Câncer de mama: saiba quais são os seus direitos, do diagnóstico ao tratamento

A maior parte dos cânceres de mama é descoberto pelas próprias mulheres, conforme o INCA. Veja como se prevenir

Daniela Tremarin
Redação Beta
5 min readOct 24, 2018

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Realizar o autoexame e consultas regulares ao ginecologista são fundamentais para o diagnóstico precoce (Crédito: Reprodução Schutterstock)

Acada ano que passa, o mês de outubro fica mais rosa. São campanhas das mais variadas e até mesmo pontos turísticos famosos iluminados com a cor. Tudo tem uma única razão: levar um alerta à sociedade para a prevenção do câncer de mama.

O Instituto Nacional de Câncer de Mama (INCA) promove eventos técnicos, debates e apresentações sobre o tema, assim como produz materiais e outros recursos educativos para disseminar informações sobre prevenção e detecção precoce da doença. Com a abertura desse diálogo, mulheres de todo o país começaram a realizar o autoexame e buscar atendimentos periódicos, como passaram a entender os seus direitos.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de São Leopoldo, o processo para buscar o atendimento é basicamente o mesmo em todos os Estados. A mulher deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde será atendida por um clínico geral, ginecologista ou profissional de enfermagem, que devem solicitar a mamografia.

Após o exame, geralmente realizado em uma prestadora de serviço terceirizada indicada pelo município, a paciente deve retornar à casa de saúde com o resultado. Se houver alterações, novos exames serão solicitados e, caso necessário, ela será encaminhada para cirurgia. Tudo isso estimado em 10 dias. O processo está garantido pela Lei dos 60 dias.

Lei dos 60 dias

Em novembro de 2012 foi homologada a Lei de número 12.732, conhecida como a Lei dos 60 dias. A mesma garante o atendimento em até dois meses de pacientes que tenham tumor maligno, de acordo com o artigo nº 2:

O paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 (sessenta) dias contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso registrada em prontuário único.

Caso o prazo seja descumprido, a paciente deverá entrar com processo via Ministério Público, o qual deverá abrir uma investigação por inabilidade administrativa e punir o município caso seja necessário.

Direitos e garantias básicos assegurados (Crédito: Daniela Tremarin/Beta Redação)

Quatro meses de espera até o primeiro atendimento

Ainda que seja um direito estabelecido, o Sistema Único de Saúde (SUS) não cumpre a legislação. Prova disso viveu a aposentada Nair da Costa Beck, 68 anos. Ela sentiu uma pontada no seio, como mesmo conta, e procurou o ginecologista do plano que tem para aposentados. Como ele não cobria o a cirurgia, Nair buscou atendimento pelo SUS. Em São Leopoldo, em agosto de 2017, ela buscou um mastologista, mas conseguiu consulta somente para 12 de dezembro do mesmo ano. Demorou quatro meses para conseguir o primeiro atendimento pelo SUS.

Ele pediu a cirurgia do mesmo modo que a outra médica. Fui colocada em uma fila. Eu sabia que existia uma lei, ou algo assim, que o tratamento tinha que começar em 60 dias depois do diagnóstico, por isso depois que passou os 60 dias do encaminhamento pra cirurgia, tive que entrar em processo na Defensoria Pública pra cobrar o município um retorno sobre o andamento da cirurgia”, conta a aposentada.

Durante todo esse tempo, o tumor foi aumentando. Ela, assim como sua família, já estava apavorada de que algo pior acontecesse. A primeira cirurgia, conforme relata, ocorreu somente no dia 7 de maio de deste ano. Já o segundo procedimento, para retirada total do tumor, ocorreu no dia 23 de julho.

No dia 18 de setembro, Nair teve a primeira consulta com o oncologista para dar início ao tratamento de radioterapia, agendada para o dia 26 de outubro. “Mesmo com a demora eu sempre fui muito bem tratada por toda a equipe da oncologia, sempre muito humanos e muito atenciosos. Acho que o diagnóstico precoce é muito importante porque as chances de tratamento são melhores e não tem necessidade de tirar a mama”, reconhece.

Atenção para um diagnóstico precoce

O câncer de mama pode ser detectado em fases iniciais, em grande parte dos casos, aumentando as chances de tratamento e cura. Todas as mulheres, independentemente da idade, podem conhecer seu corpo para saber o que é e o que não é normal em suas mamas. A maior parte dos cânceres de mama é descoberto pelas próprias mulheres, segundo o INCA.

Além de estar atenta ao próprio corpo, também é recomendado que mulheres de 50 a 69 anos façam uma mamografia de rastreamento (quando não há sinais nem sintomas) a cada dois anos. Esse exame pode ajudar a identificar o câncer antes do surgimento dos sintomas. Mulheres com risco elevado para câncer de mama devem conversar com seu médico para avaliação do risco para decidir a conduta a ser adotada.

É importante que as mulheres observem suas mamas sempre que se sentirem confortáveis para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem técnica específica, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias.

Se diagnosticar qualquer um dos sintomas é preciso buscar atendimento médico (Crédito: Daniela Tremarin/Beta Redação)

Tecnologia como aliada

Foi lançado no dia 1º de outubro o aplicativo MAMAtch!. O mesmo fornece informações para combater o câncer de mama. A ideia do app foi desenvolvido pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), que há mais de 10 anos realiza ações de conscientização por diversas cidades.

O aplicativo tem como principal função promover a formação de uma rede de interesse e informação relacionada à doença, conectando pacientes, familiares e ONGs. “Ter acesso a dados referentes ao câncer de mama, sabendo de seus direitos e possibilidades, também é parte do combate à doença. Com pacientes amparados, ampliamos a visão política e social acerca da enfermidade”, reforça Maira Caleffi, presidente voluntária da Femama em comunicado oficial no site da instituição.

Campanha de divulgação do aplicativo (Fonte: MAMAtch!)

Como funciona

Disponível em sistema Android e IOS, o app permite que os usuários deem “match” em perfis de interesse, ajudando os pacientes, familiares, profissionais de saúde e ONGs a trocar informações e experiências.

Na navegação, também é possível tirar dúvidas com um atendente virtual da Femama, encontrar a ONG mais próxima para obter apoio, além de receber notificações referentes a novidades sobre o câncer, direitos e formas de se engajar com a causa.

Além disso, quem não quiser baixar o app é possível realizar um cadastrado e usar o MAMAtch! por meio do site. A plataforma permanecerá ativa mesmo após o mês de outubro.

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Daniela Tremarin
Redação Beta

Jornalista, cinéfila, apaixonada por histórias e criadora do @bergapop