Cidades gaúchas estão entre as 10 que mais matam mulheres no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, São Leopoldo e Canoas são líderes de feminicídio no Estado

Mainara Torcheto
Redação Beta
5 min readNov 7, 2017

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Por Mainara Torcheto e Rafael Erthal

Entre 2016 e 2017, foram registrados 140 casos de “feminicídio consumado” no estado gaúcho, sendo 65 ocorrências no ano vigente e 75 no ano passado, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Stela Meneghel, professora do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma em entrevista concedida ao portal G1 que o feminicídio é a morte de uma mulher devido à sua condição de ser mulher, mas complementa: “Não se pode considerar como feminicídio somente os assassinatos de mulheres cometidos pelos companheiros. Subestima a estatística real”.

(Fonte: Agência Patrícia Galvão)

Ações

O Rio Grande do Sul tem delegacias especializadas de atendimento à mulher desde 1998. Hoje, o total soma 22. Diferentemente do que ocorre em uma delegacia comum, o ideal é que os atendentes desses locais tratem os casos de vulneráveis de modo acolhedor e mais humanizado.

(Fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres — SPM)

A terceira cidade na colocação de cidades que mais matam mulheres de forma violenta do Brasil é Canoas (RS). O município conta com o CRM, o Centro de Referência para Mulheres, desde 2011. Em seu site oficial, a prefeitura de Canoas declarou que, a partir de outubro, o município poderia contar com o projeto Plantão Lilás. Conforme descrito na internet, o objetivo é oferecer um “espaço de atendimento privativo e seguro às mulheres para registro de ocorrências e denúncias”, de modo que o ambiente seja propício para tal ato e a vítima se sinta o menos constrangida possível. Explica-se que existem práticas promovidas pela Coordenadoria Municipal de Políticas para a Mulher e pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) que buscam humanizar e sensibilizar ainda mais aqueles que fazem os atendimentos às denúncias de violência doméstica e familiar. “Isso é primordial para a correta orientação à vítima e o encaminhamento da ocorrência à resolução do caso”, disse, em entrevista para o portal, o diretor da Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (2ª DPRM), delegado Fernando Soares.

O Plantão Lilás está instalado junto à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Canoas e atende de segunda a sexta-feira, das 17h às 8h, mantendo atendimento 24h nos finais de semana.

Medidas

O Centro de Referência para Mulheres de Canoas, em contrapartida, não concorda com os dados do Ministério da Saúde, alegando que a cidade não estaria nesse ranking. “Recebemos a informação publicada pelo jornal El País, com base no Ministério da Saúde, de que consta Canoas como uma das cidades com mais feminicídio no país. Porém, esses dados não batem com os informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado SSP-RS. Semana que vem, faremos uma reunião junto à SSP-RS e a Delegacia de Atendimento à Mulher, de Canoas, para averiguar e estudar essa situação”, diz Renata Jardim, Coordenadora Técnica do CRM Patrícia Esber, de Canoas.

Recentemente, Edna Aparecida Gmeiner, 49, foi encontrada morta em um matagal de Canoas. A morte violenta foi consumada com 12 tiros, e ainda não há confirmação do autor do crime. Outro caso de feminicídio identificado na cidade ocorreu no dia 10 de outubro, quando Jeizebel da Silva também foi morta a tiros em frente a um bar da cidade.

A situação em São Leopoldo (RS) é mais complicada. A cidade ainda não possui uma DEAM. Sendo assim, todos os casos de violência contra a mulher são atendidos pela Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar. A cidade do Vale do Sinos está em 10º lugar no ranking de feminicídio, segundo o Ministério da Saúde. Mas, assim como a cidade de Canoas, a secretária de Políticas para Mulheres de São Leopoldo, Danusa Alhandra, afirma que esse dado não está correto. “Nós, enquanto gestão pública, temos que pensar em estratégias, começando pelo seguinte ponto: ter instrumentos de tabulação de dados que dialoguem com as informações do Estado, município e país, uma vez que vemos contradições no que é divulgado”, ressalta Danusa.

Débora Elisangela Farias virou estatística em São Leopoldo. Ela foi morta a golpes de facão, apresentando pelo menos 20 marcas espalhadas pelo corpo. Segundo investigações, a ordem de execução partiu de dentro de uma penitenciária em Charqueadas e foi praticada por dois menores de idade. O caso foi investigado por Rodrigo Zucco, delegado da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) de São Leopoldo.

Segundo Danusa, é importante ter uma delegacia especializada em atendimento às mulheres vítimas de violência, com servidores capacitados e com instrumentos para que se possa construir indicadores para um melhor planejamento de ações de combate à violência contra a mulher. “Tudo isso só será possível a partir de um comprometimento da União e do Estado com investimentos nas políticas de combate à violência”, complementa Danusa.

Apoio

Em Canoas:
-Coordenadoria de Políticas para a Mulher (Telefone: 3463 5794)
-Mulheres da Paz Mathias Velho (Telefone: 3476 4582)
-Mulheres da Paz Guajuviras (Telefone: 3429 2599)
-Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher — DEAM (Telefones: 3472 0494 e 3472 0490)
-Centro de Referência para Mulheres em Situação de Violência Patrícia Esber CRM (Telefone: 3464 0706)
-Patrulha Maria da Penha — Brigada Militar (Telefone: 190)
-Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Telefone: 3476 3590)

Em São Leopoldo:
-Patrulha Maria da Penha — Brigada Militar (Telefone: 190)

Em casos de inexistência de uma delegacia especializada, disque 180 (Secretaria de Políticas para as Mulheres) e denuncie! Para outras regiões do Estado, acesse a página específica sobre violência contra a mulher da Polícia Civil.

(Fonte: Secretaria de Políticas para as Mulheres — SPM)

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