Maria Eunice Hansen ensina os alunos ao vivo pelo Google Meet. (Foto: Maria Eunice/Arquivo Pessoal)

Professores alteram rotinas e metodologias para as aulas remotas

Diferença das condições de acesso entre alunos da rede pública e privada é uma das principais preocupações

Amanda Krohn
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5 min readSep 1, 2020

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A necessidade de isolamento social, imposta pela pandemia do novo coronavírus, mudou a rotina de alunos, professores e todos que estão envolvidos com a educação. A comunidade escolar teve que se adaptar para garantir o ensino a crianças, jovens e adultos, mesmo que a distância. Municípios e o governo do Rio Grande do Sul tiveram que criar estratégias para a garantia dos serviços na área da educação.

Principais pilares que sustentam o sistema educacional, os professores precisaram aprender uma nova maneira de planejar e dar aula, por meio de uma câmera instalada em computador ou smartphone. Agora as aulas são criadas e oferecidas dentro das próprias residências dos professores. A fim de investigar como essa mudança afetou, e ainda afeta, as rotinas e o processo de ensino, a Beta Redação conversou com professores das redes pública e privada para entender como está sendo esse processo de aulas on-line.

Pedagoga da Escola Municipal de Educação Bilíngue Paulo Freire, de Porto Alegre, Milena de Andrade Martins afirma que o ensino remoto pode causar falhas na aprendizagem, pois “de um lado, é difícil para o professor planejar para alguém aplicar as atividades, e do outro, os pais muitas vezes não têm habilidades para aplicá-las”. A pedagoga acrescenta que a rotina profissional dos pais também é um fator importante: “Muitos pais estão trabalhando e fica difícil achar um momento para as crianças realizarem as tarefas”.

Milena defende a importância de manter as atividades remotas, de forma moderada. Segundo ela, é importante a continuação do vínculo entre professores, famílias e alunos. “Especialmente no caso da educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, precisamos proporcionar as vivências e experiências significativas em meio à pandemia. Não há como haver uma cobrança de conteúdos neste momento, é um período de adaptação e mudança para todos, principalmente para a área da educação”, acredita a pedagoga.

O professor Diego Araújo, da rede privada, grava suas aulas para o YouTube. (Foto: Diego Araújo/Arquivo pessoal)

Acesso às tecnologias é uma barreira na rede pública

Professora de ensino fundamental na rede pública de Novo Hamburgo, Rejane Soares revela que a maior dificuldade até agora foi o uso das tecnologias para qualificar as aulas durante a pandemia. “Tenho colegas que utilizam vários recursos para suas aulas, como memes, vídeos montados com personagens de filmes e outros. Mas eu só sei o básico”, explica.

Segundo Rejane, a coordenação pedagógica fornece auxílio com sugestões de ideias e instruções para acesso aos programas, contudo, o desenvolvimento de aulas mais criativas demanda mais conhecimento. “Temos oficinas e formações para compreender o básico e conseguir desenvolver o necessário, mas é diferente de se saber o que está fazendo”, aponta a professora. Ao ser questionada sobre como as formações poderiam melhorar nesse aspecto, Rejane afirma que o aprimoramento no uso das tecnologias é uma questão de escolha pessoal. “Alguns gostam da área de TI, e outros procuram saber apenas o básico”, opina.

Outro problema exposto durante as aulas remotas surge nas comunidades mais carentes ou com difícil acesso às tecnologias. Conforme a professora do ensino médio e séries finais do ensino fundamental Maria Eunice Hansen, auxiliar alunos com baixo poder aquisitivo é uma das principais dificuldades. “Nem todos os alunos possuem celular, bem como internet. Toda essa situação gera desconforto, ansiedade e agonia”, expõe.

Eunice é professora no Colégio Estadual Engenheiro Paulo Chaves, em Maratá, no Vale do Caí. De acordo com ela, “são muitas orientações diárias, muitos cursos de letramento digital e tecnológico, muitas mensagens das famílias e alunos, em todos os horários, o que tem deixado os profissionais da educação esgotados”. Segundo Eunice, a escola em que ela trabalha aplica aulas síncronas via Google Meet. Nos casos dos alunos que não possuem acesso à internet, disponibiliza conteúdo impresso, entregue semanalmente na escola, onde também é possível esclarecer possíveis dúvidas. Além disso, as aulas são gravadas para que todos tenham acesso posterior.

O professor Andres Kalikoske sente falta do ensino presencial. (Foto: Andres Kalikoske/Arquivo pessoal)

Rede privada busca novas metodologias de trabalho

Na rede privada de ensino também são impostas dificuldades aos professores, que precisaram de um grande esforço na adaptação das aulas. Diego Araújo é professor de Educação Física de crianças até 6 anos em Novo Hamburgo, na Escola de Educação Infantil Gente Moleque, e dá aula de ensino médio no Instituto Ivoti. Segundo ele, as aulas para crianças são ministradas através do YouTube e em sessões síncronas via Google Meet. Para Diego, o mais difícil até agora foi realizar as atividades no ambiente doméstico. “Tive que pensar em adaptar as atividades para dentro de casa ou pátio, fazendo com que os pais possam comandar sem confeccionar materiais, pois eles não têm tempo, e adaptando o que se tem em casa, de forma adequada para a faixa etária.” Nas aulas ao vivo, Diego exemplifica junto a outros professores as atividades que apresenta nos vídeos de seu canal.

Em relação às turmas do ensino médio, Diego Araújo explica que está lecionando através de aulas síncronas no Google Meet e gravadas para o YouTube. Segundo ele, a maior dificuldade na adaptação, tanto para o ensino médio quanto para a educação infantil, foi equilibrar o tempo entre a vida profissional e seu filho. “Foi difícil e desgastante fazê-lo entender que eu não podia brincar com ele, levei dois meses para me adaptar”, revela.

Professor de pós-graduação, Andres Kalikoske enfrentou dificuldades nas primeiras semanas de distanciamento social. “De uma hora para outra tive que rever cronogramas e produzir conteúdos em formatos como vídeos e podcasts. Esse contrato pedagógico foi repactuado com os alunos, porque acredito que nenhum professor faz uma disciplina sozinho”, explica.

Andres também é coordenador lato senso na Unisinos e na Universidade São Francisco de Assis, ambas em Porto Alegre. Segundo o professor, é preciso estar preparado para auxiliar os estudantes que enfrentam dificuldades. “Tento auxiliar os alunos oferecendo suporte e instigando a criatividade, sempre retomando os conhecimentos da aula anterior e, durante a semana, postando comentários sobre as atividades que devem ser desenvolvidas e entregues”, ressalta Andres. O professor também está mais flexível nos prazos de entrega, especialmente quando percebe que houve alguma dificuldade no desenvolvimento da atividade.

Normas adotadas

  • Até o dia 8 de setembro, as aulas de colégios estaduais do Rio Grande do Sul permanecem de forma 100% remota, através do Google ClassRoom (entre outras plataformas disponibilizadas pelo Google).
  • Em Novo Hamburgo, as aulas ocorrem de forma on-line desde o final de março, e a partir de 3 de agosto os encontros virtuais passaram a valer como ano letivo. A previsão de encerramento é para 19 de janeiro, e deve haver atividades nos sábados.
  • No Instituto Ivoti e na faculdade São Francisco de Assis, as aulas estão sendo ministradas de acordo com determinações do Estado (segundo comunicados das instituições).
  • Na Unisinos, de acordo com notas oficiais, o ensino deve ser a distância até o final do semestre.

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Amanda Krohn

27 anos, jornalista, repórter da Revista Expansão