Projeto Canoagem na Escola introduz alunos da rede municipal de São Leopoldo ao esporte

Ativa há quase 20 anos, iniciativa social já formou atletas que seguiram competindo profissionalmente

Marília Port
Redação Beta
5 min readApr 25, 2023

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As crianças começam treinando na piscina, antes de remarem no Rio dos Sinos. (Foto: Daniela Maioli/Arquivo Pessoal)

Com o intuito inicial de ocupar o tempo livre dos estudantes da rede pública de ensino, o Projeto Canoagem na Escola surgiu por iniciativa da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de São Leopoldo, em 2005. Cerca de 18 anos depois, a atividade mobiliza quase 200 estudantes, além de formar atletas que competem em torneios estaduais e nacionais pela Associação Leopoldense de Ecologia e Canoagem (Aleca). Só no mês de abril de 2023, a equipe da Aleca trouxe dez medalhas para casa pelos resultados obtidos na Copa Brasil de Canoagem, em Minas Gerais. Em 2022, a canoagem teve sua estreia na competição dos Jogos Escolares Municipais de São Leopoldo (JEM).

Equipe de atletas que disputou a Copa Brasil de Canoagem exibe orgulhosa as dez medalhas conquistadas. (Foto: Daniela Maioli/Arquivo Pessoal)

A coordenadora do Projeto, professora Daniela Maioli, explica que as mudanças dos alunos no ambiente escolar são nítidas desde o momento que passam a integrar a iniciativa. “Prestam mais atenção, entregam os trabalhos, não faltam [às aulas]”, destaca.

Para a seleção dos jovens contemplados existem três etapas: a Smed define as escolas participantes, a equipe do Projeto determina o número de vagas a serem disponibilizadas para cada uma e, então, as escolas elegem os alunos participantes, de acordo com critérios internos. “Cobramos muito as questões de disciplina e assiduidade”, reforça Daniela.

A iniciativa é mantida pela prefeitura municipal de São Leopoldo, responsável por remunerar todos os profissionais envolvidos no processo, desde a orientação aos estudantes até o aluguel e a limpeza do espaço físico da sede. Além disso, o órgão público arca com as despesas dos lanches e com o transporte dos alunos. Para as competições estaduais, a Smed disponibiliza um ônibus escolar que leva os atletas. Para as competições nacionais, através de um convênio, o Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae) repassa o valor necessário para garantir cada viagem.

Mesmo assim, os custos dificultam a ida das crianças aos campeonatos. “Para participar de competições a nível gaúcho, é preciso ser cadastrado na Federação Gaúcha de Canoagem. Só o cadastro custa 50 reais. E são mais 50 reais [para disputar] cada competição. Então, é um fator que impede que muitos participem”, expõe a professora Daniela. Diante desse cenário, a alternativa é, sempre que possível, marcar presença nas provas festivas, que não exigem cadastro na Federação e possuem preço de inscrição acessível ou, até mesmo, inexistente em alguns casos. Nas provas festivas, todas as crianças do Projeto Canoagem da Escola que tiverem interesse podem competir.

Rauany de Oliveira, 17 anos, começou a praticar a canoagem em janeiro de 2016 e, hoje, é uma das atletas do Projeto. “Mudou muito a nossa rotina”, avalia Angélica de Oliveira, mãe da Rauany. Ela conta que a filha, que pretende dar continuidade à carreira no esporte quando for adulta, já participou do Campeonato Gaúcho, Campeonato Brasileiro, Copa Brasil e Copa Sul-Americana, desde que passou a competir na modalidade.

Aos 17 anos, Rauany já compete a nível estadual, nacional e sul-americano. (Foto: Reprodução/Canal Olímpico do Brasil)

Em 2020, todas as atividades do projeto de canoagem foram interrompidas devido à pandemia de Covid-19. No ano seguinte, os remos puderam voltar às mãos e o trabalho foi retomado aos poucos. Primeiro, só com a equipe da Aleca, a fim de disputar as competições nacionais da modalidade, com menos alunos e em um único turno de treinos. Depois disso, lembra a professora Daniela, houve um projeto piloto, envolvendo apenas uma escola, além do número de alunos ter sido reduzido pela metade no período.

Desde 2022, a canoagem integra o Mais Educa São Leo, uma iniciativa da prefeitura municipal, vinculada à Smed. A proposta é dedicada a promover o contato de estudantes em situação de vulnerabilidade social com diversas práticas esportivas e artísticas, no intuito de beneficiar o processo de aprendizagem das crianças, dentro e fora das salas de aula.

O esporte como estilo de vida

Ewerthon Alecsander Alves da Silva, 20 anos, descobriu a canoagem através do Projeto, aos 10 anos, quando estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Maria Edila da Silva Schmidt, no bairro Rio dos Sinos. Foi através do contato com as águas do rio homônimo que Ewerthon se tornou atleta, além de ter despertado o desejo de atuar como educador físico. Hoje, ele estuda Educação Física na Unisinos e ajuda a formar novos competidores na canoagem.

Nas palavras dele, foi através desta modalidade esportiva que pôde se desenvolver como pessoa e abrir muitas portas. “Observo que o esporte, no geral, e as atividades do Projeto, em específico, auxiliam o estilo de vida das crianças, beneficiadas tanto na parte física quanto mental”, pondera. “Saber que tem que cumprir regras, ter postura, ser focado para poder melhorar e obter bons resultados influencia muito na rotina”, resume o atleta.

Ewerthon coleciona uma série de participações em campeonatos ao longo dos anos nas diversas edições do Campeonato Gaúcho de Canoagem Velocidade, no Campeonato Gaúcho de Maratona, nos Jogos Abertos de Esportes Náuticos, no Campeonato Brasileiro de Canoagem Velocidade e na Copa Brasil de Canoagem Velocidade, entre outros.

Ewerthon compete na canoagem desde 2013 e, atualmente, se dedica a formar novos atletas. (Foto: Reprodução/Adil Lima)

Remar para além dos limites da cidade

A professora Daniela percebe a canoagem como uma ferramenta que abre portas ao oferecer aos jovens caminhos e possibilidades. “Temos ex-atletas que estão morando em Portugal. Lembro agora de três alunos que estão no exterior”, orgulha-se a coordenadora da iniciativa. Muitos daqueles que continuam em terras brasileiras acabam precisando se deslocar para treinar em outros municípios, ou mesmo em outros estados, como elucida a profissional.

“Temos atletas que foram treinar em outras equipes com uma estrutura melhor, porque São Leopoldo tem estrutura de projeto social, não de equipe de rendimento. Inventamos a equipe, só que chega um momento em que não temos mais o que oferecer aos atletas. Nessa hora eles buscam clubes até mesmo fora do Rio Grande do Sul”, detalha.

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