Práticas circenses unem arte e entretenimento

Seja na ginástica artística ou nas artes aéreas, atividades físicas inspiradas no circo fazem sucesso

Henrique Tedesco
Redação Beta
6 min readDec 6, 2021

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Por Henrique Tedesco e Matheus Ramos

Pedro Menezes durante animação em uma festa. (Foto: Arquivo Pessoal/Pedro Menezes)

O circo tem um importante papel cultural, mas, além disso, explora atividades físicas em seus espetáculos. As possibilidades são inúmeros e englobam a lira, os tecidos acrobáticos, a ginástica artística e, até mesmo, o pole dance. Desse modo, nos últimos anos profissionais de origem circense e, até mesmo aqueles que não tinham vínculo com o ambiente, passaram a assistir aos espetáculos com um outro olhar, trazendo os exercícios para um novo contexto. Assim nasceram escolas com objetivo de ensinar as artes circenses com foco na promoção da saúde e do bem-estar, reunindo pessoas que precisam praticar alguma esporte, mas querem algo fora do comum.

“Trabalhamos questões como autoconfiança, dinâmica em grupo, expressão e consciência corporal. Nas minhas aulas eu incentivo as pessoas a serem o que elas quiserem”, declara o professor de tecido acrobático, lira e diretor da Movimente No Ar, Pedro Menezes. Hoje com 32 anos, ele começou a praticar a arte circense aos 21. “Eu não era muito do esporte mas, nas férias, tive a oportunidade de praticar acrobacias aéreas. Quando eu experimentei, junto com a minha irmã, foi muito bom e eu pensei ‘eu posso fazer isso!’’, conta o professor.

Em sua trajetória, Pedro se apresentava em bares e, como ele mesmo diz, “se enfiava” em qualquer aula e oportunidade que aparecia. “Depois de decidir que meu TCC de Arquitetura seria sobre uma escola de circo, também decidi que iria abrir minha própria escola”, relata.

A inspiração para abrir seu próprio espaço veio da “mudança” que a arte circense provoca na vida das pessoas. “Já faz quatro anos que sou dono da Movimente No Ar. Ao mesmo tempo, tenho meu escritório de arquitetura”, explica.

A aulas são voltadas ao público dos 8 até +60 anos. “As pessoas acabam optando por essa prática porque não querem academia, querem algo mais plástico. Acho que aí tem muito a ver com a arquitetura, talvez por isso eu tenha me encaixado tão bem”, afirma o artista.

Apresentação de final de ano da escola Movimente No Ar. (Foto: Arquivo Pessoal/ Pedro Menezes)

“Nós trabalhamos a questão de enfrentar medos e os drops, que são as quedas, dão muita adrenalina. Então o grande desafio do circo é a auto superação, acreditar que você tem um limite e ele pode ser ultrapassado”, explica Pedro.

Pedro dando aula na antiga escola do grupo. (Foto: Arquivo Pessoal/Pedro Menezes)

Praticar em qualquer lugar

Com a popularização do ensino remoto e das aulas a distância, a prática do tecido e da arte circense ganhou novos formatos. “Dou aulas aqui no meu espaço presencial, mas a maioria são feitas de forma online”, conta a professora de tecido acrobático, Camila Pasquini, de 33 anos.

Camila Pasquini praticando tecido acrobático em seu quarto. (Arquivo Pessoal/ Camila Pasquini)

Sua história com o tecido começou quando Camila fez sua primeira aula pelo SESC. “Considero uma atividade física artística, já que não é competitiva e não possui regras”, declara a praticante, que conheceu o tecido ainda na faculdade. Hoje, ela dá aulas para pessoas de 4 até 50 anos.

As aulas são divididas em treinos técnicos ou com coreografia. Para uma apresentação, por exemplo, o ensaio é feito com uma trilha sonora e os movimentos são montados a partir disso. “Quando é mais físico e técnico, o foco é ganhar força”, esclarece Camila.

A professora conta que aprende e se aperfeiçoa através de workshops e aulas de educação física. “Minha formação acadêmica é Letras. Conheci o circo durante a época de faculdade e comecei a ministrar aulas depois de uma grande necessidade e interesse das pessoas em conhecer o tecido. Na minha cidade não havia ninguém para dar aula, então ali ganhei um nicho”, explica a professora, que exerce a atividade há 10 anos.

Entre os principais benefícios da prática, Camila cita o ganho de força, flexibilidade, consciência corporal e saúde de uma maneira divertida.

As aulas de tecido são feitas de forma presencial e remota. (Foto: Arquivo Pessoal/ Camila Pasquini)

Pole Dance

Kelly Andrea iniciou como aluna de pole dance em 2013. Nesse período, se apaixonou pelo esporte e começou a buscar mais conhecimento na área, tanto técnico, como pedagógico. Em 2016, montou o seu primeiro Studio em sociedade com dois amigos e, em 2021, decidiu criar o Studio Upside Down, ampliando o leque de artes aéreas. Desde então buscou capacitação técnica, se especializou e atuou como árbitra em campeonatos esportivos de Pole Sport, levando a modalidade ao cenário da dança de São Luís, no Maranhão.

De acordo com Kelly, as artes aéreas (tecido acrobático, lira, trapézio, mastro pendular, pole dance) trabalham movimentações do corpo em suspensão. Sustentar o corpo no ar exige força de diversos grupos musculares (membros superiores, inferiores), bem como a consciência corporal para saber ativá-los da maneira eficiente. Além disso, promove o ganho de flexibilidade, equilíbrio e lateralidade (mão, pé, olho).

Mas para além dos ganhos físicos, há os benefícios psicológicos. “A sensação de conquista provoca um sentimento de superação e bem-estar, trabalhando problemas tão comuns como a ansiedade, depressão e a baixa autoestima”, salienta a profissional.

Kelly acredita que um grande diferencial dessas modalidades é que todo o processo de fortalecimento acontece de forma lúdica e desafiadora. O objetivo do praticante é conseguir realizar o movimento, e os ganhos físicos vêm de forma secundária, o que atrai muito as pessoas que não gostam de atividades como a musculação, por exemplo.

A instrutora Kelly Andrea, do Studio Upside Down, demonstra suas habilidades na barra. (Foto: Arquivo Pessoal/Kelly Andrea)

A prática das artes aéreas não exige nenhum conhecimento prévio. As aulas ministradas por Kelly são desenhadas para o ensino progressivo e gradual dos movimentos, tendo como norte a segurança do aluno. No primeiro momento da aula o praticante passa por um treino básico de fortalecimento e ganho de consciência corporal. No segundo momento da aula, são desenvolvidas as técnicas específicas de cada aparelho, de maneira que cada pessoa, na individualidade do seu corpo, no seu ritmo e com seu histórico de atividade física, consiga realizar os movimentos abordados.

A instrutora revela que a maior parte dos praticantes inicia os esportes aéreos em busca de uma atividade física divertida e desafiadora. Suspensão, inversão e torção são movimentos nada cotidianos e que tiram os alunos da zona de conforto, mudando a perspectiva sobre seus próprios corpos e suas crenças sobre o que eles são capazes de fazer. “Normalmente já tentaram outras práticas e desistiram por serem repetitivas e enfadonhas. Visualizam nas artes aéreas um esporte divertido e com muitas possibilidades”, pontua Kelly.

Segundo Kelly, no Brasil os esportes aéreos com origem circense têm ganho espaço nos últimos anos com a promoção de competições esportivas e artísticas, inclusive durante a pandemia, quando os campeonatos ganharam a plataforma digital.

“Falando especificamente de pole dance, o estigma de ‘dança de boates’ ainda existe, o que afasta algumas pessoas”, indica a profissional. Contudo, nos últimos anos essa ideia vem sendo desmistificada e cada vez mais abraçada por pessoas de todos os gêneros e idades. Há um fascínio que atrai muitas pessoas que querem experimentar um esporte mais amplo, que trabalhe o corpo, a mente, e promova a autoestima.

Embora o Studio Upside Down tenha sido inaugurado em janeiro de 2020, a partir de março ele ficou fechado por quatro meses devido ao lockdown. “Apesar do receio trazido pela Covid, as pessoas não hesitaram em voltar às aulas, porque com o isolamento elas sentiram necessidade de retomar as atividades físicas, não só pelos benefícios ao corpo, mas também para a mente, que foi tão abalada na pandemia. Então, não tivemos dificuldade em manter o funcionamento do local”, acentua.

Kelly decidiu dar aulas nesse segmento por uma necessidade de manter o pole dance vivo. O studio em que ela era aluna fechou as portas em 2015, significando o fim da atividade na cidade onde morava. “Lembro do quanto o pole dance me fazia bem, o único dentre tantos esportes que eu havia tentado, e eu sentia a necessidade de compartilhar isso com outras pessoas”, destaca a instrutora. Ela ressalta ainda que todas as frentes de atuação das artes aéreas são incrivelmente desafiadoras e lindas quando executadas com técnica e consciência.

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