Práticas integrativas e complementares despertam o interesse de profissionais da saúde

Apesar de enfrentarem resistência, as PICs já fazem parte dos atendimentos médicos na rede pública

Aline Santos
Redação Beta
5 min readSep 25, 2018

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As PICs são reconhecidas pelo Ministério da Saúde (Foto: Aline Santos/Beta Redação)

A humanidade tem evoluído na descoberta de métodos benéficos à saúde, entre os quais se destacam as Práticas Integrativas e Complementares (PICs). As terapias consistem em um conjunto de técnicas variadas que visam suplementar o tratamento médico tradicional e proporcionar bem-estar ao indivíduo. É importante ressaltar que as PICs não substituem o tratamento médico, mas podem trazer benefícios terapêuticos como alívio de dores, por exemplo.

O Ministério da Saúde anunciou, em março de 2018, a inserção de dez novas PICs que passaram a ser oferecidas pelo SUS. Atualmente, a lista conta com um total de 29 modalidades de PICs, dado que projeta o Brasil como líder na oferta deste tipo de atendimento.

Confira a lista de PICs ofertadas pelo SUS:

Acolhimento e cuidado

A enfermeira Aline Arrussul Torres, 38, atua com as PICs na Unidade de Saúde ITU, em Porto Alegre. Além do trabalho diário, ela organiza grupos de meditação e realiza atendimentos individuais com reiki e auriculoterapia. O reiki consiste em uma prática terapêutica que utiliza a imposição das mãos para reequilibro de energias. Já a auriculoterapia promove a regulação do organismo através estímulos em pontos da orelha.

A profissional destaca que os atendimentos individuais são oferecidos somente aos pacientes da unidade, enquanto que o grupo de meditação é aberto também à comunidade local. “Somos em quatro terapeutas e, com o reiki, atendemos oito usuários por semana. Na auriculoterapia, em média, são 10 usuários por terapeuta e também são realizados atendimentos em pacientes que solicitam enquanto aguardam as consultas com outros profissionais como médico ou dentista”, explica. O grupo de meditação tem em média 15 pessoas por semana.

Conforme a enfermeira, os resultados trazidos aos pacientes são incalculáveis. A melhora no sono e a diminuição nos níveis de ansiedade são benefícios percebidos no público atendido na Unidade de Saúde ITU. Aline aponta que as terapias beneficiam também os profissionais de saúde, carentes de cuidados assim como os pacientes.

A acupuntura na saúde

A acupuntura consiste na inserção de pequenas agulhas em pontos anatômicos do paciente (Foto: Aline Santos/Beta Redação)

Carla Marianne Bretschneider Ramos, 31, é enfermeira no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad) e conheceu a acupuntura na pós-graduação. De acordo com ela, a acupuntura consiste na inserção de agulhas filiformes em pontos específicos do corpo que tratam desequilíbrios energéticos. “Segundo a medicina chinesa, o corpo é formado por canais e meridianos onde estão os pontos de acupuntura e por onde percorre uma energia vital chamada de Qí. O tratamento por acupuntura é autorregulador e tem o objetivo de manter essa energia vital em equilíbrio. A prática deve ser realizada por um profissional habilitado que respeite os procedimentos de biossegurança”, enaltece.

Carla acrescenta que os resultados da acupuntura são comprovados cientificamente e possui variadas formas de aplicação, de maneira que em alguns casos, o estímulo nem sempre é feito por agulhas, mas sim com ventosas, laser, aparelho de eletroestimulação ou moxabustão, técnica que utiliza o calor ao invés das agulhas.

A profissional percebe que ainda existe certa resistência na área da saúde em relação às práticas integrativas. Ela relata que já sofreu preconceito por parte de colegas, mas acredita que com o reconhecimento do Ministério da Saúde a visão sobre estas práticas pode evoluir consideravelmente.

“As pessoas estão mudando a forma de pensar sua saúde”

Para a enfermeira da Irmandade Santa Casa de Misericórdia, Karine Mendonça Rodrigues, 34, as práticas complementares proporcionam bem-estar e agregam resultados aos tratamentos. Ela conta que já atuou com reiki e acupuntura no hospital. “Trabalho com acupuntura desde 2010, quando fui enfermeira acupunturista no ambulatório de práticas naturais e complementares do Hospital Divina Providência. Lá atendia apenas com práticas integrativas nas consultas de enfermagem”. Atualmente, Karine é enfermeira educadora e não trabalha diretamente com acupuntura, mas atende informalmente quem a procura.

Karine acredita que a medicina chinesa possui uma abordagem mais humanista sobre a saúde do indivíduo, o que possibilita outras percepções em relação à área.

“A medicina chinesa quebra muitos paradigmas dos profissionais da saúde a partir do momento em que nos faz entender a pessoa como sendo um ser integral. Nossas emoções refletem no nosso corpo físico e o desequilíbrio da nossa saúde cessa quando encontramos a raiz dos nossos problemas”.

A enfermeira teve uma experiência significativa com acupuntura que lhe trouxe resultados positivos. Ela conta que sofria de fortes enxaquecas, tendo que fazer uso de medicamentos injetáveis para alívio da dor. Foi quando recebeu atendimento com acupuntura e, após oito sessões, não teve mais enxaqueca. “A acupuntura é uma ciência comprovada, é medicina”, enfatiza.

Não é religião

“Muitas pessoas acabam confundindo terapias integrativas com religião”, afirma a técnica de enfermagem Cíntia Cilene Gonçalves Donat, 42. A profissional, que trabalha na UTI de um hospital da Região Metropolitana de Porto Alegre, conheceu o reiki através de sua terapeuta e considera a prática uma terapia que apresenta resultados benéficos.

Cíntia percebe que, com a aplicação do reiki, os pacientes ficam mais calmos e a tensão relativa ao ambiente hospitalar parece amenizar, mas não tem certeza se alguns membros da equipe compartilham do mesmo pensamento.

“Alguns pacientes são mais sensíveis às alterações energéticas, apresentando ansiedade, desconforto… nestes, costumo aplicar. Mas, sem eles perceberem, sem que a equipe note. Pois, como já tinha relatado anteriormente, muitas pessoas não compreendem o verdadeiro significado do reiki”.

A técnica em enfermagem também recebe aplicações de reiki que a fazem se sentir mais confiante e otimista. Ela ainda destaca que a sensação principal é o sentimento de paz.

Todas as profissionais concordam que a resistência de trabalhadores da classe médica quanto às PICs provém de desconhecimento em relação às novas possibilidades, pois validam apenas a parte tradicional do tratamento. Entretanto, percebe-se uma expansão no segmento destas práticas e o despertar do interesse de diversos profissionais de saúde nas aplicações complementares.

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Aline Santos
Redação Beta

Jornalista, escritora, criativa, mediadora de experiências gastronômicas e afins.