Projeto social visa propagar movimento cultural em Esteio

Thais Ramirez
Redação Beta
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4 min readAug 26, 2017

Com recursos próprios, casa destinada ao hip hop se institui na comunidade

A fachada da casa ainda está à espera de um grafite. Os corredores estão no aguardo dos alunos, as paredes sustentam o sonho de uma galera unida pelo hip hop e o som convidativo na entrada do pátio leva visitantes e moradores da região a conhecerem o novo espaço localizado em Esteio. A Casa de Cultura Hip Hop de Esteio, será inaugurada só em novembro, mas a conquista deste espaço já decorre há cinco anos. Com mais de mil metros quadrados, atualmente é o maior ambiente destinado ao movimento na América Latina. Criado por um grupo de amigos, e com o incentivo do rapper King Nino Brown, o local tem como objetivo propagar e fomentar a cultura.

A casa em processo de construção gera expectativa nos arredores da cidade. Foto: Thais Ramirez/Beta Redação

Rafael dos Santos, integrante do grupo de rap Rafuagi e coordenador de autogestão e sustentabilidade da casa, conta que o desejo do projeto começou em 2012. “Um ano antes de termos esta ideia, tivemos a iniciativa de criar uma lei aprovada pelo município, em que todo o mês de novembro será comemorada a semana do hip hop em Esteio. Neste mesmo ano, surgiram vários eventos em partes da cidade para comemorar, e em 2012, resolvemos criar um espaço para centralizar esses eventos”, conta Rafael.

Na busca de recursos para a construção da casa a equipe se inscreveu, em 2013, na consulta popular do Estado (Orçamento Participativo), que visa recursos para projetos. Os onze mil votos fizeram com que a casa ganhasse o direito de receber 258 mil reais do Estado. Em 2014, eles participaram novamente, e a nova vitória garantia 115 mil reais, para um estúdio público. Mas estas conquistas não foram celebradas, pois até hoje nenhum desses valores foram pagos pelo Estado.

Por telefone, o funcionário da Secretaria de Planejamento do Estado, informou à Beta Redação que os governos passados deixaram passivos de 2014 para trás. Ele afirma que, de 2015 até hoje, todos os orçamentos foram cumpridos e que cabe uma articulação entre o Conselho Regional de Desenvolvimento da Região Sul, COREDE, e a Secretaria de Cultura do Estado para a tentativa de inclusão do projeto em futuros orçamentos. A Beta entrou em contato com a Secretaria de Cultura do Estado, que informou a existência de uma norma do Plano Orçamentário, que destina as sobras de projetos futuros para projetos antigos, mas segundo o funcionário, “não anda sobrando verbas”.

A descrença na política levou alguns jovens ao desânimo, os desmotivando e pensando que seria o fim do empreendimento. Mas o tempo e a força dos coordenadores levou a esperança para acreditar novamente no projeto. Hoje, com um espaço cedido por uma moradora de Esteio, o pessoal trabalha com recursos próprios, fechando parcerias e recebendo doações para a conclusão da casa.

Empolgado com a empreitada, Rafael conta os planos futuros para a casa. “Teremos duas bibliotecas, uma lan house pública, um estúdio para gravação de músicas, serviço de assistência social, hostel solidário, academia ao ar livre, quadra poliesportiva e salas de MC, grafite, teatro e dança.”

Cenário atual é um dos propósitos para a iniciativa

“O Rap fala, o Hip Hop salva” essa é a frase que vem à cabeça de Geovane Neves, coordenador executivo do projeto, quando pensa em Hip Hop. Para ele, o movimento é um jeito de viver, uma filosofia que abraça quem chega e que pensa utopicamente na transformação do mundo através de suas linguagens. “Ele alcança diversos locais que o governo não consegue chegar e assim promove a mudança através da inclusão, injetando autoestima a quem participa, seja rimando, discotecando, dançando, grafitando, estudando e passando os ensinamentos adquiridos”, relata.

Geovane destaca que, para muitos, a cultura hip hop chega na sua forma versada através do rap, e isto faz com que no imaginário coletivo ele se restrinja apenas a esta formação. A cultura deste estilo é classificada em três categorias: rap, break e grafite, mas assim como Geovane, Rafael acredita que é o rap que está mais presente na vida da nova geração. “Esse também é um dos objetivos da casa: divulgar a cultura como um todo”, conta. Suzane Cardoso, coordenadora pedagógica do local, conta que há várias esferas e que é preciso lutar por um espaço com representatividade e respeito. As oficinas, que serão coordenadas por ela, irão começar no final de fevereiro de 2018, no contra turno escolar. A seleção dos alunos será feita por meio de um edital que será publicado nas mídias da casa, priorizando o atendimento de jovens que se encontram em vulnerabilidade social.

Se liga aí

Dia 26/08, às 19h, acontecerá o Slam Liberta, evento de declamação de poesias. Os interessados em declamar ou assistir às apresentações, podem comparecer na sede da Casa de Cultura Hip Hop, localizada na rua José Guimarães, 203, em Esteio.

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