Programa Cidade Empreendedora para transformar a economia local

Estância Velha quer aumentar em 50% o orçamento do município em dez anos

Isaías Rheinheimer
Redação Beta
5 min readJun 29, 2021

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Dia em que o prefeito de Estância Velha, Diego Francisco (E), assinou o contrato com o Sebrae/RS, representado pelo Diretor-Superintendente, André Vanoni de Godoy. Ato foi acompanhado por diversas autoridades. (Arquivo/PMEV)

Com o terceiro pior Produto Interno Bruto (PIB per capita) do Vale do Sinos, conforme os últimos indicadores do IBGE, Estância Velha inicia 2021 com um projeto que visa colocar o município no rumo do desenvolvimento econômico a médio e longo prazo. Depois de ser uma das cidades mais ricas da região — de acordo com os mesmos indicadores — nos áureos tempos do setor coureiro-calçadista, nos anos 1980, a cidade com pouco mais de 50 mil habitantes quer se recuperar economicamente investindo e incentivando o empreendedorismo.

Para pavimentar esse caminho e preparar a cidade para o processo de transformação, a Prefeitura decidiu apostar no programa Cidade Empreendedora do Sebrae. Contratado em abril, o programa tem como objetivo a transformação local pela implantação de políticas de desenvolvimento em eixos estratégicos, entre eles, o de liderança, desburocratização e compras governamentais. Estimular jovens estudantes da rede pública municipal ao empreendedorismo também faz parte da proposta do Sebrae.

Com um investimento de mais de R$ 200 mil, a gestão municipal de Estância Velha espera, com a implementação do Cidade Empreendedora, fazer o que o município está há, no mínimo, uma década atrasado: renovar sua matriz econômica. João Vitor Torres, chefe de gabinete e escolhido para gerenciar o programa do Sebrae, explica que, com o fim do apogeu dos curtumes, a cidade estagnou e esqueceu-se de abrir espaço para outros setores industriais. Parte desta lentidão tem relação direta às burocracias impostas pelo setor público.

“Um dos fatores importantes que estamos mapeando é eliminar burocracias. Estamos estudando um programa para redução de determinadas taxas e, em alguns casos, até mesmo eliminar essa cobrança. Tudo isto como forma de deixar nossa cidade mais competitiva e menos engessada”, avisou Torres.

Treinamento dos servidores públicos faz parte do processo de transformação da cidade ao empreendedorismo. (Arquivo/PMEV)

Crescimento de 50%

Pensando no sucesso do Cidade Empreendedora, que será desenvolvido ao longo dos próximos 24 meses, a Administração pensa grande e faz projeções, como a de aumentar a arrecadação da Prefeitura em, pelo menos, 50% nos próximos dez anos. O orçamento que hoje é de R$ 180 milhões, passaria a ser de R$ 270 milhões.

Torres explica que a projeção de crescimento, com a abertura da cidade ao empreendedorismo, já é resultado do programa encabeçado pelo Sebrae. Uma das primeiras ações do órgão foi a elaboração de um diagnóstico sócio-econômico da cidade, que foi apresentado no início de junho aos gestores municipais e empresários ligados a entidades como ACI e CDL.

“De acordo com os dados apurados pelo diagnóstico do Sebrae, em média, 30% dos lares do município são das classes A ou B. Ou seja, temos condições de trazer para cá investimentos, sejam eles no comércio ou serviços, que atendam nosso público. O grande dilema é que estamos muito próximos de cidades de médio e grande porte, como Novo Hamburgo e Porto Alegre”, observou. Aliás, romper essa, entre outras barreiras, é uma das missões dos gestores, junto com o Sebrae.

A diretora regional do Sebrae/RS, Paula Nicolini, está à frente do projeto que recém começou a ser desenvolvido em Estância Velha. Ela conta que, por ser um programa complexo e que exige muita dedicação de ambas as partes, o Sebrae seleciona os municípios em que irá trabalhar. Contudo, Paula alerta: o Sebrae não promete colocar dinheiro no caixa da Prefeitura. Entretanto, se compromete em pensar estratégias, junto com a Administração, para fomentar o município economicamente. “Se houver comprometimento dos gestores, se os moradores voltarem a acreditar no potencial do município e, fundamentalmente, se as ações que precisam ser tomadas acontecerem, Estância Velha pode pensar em um futuro de riqueza”, ponderou.

Onde o programa está mais avançado

Campo Bom já sente os reflexos positivos do programa Cidade Empreendedora com aumento de 5% no número de empresas mesmo em meio à pandemia. (Arquivo/Prefeitura de Campo Bom)

No Rio Grande do Sul, poucos municípios fecharam parceria com o Sebrae para implantar o Cidade Empreendedora. Campo Bom é um exemplo de onde o programa está mais avançado. Com o projeto em desenvolvimento há um ano, o município, que fica à somente 15 quilômetros de Estância Velha, já começa a notar de forma bastante visível os reflexos do trabalho.

O total de empresas de todos os portes em chão campo-bonense em dezembro de 2020 chegava a 7.780, enquanto em abril de 2021, fechou o levantamento com 8.180, um aumento de mais de 5%, mesmo durante a pandemia. “As medidas de apoio foram adotadas por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, com apoio da Câmara de Vereadores e demais setores do município”, pontua o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), Henrique Scholz.

O coordenador da Sedetur, Airton Schäfer, explica o que considera o maior motivo do sucesso. Segundo ele, antes mesmo que as empresas se estabeleçam em Campo Bom, são atendidas por um comitê multissetorial da Prefeitura, que envolve todas as secretarias. “Com o apoio de todos os setores, avaliamos a situação das empresas, buscamos auxiliá-las com suas demandas, acelerar processos de alvarás e licenças e, principalmente, criar um ambiente de acolhimento, tendo a ótica do empreendedor como um cliente do município, e não apenas um contribuinte”, aponta.

Preparação contínua

Além dos avanços já notados, Campo Bom continua a preparação do município para crescer ainda mais economicamente nos próximos anos. A implementação de um distrito industrial é a atual meta do governo local para incrementar o desenvolvimento na cidade. O espaço fica junto à ERS-239, em uma área de terra dividida em 14 lotes, cada um com cerca de 2,5 mil metros quadrados, em que futuros empreendimentos poderão se instalar.

Outra prova de que Campo Bom tem se destacado no assunto surgiu em maio, quando o município apareceu em pesquisa realizada pelo Governo Federal como sendo o principal polo facilitador para novos negócios no Rio Grande do Sul. “Investimos nisso com o objetivo de nos tornarmos um polo do empreendedorismo local, sendo convidativos a novas empresas e investidores. Assim garantimos o desenvolvimento da cidade e mercado de trabalho ativo para nossos moradores. Nossa colocação em quarto lugar no ranking nacional e em primeiro no Estado, é a prova de que as medidas deram resultado”, destaca o prefeito Luciano Orsi.

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