Área da segurança adota práticas minuciosas em meio à pandemia

Servidores contam sobre as medidas de prevenção à Covid-19 em suas rotinas de trabalho

Gustavo Machado
Redação Beta
6 min readMay 6, 2020

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Bombeiros higienizam a ambulância antes e após as ocorrências em Portão/RS (Foto: Gustavo Machado/Beta Redação)

Com Henrique Bergmann

Armamentos e materiais de resgate, itens essenciais para o trabalho de policiais, bombeiros e agentes de segurança, passaram a ser cautelosamente higienizados após cada toque e a cada operação. Cuidados mínimos, mas de suma importância, que hoje fazem parte da rotina dos trabalhadores atuantes em uma área que não pode paralisar durante o isolamento social. A Beta Redação conversou com diferentes profissionais para saber os cuidados adotados para evitar a disseminação da COVID-19 entre os colegas e a população.

Polícia Civil

Segundo o delegado de polícia, Ayrton Figueiredo, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO), de São Leopoldo, após as medidas preventivas anunciadas pelo Governador Eduardo Leite, a Chefia de Polícia organizou a estrutura de atendimento de forma a preservar policiais civis que possuem risco quanto à idade, ou por serem imunodeprimidos, gestantes, lactantes e outros casos específicos.

Parte das Delegacias tiveram de adaptar expedientes, de forma a respeitar o revezamento instituído. “Particularmente, não participo de nenhuma das causas de isolamento e sou titular de Delegacia especializada. Por tais razões, não fiz e nem farei parte das medidas de contenção. Ao contrário, estamos trabalhando além da rotina normal”, confessa.

Devido à rotatividade do número de policiais, foi estabelecida uma diminuição nos atendimentos externos, priorizando o trabalho on-line, que ajuda a preservar a saúde dos policiais civis pertencentes aos grupos de isolamento obrigatório. “Em Delegacias especializadas, como a DRACO de São Leopoldo, não houve medidas diversas, visto que se trata de órgão voltado para investigações do crime organizado e de natureza deveras sensível”, expõe.

Profissionais do grupo de risco foram afastados das operações na Polícia Civil. (Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini / Arquivo)

A reformulação na rotina de trabalho por conta da pandemia resultou numa convocação dos policiais civis, mediante a cassação de férias e licenças de interesse particulares. Desse modo, foi possível suprir a escala de serviço e privilegiar o isolamento e o home office dos servidores que se encontram nos grupos de risco.

As mudanças ocorreram não só no ambiente de trabalho, como também na rotina com a família. Os cuidados estão redobrados devido aos policiais civis pertencerem a um grupo que tem contato diário com pessoas de inúmeras localidades, conforme relata o titular da DRACO. “A família sempre é a base de todo o policial civil, sendo fonte de estímulo e conforto, após o
estresse natural do trabalho”, comenta.

Com a pandemia ocorreu a diminuição de alguns crimes, como casos de roubos a pedestres devido ao isolamento social, mas crescem as infrações dentro dos lares, como a violência doméstica e as brigas entre vizinhos, que são relatadas nas delegacias distritais de Portão e de Estância Velha, segundo o delegado Ayrton Figueiredo.

Corpo de Bombeiros

O chefe da guarnição da cidade de Portão, Sargento Mellos, esclarece que após o início da pandemia houve reformulações, tanto na escala de trabalho, como também no procedimento de higienização dentro da corporação. “Passamos a utilizar a máscara N95, indicada para quem trabalha na linha de frente, além de óculos, luva e avental, que posteriormente são descartados no hospital”, pontua.

Nas novas escalas de trabalho, cada bombeiro atua 48 horas e folga seis dias, para ficar um maior tempo afastado e diminuir as chances de contágio. Além disso, a recomendação é de que grande parte do uniforme fique na guarnição, para que a roupa não seja levada para casa, como forma de proteger os familiares.

Os cuidados foram redobrados também com a ambulância. “Sempre ao chegar de uma ocorrência fazemos a higienização do veículo, deixando pronto para a próxima saída”, explica Sargento Mellos. Segundo o chefe da guarnição, a média de atendimentos não alterou e segue em três por dia, relacionados a acidentes domésticos, mal súbitos e incêndios na vegetação devido às secas.

Higiene é feita em toda a ambulância e nos materiais de resgate (Foto: Gustavo Machado/Beta Redação)

Brigada Militar

A Brigada precisou fazer mudanças na rotina de seus funcionários e militares. No setor administrativo é feito rodízio de equipes para que não haja número excessivo de pessoas nestas áreas, mas os efetivos na rua continuam trabalhando normalmente. “A única mudança para quem está na rua é a suspensão das formaturas e cursos de instruções da Brigada”, explica um soldado da Companhia de Patrulhas Especiais (Patres), que preferiu não se identificar.

De acordo com o Ementário Covid-19 — versão 18 da entidade, militares do grupo de risco, ou que apresentam sintomas, passam a exercer teletrabalho domiciliar ou recebem liberação administrativa do serviço. “Qualquer militar estadual que apresente sintomas é encaminhado para avaliação médica no Hospital da Brigada ou para os locais de atendimento para que sejam feitos os diagnósticos. Além disso, há o isolamento de 14 dias para o militar que apresentar os sintomas”, conta a fonte da Patrulha Especial.

Brigada Militar tem nova orientação de abordagem (Foto: Comunicação Social 21º BPM/Divulgação)

Desde que iniciaram os cuidados quanto à COVID-19, os policiais militares orientam o cidadão que estiver sendo abordado a cobrir a boca com um pano ou com a camiseta. Se for preciso fazer a prisão do indivíduo, o policial militar deve perguntar se ele está com os sintomas de contágio pelo coronavírus. Caso a resposta seja positiva, uma máscara cirúrgica é entregue ao abordado.

A higienização do armamento é uma preocupação constatnte. “Recebemos muitas orientações sobre a limpeza do uniforme e do equipamento. A orientação para a roupa é exatamente como a do cidadão normal. Chegou em casa, coloca para lavar. O ideal é que tire a farda no quartel e leve em um saco plástico. O armamento sempre é limpo depois do expediente”, conta o soldado.

O policial ainda lembrou que, desde o início da pandemia, os militares que estavam em férias precisaram interromper e voltar ao trabalho. Ele acredita que a liberação das férias acontecerá na metade do mês de maio.

Susepe

A reportagem entrou em contato com agentes penitenciários da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) e conseguiu o retorno da direção da instituição, via assessoria de imprensa, sobre as medidas de cuidado com o novo coronavírus.

A corporação está fazendo revezamento da equipe no setor administrativo. Já os agentes penitenciários realizam plantões de 24h por 72h. Segundo o comunicado da Susepe, é feita a higienização dos ambientes prisionais e das mãos, além do uso de máscaras e luvas pelos agentes.

Os presos que possuem os sintomas da doença devem ser encaminhados para as enfermarias para serem realizados os testes; depois, ficam em isolamento por 14 dias. Se confirmado o caso, o aprisionado é encaminhado para a rede de saúde pública.

As visitas e as transferências dos indivíduos estão temporariamente suspensas, exceto para os casos que garantam a integridade física de algum preso ou para controlar e conter a disseminação do vírus.

Guarda Municipal

As Guardas Municipais das cidades também não pararam por conta da pandemia. Em Tramandaí, o Guarda Municipal Rafael Ferreira conta que esse tem sido o momento mais delicado de sua atuação.“Nas duas primeiras semanas, quando saíram os decretos, parecia que os governos federal, estadual e municipal estavam na mesma linha. Foi a época mais tranquila, período em que o comércio estava fechado e com poucas pessoas nas ruas. Depois ficou mais difícil para o nosso trabalho”, revela. Vale ressaltar que em Tramandaí o comércio já voltou a funcionar.

Guarda Municipal orienta moradores em relação aos cuidados ao circular pela rua (Foto: Rafael Ferreira/Arquivo pessoal)

A Guarda Municipal, segundo Rafael Ferreira, tem a missão de orientar os cidadãos quanto ao uso de máscaras nas ruas (obrigação pelo decreto de 30 de abril, de Tramandaí) e para a não aglomeração de pessoas nas praças, calçadas, beira da praia e no rio.

O agente conta que, apesar da população do município estar respeitando as ordens, as mudanças nos decretos estão deixando os cidadãos irritados. “Os decretos são alterados de forma semanal. Isso está pesando no nosso trabalho. A ordenança municipal é uma e a do Estado é outra. Isso tem deixado a população impaciente”, avalia. O Guarda Municipal destaca que os cidadãos que não respeitarem as orientações serão conduzidos até a Delegacia de Pronto Atendimento da cidade.

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