Foto: Marri Nogueira/Agência Senado

Perspectivas para as eleições 2018

As possibilidades do futuro cenário político brasileiro após a prisão de Lula

Vanessa Souza
Redação Beta
Published in
4 min readApr 11, 2018

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Colaboração: Lidiane Menezes e Stephany Foscarini

O que podemos esperar das eleições de outubro após a prisão do ex-presidente Lula, decretada pelo juiz Sergio Moro na última quinta-feira (5) e cumprida no sábado (7)? Os cientistas políticos Bruno Lima Rocha, professor dos cursos de Jornalismo e Relações Internacionais da Unisinos, e Benedito Tadeu César, professor da UFRGS e integrante do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito, ouvidos pela Beta Redação ainda na sexta-feira (6), discorrem sobre as possíveis transformações no cenário político brasileiro e suas consequências na campanha eleitoral deste ano.

“Nós estamos no terreno do imponderável”, afirma Rocha, “e o terreno do imponderável, na tradição brasileira, é aquele em que se quebrou a hierarquia funcional e, ao mesmo tempo, rompeu-se com as tradições mais ou menos pactuadas com a Constituição de 1988”. César também é enfático ao dizer que o momento é conturbado e acredita que as certezas seriam prematuras: “Está tudo tão dúbio e etéreo que a gente não sabe o que pode acontecer”.

Embora o cenário seja nebuloso, é possível formular algumas hipóteses. Ambos acreditam que as eleições de 2018 serão profundamente afetadas pelos últimos acontecimentos. Mesmo com a prisão, o nome de Lula terá um peso relevante durante a campanha, uma vez que o eleitorado do ex-presidente é muito grande, ultrapassando o do próprio Partido dos Trabalhadores (PT).

“Poderia ser uma eleição mais tranquila sem o Lula, mas agora será mais intranquila sem ele. Porque ele vai estar em uma situação insegura, estará preso ou solto com liminar, ou ainda, poderá estar preso e ser feita a campanha em cima do fato de termos um ex-presidente preso”, diz Rocha.

César atenta para o fato de que ainda não se tem um candidato relevante para representar a posição do centro até a direita não radical, e isso deixa as coisas ainda mais incertas. Nas pesquisas, quem tem aparecido com favoritismo são Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSL/RJ), os dois representando extremos.

“E isso que eu chamo de centro nunca conseguiu ganhar as eleições no Brasil. As únicas vezes que esse chamado centro ganhou as eleições no país foi com o Jânio Quadros e Fernando Collor, que não eram de centro mas foram apoiados por movimentos de centro — e os dois não conseguiram governar por muito tempo — , e tem o Fernando Henrique Cardoso. Mas nenhum deles conseguiria se eleger, hoje, com as bandeiras que defendem”, afirma o César.

No último levantamento divulgado pela Datafolha em dia 31 de janeiro, Lula lidera com 37% das intenções de votos, seguido por Bolsonaro, com 16%. A pesquisa ainda diz que, sem Lula, até um terço dos brasileiros dispensa candidaturas e abraça o voto nulo, mas que “uma fatia de 27% da população votaria com certeza em alguém apoiado pelo petista, percentual suficiente para levar uma candidatura ao segundo turno da eleição presidencial, já que supera o obtido por outros candidatos nos cenários testados em que o nome do petista é excluído da lista de candidatos. Há ainda 17% que talvez votassem em um candidato que tivesse o apoio de Lula”.

No entanto, César diz que a possibilidade do crescimento de Bolsonaro nos próximos meses deve ser considerada. Como também é possível que Lula, devido às proporções que o mandado de prisão tomou e as reações com relação a ele (tanto do próprio Lula, quanto das pessoas), ganhe ainda mais influência.

“O quadro que temos hoje, mesmo com o Lula sendo preso e impedido de participar das eleições, continua parecido. Temos o Bolsonaro e, possivelmente, um nome que Lula indicar ou apoiar, com perspectivas de maior crescimento. O Lula e o PT ainda não estão fora do jogo. Provavelmente eles indiquem alguém do próprio partido, mas há a possibilidade de apoiarem um candidato de esquerda, como a Manuela (D’Ávila, pré-candidata pelo PCdoB) ou o Boulos (pré-candidato pelo PSOL), e tem ainda o Celso Amorim, que é uma possibilidade. Acredito que o Lula vá tentar esticar ao máximo sua campanha e indicar alguém nos 45 minutos do segundo tempo, o qual será extremamente competitivo”, afirma César.

A visão de Rocha é parecida. Para ele, “existe a chance de subir um aventureiro para o segundo turno. Seja o empresário Flávio Rocha, que em tese é apoiado pela Igreja Universal, seja o capitão Jair Bolsonaro, apoiado pela Assembleia de Deus. Será um clima de guerra fria, sem guerra fria”.

Os dois especialistas não descartam a possibilidade de as eleições não acontecerem. César acredita nisso por não haver, em sua visão, um candidato forte que seja confiável às elites econômicas. “E eu acho que é por isso que tem tantos nomes sendo cogitados e como pré-candidatos”, pontua.

Para Rocha, o que nos espera são momentos ainda mais conturbados e obscuros na política brasileira, não sendo descartado até mesmo embates físicos entre alguns militantes mais exaltados.

“Além disso, o bombardeio das chamadas fake news e outras estratégias de uso das redes sociais também será bastante acentuado nas eleições. Tendo eleição, será uma eleição muito dura, com alguns aspectos de conflito físico. Será preciso muito policiamento para evitar o encontro de grupos em comícios. E a campanha será violentíssima pela internet”, finaliza.

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