A representatividade feminina nos jogos digitais

Julia Schutz
3 min readMar 29, 2021

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As mulheres estão cada vez mais conquistando seu espaço no ramo dos jogos, mais ainda sofrem muito preconceito e machismo

A 7ª edição da Pesquisa Game Brasil (PGB), divulgada no ano passado, aponta que “69,8% das mulheres no Brasil jogam jogos eletrônicos, independente da plataforma, e pelo quinto ano consecutivo do estudo, o público feminino aparece como maioria entre os gamers brasileiros, representando 53,8% dos jogadores no país”. Mesmo sendo o maior público dos gamers brasileiros, as mulheres ainda sofrem grande preconceito e machismo na área.

A estudante de Jornalismo da Unisinos São Leopoldo, Veronica Luize, de 26 anos, conta que começou a jogar videogame quando tinha apenas 2 anos, sendo fã do universo de jogos digitais desde pequena. Ela começou jogando o “Nintendo” e depois passou para o Super Nintendo, totalmente influenciada pelo irmão mais velho. Já aos quatro anos, além de entrar no universo das bonecas e brincar com jogos da Barbie no computador, ela também jogava o famoso “Paciência”.

A estudante conta que, por mais que goste muito de jogar, ela já sofreu muito preconceito nesse meio por ser mulher, e evita dizer seu gênero nos jogos online por causa do machismo presente: “Sempre que jogo online, evito mostrar que sou mulher. Uma vez joguei Among Us em uma sala aberta e o machismo rolou solto. Muitas piadinhas sexuais em relação ao meu gênero feminino. A mesma coisa aconteceu no Counter Strike, me falaram que não era coisa de menina, que eu não sabia jogar, que era para eu lavar uma louça, ir cozinhar… Coisa de machista”.

Veronica sempre gostou de variados gêneros de jogos, aos passar dos anos ela começou a praticar o Role Playing Game (RPG), por exemplo, no qual o jogador interpreta um personagem da história e cria narrativas através do enredo do jogo. Em 2006, ela ganhou um PlayStation 2, onde gravava jogos em formato de dvd digital como The Sims, GTA, Guitar Hero, entre outros. Os jogos sempre fizeram parte de sua vida, seu sonho era trabalhar em uma revista baseada em games ou algo que abrangesse a cultura nerd.

Para Veronica, o movimento feminino e a representatividade dentro dos jogos digitais está crescendo muito, por mais que as mulheres ainda tenham que ouvir certos absurdos vindo de grupos machistas e preconceituosos. “Muitas mulheres jogam bem melhor que os homens”, declarou a estudante.

Juliane Vituri, de 29 anos, é formada em Design Gráfico pela Universidade Paulista (SP), e relata que sempre gostou de jogar em consoles. Durante a pandemia resolveu dar um “upgrade” no computador e passou a praticar a modalidade streaming (jogar ao vivo), na plataforma Twitch. Ela afirma que a recepção tem sido boa e que joga para se divertir. Além disso, Juliane cria conteúdo para o Instagram há mais de cinco anos e já trabalhou com algumas publicadoras de jogos.

A designer relata ter medo da exposição e dos ataques virtuais machistas durante os jogos: “Tenho uma amiga que modera o chat, assim fico mais tranquila, mas a gente sempre tem que estar preparada para o que vai acontecer. Procuro ficar sempre atenta quando alguém tenta fazer uma raid (invadir um sistema) ou chamar outras pessoas do gênero masculino para espalhar ódio e mentiras”.

Já na vida real, fora do mundo online, Juliane relata que grande empresas do ramo de jogos digitais como a Brasil Game Show (BGS) — maior feira de games da América Latina que conta com a participação dos maiores youtubers desse meio e será transmitido nesta terça-feira, dia 30, às 13h — querem mulheres trabalhando com roupas chamativas, para atrair o público nos eventos. “Já vi muita apresentadora deixando o cenário por causa da comunidade masculina, que é extremamente tóxica”, explicou.

As mulheres alcançaram uma grande representatividade e espaço no meio dos jogos, mais ainda há muito pela frente pela igualdade de gênero nos jogos digitais. Juliane diz que, em contrapartida de todas essas questões desiguais e machistas, ela fica esperançosa e orgulhosa de ver mulheres ganhando espaço nos jogos, como o caso da jogadora Barbara Passos, que atingiu a marca de 1 milhão de seguidores.

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