Professores de Educação Física reinventam suas aulas na pandemia

Com o retorno à modalidade presencial, educadores priorizam atividades seguras e com distanciamento social

Amanda Bier
Redação Beta
6 min readSep 6, 2021

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Professora Carla realiza exercícios de alongamento com alunos do oitavo ano da escola Gusmão Britto. (Foto: Carla Serpa/Arquivo Pessoal)

A disciplina de educação física, que sempre foi sinônimo de esporte coletivo e contato corporal, mudou desde o início da pandemia. Com a suspensão das aulas presenciais em março de 2020, professores de todos os níveis escolares precisaram desenvolver estratégias para manter os alunos se movimentando em casa. Agora, após quase um ano e meio de adaptação ao ensino remoto, o desafio está sendo o retorno às aulas na modalidade semipresencial.

As escolas municipais de São Leopoldo apostam no modelo híbrido, em que o processo de ensino alterna entre o remoto e o presencial. Isso significa que, enquanto em uma semana um grupo de alunos é atendido na escola, o outro acompanha as atividades mediado por plataformas digitais ou impressas. Na semana seguinte, os estudantes que tiveram aulas presenciais passam a assistir à distância e vice-versa. Dessa forma, é possível manter as escolas com a metade da capacidade, garantindo melhor adesão às normas de distanciamento.

A professora de educação física na Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Gusmão Britto, Carla Serpa, conta que a proximidade dos estudantes, antes tão recorrentes em brincadeiras, agora foi substituída por dinâmicas mais seguras. Em vez de futebol e vôlei, por exemplo, atividades que exigem contato físico, a escola investe em jogos que favorecem a interatividade, mas que mantêm os participantes devidamente distanciados.

“Antes de retornar ao ambiente escolar, conversei com os alunos e pedi para que eles me sugerissem algumas atividades. Isso foi essencial para entender as realidades e as condições de cada um. Após tanto tempo de aula remota, muitos ficaram sedentários, jogando videogame em casa. Então, começo as aulas com alongamento, ginástica, exercícios de corrida e, depois, faço algumas brincadeiras, como pular corda, ‘vivo ou morto’ e amarelinha. Sempre respeitando o ritmo deles e mantendo o distanciamento”, explica a professora.

Na hora de pular corda, as crianças mantêm o distanciamento e ainda se divertem na escola Gusmão. (Foto: Carla Serpa/Arquivo Pessoal)

Apesar de estarem em processo de adaptação, Carla ressalta que os alunos do ensino fundamental estão empolgados com a retomada das aulas presenciais. “Acabamos de voltar, então, neste momento, acredito que o mais importante é eles estarem ao ar livre, no pátio, na quadra e na pracinha. De vez em quando alguns vêm e me dizem: ‘profe, que saudade que eu estava de brincar contigo e com os colegas’. É muito bom todo esse carinho. Eu também estava com saudade”, relata.

Para uma aula de educação física mais segura, a escola Gusmão, localizada no bairro Morro do Espelho, cumpre os protocolos sanitários e reforça com os estudantes a importância do uso da máscara, do distanciamento físico e da higienização correta das mãos. “Estamos bem cuidadosos. Sabemos que é difícil não poder tocar e abraçar, mas sempre falo que esse retorno já é uma vitória. Agora, o jeito é se cuidar, viver um dia de cada vez e esperar que a vacina chegue logo para as crianças e os adolescentes”, salienta Carla.

De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Educação, todos os professores e funcionários do Ensino Fundamental já estão vacinados com a segunda dose contra a Covid-19. Além disso, o retorno dos alunos é opcional e todas as escolas disponibilizam álcool em gel, medição de temperatura e demarcação de espaços. Desde a reabertura, no dia 3 de agosto, o uso de máscara também é item obrigatório, assim como o distanciamentos nos ambientes.

Adaptações também no Ensino Médio

Na rede privada, muitas escolas particulares retornaram com as aulas presenciais no mês de maio, três meses antes da rede municipal. O Colégio São Luís, localizado no Centro de São Leopoldo, é um deles. Por lá, as aulas do ensino médio também precisaram passar por uma série de mudanças e adaptações.

Segundo o professor de educação física Marcelo de Oliveira Schmidt, como os estudantes ficaram muito tempo em casa, a reinserção de práticas esportivas à rotina escolar acontece de forma gradual e adaptada. “Desde o retorno, os alunos fazem cinco ou dez minutos de atividade e já querem descansar, então, por enquanto, realizo mais exercícios aeróbicos e funcionais. Aos poucos, também estou introduzindo vôlei e basquete, mas cada um com uma bola e distantes”, pontua.

Alunos do ensino médio se exercitam na aula do professor Marcelo. (Foto: Marcelo de Oliveira Schmidt/Arquivo Pessoal)

Com a volta do regime presencial, implementar inovações sem que haja perdas no aprendizado e no condicionamento dos alunos tem sido um desafio para os educadores. Contudo, para Marcelo, esse momento também reserva ensinamentos. “A pandemia nos tirou da zona de conforto. Antes de retornar para o colégio, me reuni com os professores de educação física e começamos a conversar sobre as aulas. Depois de muito estudo e pesquisa, conseguimos triplicar o leque de atividades que, talvez, se não fosse a pandemia, nunca lembraríamos de realizar com os alunos. Isso está sendo muito legal”, comenta o educador.

Atualmente, o Colégio São Luís recebe os estudantes sem o escalonamento semanal dos grupos entre o remoto e o presencial, porém alguns optaram por permanecer estudando a distância. De acordo com o professor Marcelo, de turmas do ensino médio com quase 30 alunos, quatro ou seis estão em casa. “Para quem ainda não se sente seguro em voltar, estamos revezando entre os professores. Enquanto um fica na sala virtual, o outro faz a aula prática na quadra da escola”, destaca.

Unisinos investe na ampliação gradativa das atividades presenciais

No ensino superior, o reencontro dos estudantes com as salas de aula está ocorrendo aos poucos. Na Unisinos, em São Leopoldo, o retorno é facultativo e contempla o curso de Educação Física, porém somente algumas disciplinas preveem encontros presenciais, enquanto outras seguem integralmente de forma remota. Para acompanhar as aulas virtuais, os alunos podem utilizar a infraestrutura da universidade, desde que obedeçam os protocolos de segurança.

Depois de tanto tempo atrás das telas de aparelhos eletrônicos, voltar à sala de aula sem poder se aproximar das pessoas não tem sido tarefa fácil. No caso de Ednaldo da Silva Pereira Filho, professor e coordenador do curso de Educação Física da Unisinos, tanto ele quanto os alunos ainda estão aprendendo a se reencontrar.

“A pandemia mostrou o quanto somos sociais e o quanto precisamos uns dos outros. Por isso, a universidade tem sido sensível às nossas demandas e interesses de voltar o quanto antes, mas também é muito rigorosa no cumprimento das medidas sanitárias. Sabemos que ver as pessoas e não poder abraçar é difícil, mas o desafio é esse. Precisamos reaprender a estabelecer novas comunicações para nos mantermos vivos”, aponta o docente.

No campus da Unisinos em São Leopoldo, alunos de Educação Física retornam gradativamente às aulas presenciais. (Foto: Ednaldo da Silva Pereira Filho/Arquivo Pessoal)

Segundo o professor Ednaldo, o curso de Educação Física ofertou cinco atividades acadêmicas com encontros presenciais no início de 2021, mas agora, no segundo semestre, o número de disciplinas aumentou. “Hoje já temos aulas presenciais de anatomia, realizadas no laboratório, assim como aulas de cinesiologia, cenário da carreira e também as de basquete, vôlei, ginástica olímpica, futebol, handebol, dança e judô, todas seguindo os protocolos de segurança. Além disso, os alunos têm o direito de escolher se querem ir ou não. Aqueles que não podem, assistem a aula que está acontecendo no campus de maneira remota”, enfatiza.

Entre os alunos da Unisinos que optaram por seguir estudando online está Ingrid Stelzer da Silva, de 21 anos. Para a aluna do quinto semestre de Educação Física, o ensino presencial torna o aprendizado bem mais fácil devido ao contato próximo com os professores. Porém, a estudante aguarda uma melhora da pandemia antes de retornar à sala de aula. “Por enquanto, ainda não participei das aulas presenciais. Desde o ano passado, quando começou o ensino remoto, decidi não cursar as disciplinas práticas para fazer as teóricas e estudar em casa. Está sendo difícil, sinto falta de socializar com os colegas, mas prefiro esperar as coisas normalizarem para depois conseguir aproveitar ao máximo as aulas e as atividades na Unisinos. Tomara que isso aconteça logo”, ressalta Ingrid.

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