Pensando o presente com Maio de 1968

50 anos após o início do movimento estudantil que tomou conta da França, Cinemateca Capitólio de Porto Alegre relaciona contexto francês ao brasileiro

Milena Riboli
Redação Beta
4 min readMay 18, 2018

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A Revolução de Maio de 68 pode parecer distante e, pelo menos à primeira vista, desconjuntada de qualquer vivência que se aproxime dos brasileiros, seja nas artes, na política ou na cultura, de modo geral. Mas são justamente essas aproximações entre realidades que o Ministério da Cultura e a Aliança Francesa de Porto Alegre apresentam com o “Débats d’idées”, ou “Debates de ideias”, em português.

Fotos da exposição “Au coeur de mai 68” (no coração de Maio de 68), que traz retratos da época do movimento francês, recebia os participantes no espaço da Cinemateca Capitólio Petrobrás. O evento ocorreu no último sábado (12) e logo na entrada era possível conferir imagens de como tudo começou. Protestos organizados por estudantes, para melhorias na educação, deram início à luta. Depois, o movimento evoluiu para uma greve de trabalhadores, sendo a maior que a Europa já teve, com cerca de 9 milhões de participantes.

Algumas das fotos presentes na exposição: as três primeiras mostram manifestantes que participaram dos protestos em maio de 1968, e as três últimas mostram intervenções feitas pelos manifestantes em propagandas e similares. (Fotos: Milena Riboli/Beta Redação)

Na sequência, todos foram convidados para ir até a sala de cinema. O local mantém as características originais, com uma pequena diferença na disposição da plateia, agora em formato “estádio”, o que facilita a visualização para todos. Lá, foi exibido o filme Acéphale, de Patrick Deval, gravado em 1968. Um tanto quanto perturbador e confuso, o longa mostra a realidade de vários jovens da época, enfrentando problemas como a depressão, isolamento e desesperança.

Imagens da sala de exibição do Cinema Capitólio, antes da exibição do filme. (Fotos: Milena Riboli/Beta Redação)

Após a exibição da obra de Deval, um debate foi mediado pelo jornalista cultural Roger Lerina. Como convidados, Michael Chapman, ex-integrante do grupo Zanzibar Films (que produziu Acéphale), atualmente professor da Universidade Federal do Rio Grande, e Renato Coelho, pesquisador, professor e realizador audiovisual. No debate aberto aos convidados, que praticamente lotaram a sala de cinema, diversas perguntas foram feitas.

Para Roger Lerina, há uma emergência de jovens artistas se manifestando tanto artística, quanto política e socialmente no Brasil da atualidade. Segundo ele, os coletivos também estão pululando, assim como surgiam vários naquela época, mas, ao mesmo tempo, há uma espécie de “ressaca”, de reavaliação, feita por seus protagonistas.

“A gente é levado a traçar paralelos entre a época que vivemos e aquele tempo, pois vivemos uma época de conservadorismo no mundo inteiro, guerras e pautas de direita, fascistas, que estão novamente presentes no dia a dia, ganhando cada vez mais espaço”, exemplifica o jornalista Roger Lerina.

Michael Chapman vê como uma das principais diferenças da atualidade para o momento vivido pela França a falta de companheirismo entre as pessoas, o que ele atribui à era do digital. “Obviamente tudo é mais fácil e mais rápido, mas falta também a parte humana, do contato.”

Apesar de não ter participado daquela época em específico, diferentemente de Michael, Renato Coelho considera que com a internet e as mídias sociais se tem uma ilusão de estar politicamente engajado. Para ele, são poucas as pessoas que de fato se engajam: “Hoje em dia você curte, comenta e fica com a sensação de estar de fato fazendo algo”, pontua.

Para Juliana Costa, 36 anos, e os amigos Pedro Juan, 30, e Mariani Pessoa, 22, o Cinema Capitólio já um ponto de encontro. Estudantes do cinema e das artes, eles acreditam que todo tipo de debate seja válido, e que o maio de 68 foi vivido de diversas maneiras. Destoando um pouco do pensamento de Renato Coelho, para eles, os sites de redes sociais podem ajudar a impulsionar ainda mais os movimentos políticos, que vieram a ganhar, e muito, com estes espaços.

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Milena Riboli
Redação Beta

Estudante de Jornalismo, quase formada, entusiasta de Fotografia e Gastronomia. Apaixonada por música e gatos. E segue.