — o que já ocorria até mesmo antes da democratização.

“Trata-se de uma estratégia muito simples de mudar a mercadoria, quando, na verdade, ela continua a mesma. Creio que isso não vai pegar muito, não vejo uma boa saída para os partidos”, considera.

Para Silvestre, a troca de nome das legendas obedece à lógica do fundo do poço. “A agremiação alcança um nível tão elevado de rejeição que seus líderes optam simplesmente por mudar a marca, sem jamais se preocuparem em mudar o conteúdo ou a prática política e discursiva”, reflete.

Silvestre pontua dois casos. O primeiro é o extinto PDS, que originou fusões partidárias — por isso também já se chamou PPR e PPB. Agora, a legenda leva a denominação PP, mas considera ser Progressistas. Para o assessor, as mudanças ocorreram para fugir do estigma de partido substituto da ARENA, que sustentou a ditadura militar.

O segundo caso é o PFL, que virou Democratas. Silvestre atrela essa mudança aos altos índices de popularidade de Lula e à chegada do PT ao poder em 2003. Para ele, o PFL se sentiu obrigado a mudar quando começou a ter poucos votos, uma vez que era a marca mais conservadora de oposição ao PT.

Na avaliação de Silvestre, esses dois exemplos demonstram que a mudança de nomes de partidos ocorre mais para eles se livrarem de uma situação incômoda do que para se apresentarem, de fato, como uma novidade.

“Agora, isso está acontecendo de novo. Como a política está muito desgastada e a maioria dos partidos está envolvida em casos de corrupção, está na moda tirar a letra P da legenda e apresentar slogans”, conclui. Para tornar a mudança mais suave aos eleitores, Silvestre pontua que, muitas vezes, a estratégia de comunicação utilizada está centrada no projeto da liderança mais expressiva do partido.

No caso do Podemos, Vieira diz que o foco da comunicação foi, inicialmente, o público interno do partido, com o objetivo de mostrar que havia uma mudança na sua base ideológica. No entanto, ele afirma que a estratégia vai além de peças midiáticas, incluindo postura e ações. “O posicionamento político passa uma mensagem. Um gesto vale mais que o falatório”, pondera o consultor.

Partidos: uma peça desconsiderada pelo eleitor

O momento conturbado vivenciado no Brasil abre questionamentos sobre o papel dos partidos na política. Na Câmara, por exemplo, discute-se a reforma política, incluindo medidas como o distritão, que altera a forma como os eleitores votam em deputados. Em paralelo a isso, os partidos tentam trocar suas legendas com a promessa de renovação.

Entretanto, segundo Krause, observando a tradição do eleitorado, percebe-se que os brasileiros não votam em partidos, mas em candidatos específicos. “Isso vem da época da monarquia. O eleitor só votou em partidos em alguns momentos de exceção na história política, pois existe uma rejeição em relação a eles pela cultura brasileira”, pontua.

A partir de pesquisas, é possível perceber que os brasileiros rejeitam cada vez mais os partidos. O índice de pessoas que não confiam neles aumentou 17% em cinco anos, de acordo com o Instituto Datafolha.

Para Krause, o que menos aparece nas campanhas é o slogan do partido, que passa a servir como mero instrumento. Na visão dela, o sistema eleitoral brasileiro reforça uma cultura personalista, em que a população não tem apreço pelas instituições.

“O eleitor da classe média vota em pessoas, achando que está fazendo um grande ‘achado’, quando, na verdade, isso está enraizado na cultura. Os partidos não tiveram papel fundamental nos momentos mais desafiadores do sistema político brasileiro. No máximo, foram coadjuvantes”, salienta a professora.

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