Frida Kahlo, uma revolução artística

Espetáculo encena há nove anos a história da pintora mexicana

Paula Câmara Ferreira
Redação Beta
4 min readJun 29, 2018

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Cores fortes e trilha sonora tocada ao vivo são as marcas registradas do espetáculo. (Foto: Arquivo Pessoal/Adriana Marchiori)

O palco do teatro está escuro. As pessoas na plateia conversam quando uma luz acende e revela a personagem Frida Kahlo, interpretada pela atriz e dramaturga Juçara Gaspar, sentada em uma cadeira de rodas. As vozes do público se calam. Nesse momento, a protagonista começa a contar sua história. Assim se inicia mais uma apresentação da obra Frida Kahlo: À Revolução, que há nove anos roda o Brasil com a trajetória deste ícone da arte do século XX.

Escrita por Juçara, a peça tem duração de aproximadamente 60 minutos e conta com um figurino colorido e uma trilha sonora inédita — feita especialmente para a produção e executada ao vivo. Para a atriz, o espetáculo segue conquistando novos fãs porque se renova a cada temporada. “Ver essa montagem, gerada com tanto apreço e adolescendo e sem data para estancar, é uma alegria constante e plena! Os profissionais que iniciaram a peça seguem juntos e fortes. Essa é outra dádiva. Além disso, tem o tema Frida Kahlo, que é inspirador e nunca tem fim”, afirma.

“Meus camaradas, isso é a revolução”

O roteiro começou a ser escrito em 2007, para cumprir o exercício de um curso de extensão na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas só foi finalizado em 2009. Para tal, teve a parceria de Luciano Alves, responsável pela trilha sonora da obra, e de Lara Coletti, cenógrafa da produção.

Emponderamento feminino e força são retratados no espetáculo. (Foto: Arquivo Pessoal Juçara/Reprodução Facebook)

“Lembro de não ficar a vontade com a obra dela, num primeiro momento. Mas, eu já tinha esse ímpeto de falar sobre mulheres, de contar histórias e documentá-las. Não foi fácil fazer algo solo depois de viver quatro anos com um grupo numeroso, que compartilhava a mesa, a oficina de figurino e as encenações”, explica Juçara. E perguntava-se, na época, antes de se aventurar pela produção solitária: “Criar dramaturgia e atuar sozinha? Sem grupo? Não há como fazer nada sozinha no teatro. Eu pelo menos não sei”.

Para a atriz, interpretar a artista por tantos anos foi uma oportunidade de troca de experiências com outros profissionais, festivais e cidades. “Experienciar e conhecer um pouco do poderio dessa força da natureza que é a Frida Kahlo, sua obra e vida é um prazer e uma honra”, diz.

Com mais de 20 anos de carreira, Juçara acredita no amadurecimento profissional que resulta em um aperfeiçoamento da técnica e da personagem. “Chega uma uma hora que você consegue se livrar de pequenas formas que usava — às vezes porque te eram comuns ou te davam segurança — para experimentar outras. Eu, como atriz, encontro a personagem com essa vivência atravessada em meu corpo, em minha voz, em meu espírito, sempre. Por isso nossa Frida nunca é a mesma”, conclui.

Durante o espetáculo, em certas cenas, a personagem interage com o público. (Arquivo Pessoal Juçara/Dona Mariana Fotografia)

O diretor do espetáculo, Daniel Colin, conta que no início pensou em recusar o trabalho, pois não se identificava muito com encenações de biografias. “Enquanto Juçara me fazia o convite, eu folheava um livro sobre a vida da Frida e descobri que ela havia nascido no mesmo dia que eu, em 6 de julho. Olhei aquilo e pensei: ‘isso só pode ser um sinal’. E aceitei a proposta imediatamente! Hoje, depois de quase nove anos, percebo que realmente era um sinal!”, empolga-se.

Para Colin, na peça sobre Frida não se aplica a antiga tradição do teatro de que, quando um espetáculo estreia, ele está pronto e não precisa mais ser modificado. “Aprendi logo cedo que o Frida Kahlo, à Revolução necessitava de uma reestruturada orgânica a cada virada de ciclo, como se a peça precisasse amadurecer em consonância com o nosso amadurecimento pessoal, individual e profissional dentro da equipe”, justifica.

Sem fronteiras

A história de Frida, contada por Juçara, conquistou espaço em solo internacional e foi levada para o México, em 2015, viabilizada por um edital do Ministério da Cultura. “Foram trinta dias de imersão e aprofundamento da pesquisa em solo mexicano, percorrendo os passos de Frida, além de três apresentações. Passamos pelo Instituto Brasileiro de Cultura, pela Universidad Autónoma Metropolitana e pelo Museo Nacional de Arte. Os atravessamentos foram tantos que reverberaram no figurino, na trilha e na dramaturgia da peça”, relata a atriz.

Em 2017, o espetáculo saiu em turnê de 22 dias pela Argentina. “Foram sete apresentações em cinco diferentes províncias, teatros e com equipamentos de todos os tipos, tamanhos e qualidades. A viagem nos instrumentalizou quanto aos trâmites de logística e legislação de venda de trabalho artístico para o exterior, além de tantos outros aprendizados”, relembra.

Em agosto deste ano, a peça teatral completará nove anos e, para comemorar a data, ocorrerá uma apresentação no Teatro do Centro Cultural Santa Casa, entre 30 de agosto e 2 de setembro. Além disso, também seguirá com a possibilidade de novas apresentações pela Argentina, no próximo semestre.

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Paula Câmara Ferreira
Redação Beta

Estudante de Jornalismo. 25 anos. Apaixonada por: animais, livros, música e séries.