Pinóquio para todas as idades

Peça teatral em Gravataí diverte e emociona no Teatro do Sesc

Milene Magnus
Redação Beta
4 min readOct 27, 2017

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Francesco (David Vilanova), Grilo (Juliano Bitencourt), Pinóquio (Paulo Adriane), Geppetto (Vitor Santantônio), Gato (Israel Rosa) e Raposa (Clarissa Siste). (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Ao apagar das luzes, Geppetto dava algumas marteladas sobre o pedaço de madeira na estreia de As aventuras e desventuras de Pinóquio no último sábado (21) no Teatro do Sesc, em Gravataí. Em sua maior bilheteria do ano, o Sesc preencheu 540 poltronas com pessoas de todos os gêneros e idades.

Pouco mais de três meses foram necessários para a preparação da peça. A Companhia de Atores Independentes de Gravataí optou por uma obra infantil lúdica. “Muitas tinham pensamentos predeterminados da sociedade, muitas eram machistas, racistas, preconceituosas. Queríamos fugir disso”, conta Marlise Damin, diretora da peça. Pinóquio, então, foi escolhido para ser montada pela companhia, que ainda tinha Mágico de Óz e Alice no País das Maravilhas como opções.

Criada em 1882, na Itália, a história de Pinóquio foi inventada por Carlo Collodi, jornalista e escritor italiano, enquanto o país enfrentava uma crise social e política. “Estudei a fundo o por trás da criação e vi que as situações da Itália naquela época e do Brasil atualmente são semelhantes, por isso, acho que é importante trazer os valores do Pinóquio para o público”, declara Marlise, explicando ainda que buscou a história original do boneco de madeira para deixar de lado a fantasia inserida pelos filmes da Disney.

Com três ou quatro reuniões por mês, a companhia conseguia, com encaixes de horários, realizar os ensaios para a plenitude da peça. “Foram tempos de muita dedicação com todos os envolvidos”, diz Paulo Adriane, que interpreta o personagem título no espetáculo. Envolvendo 12 pessoas, entre atores e colaboradores, a adaptação foi escrita por Ane Minuzzo, com músicas exclusivamente compostas por Marcão Acosta.

Atores em preparação para a abertura do espetáculo. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Espetáculo

Ao longo da tarde, a preparação dos personagens era feita em meio a cantorias e muita expectativa. Enquanto o nariz de Geppetto ainda não era pintado, Pinóquio já vestia a blusa vermelha listrada e ensaiava os últimos passos. A simplicidade da peça pôde ser detectada na construção dos próprios personagens: as pinturas faciais não perderam espaço para as fantasias. Na mesma linha, o cenário é uma uma casa que vira circo em apenas uma volta.

“Buscamos trazer o singelo e a poesia, que está em falta nas peças infantis de hoje me dia” — Paulo Adriane, intérprete do boneco de madeira.

Com a pretensão de atingir crianças e adultos, o grupo interagia com a plateia durante a peça, que tinha muitas cores e falas galhofeiras. “Nós queríamos apresentar o lúdico, fazer um teatro infantil de raiz”, conta Vitor Santantônio, que deu vida a Geppetto e Stromboli — dono do circo presente na história. A expectativa da companhia foi atingida: as risadas ouvidas mostravam que todos da plateia gostavam do que assistiam.

“Só o amor pode nos salvar, Pinóquio”

A história apresentada seguiu à risca o enredo original. Geppetto idealizava a paternidade e com o “milagre do coração” era acordado pelo boneco de madeira falante. Pinóquio, então, tinha uma sequência de desobediências ao pai que o levaram a enrascadas —o que deixou algumas das crianças da plateia boquiabertas.

Pinóquio, depois de mentir e fazer seu nariz crescer, é engolido, junto a seu pai, por uma baleia — que surgiu em meio à plateia, assustando alguns pequenos. Logo, Pinóquio volta a ser apenas um boneco de madeira e Geppetto, inconsolável, volta para casa. Após uma longa noite de choro e tristeza, o “milagre do amor” torna o boneco de madeira um menino de carne e osso. Era, então, o filho do marceneiro.

A narrativa da história fez crianças e adultos se emocionarem e aplaudirem o espetáculo, recheado de metáforas e ensinamentos. Os pequenos tinham a chance de entender, por meio das falas, que confiar em seus pais era o caminho certo para o bem-estar de todos. Os adultos, por sua vez, trariam os conselhos para a vida.

Frequentadora assídua de teatro, Zeli Bitelo, 68 anos, acompanhou a peça e se manteve na plateia até os atores se encaminharem para o local das fotos com o público. “É para todas as idades”, diz. Bruno Gomes Otília, 29 anos, levou os filhos Maria e Pedro, de 7 e 4 anos respectivamente. Ele ressaltou a importância da cultura na construção do caráter das pessoas.

“Aqui eles precisam de uma atenção mais concentrada por causa do ‘ao vivo’, isso faz com que o teatro seja mais palpável do que um vídeo no celular ou um desenho na televisão” — Bruno Gomes Otília, espectador da peça.

Depois da apresentação no teatro do Sesc, a peça deve ser realizada em outros locais em 2018, de acordo com a diretora Marlise, que imagina uma “vida longa a Pinóquio”.

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Milene Magnus
Redação Beta

Jornalista formada pela Unisinos. Apaixonada por contar histórias, por esportes, por moda.