Proposta sobre armamento entra em pauta para angariar votos de eleitores indecisos

Lula e Bolsonaro, candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto, divergem sobre o tema

Elias Vargas
Redação Beta
4 min readSep 8, 2022

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Após a chegada ao poder, presidente Bolsonaro cumpre sua promessa de campanha. (Foto/Reprodução: Freepik)

As eleições de 2022 vêm acirrando a disputa entre as principais candidaturas ao cargo do Poder Executivo. No entanto, algumas propostas podem ser decisivas desde a campanha, com o intuito de convencer os eleitores indecisos, reforçar a lealdade dos apoiadores e ganhar espaço no cenário nacional.

Os dois primeiros candidatos nas pesquisas, Lula e Bolsonaro, apresentam pontos de vista diferentes em relação ao armamento da população — pauta emergente na campanha política bolsonarista desde o período eleitoral de 2018.

Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz não acredita que tal política armamentista consiga atrair votos para Bolsonaro. “Este tipo de assunto não ajuda nenhum candidato a angariar votos. A população sente no dia a dia os perigos que as armas trazem, tanto na esfera privada (riscos de acidentes, suicídios e homicídios na família), mas também o custo social enquanto sociedade (números de crimes)”, diz.

“Com mais casas com armas, mais lojas, clubes de tiro, crescem também desvios que levam armas para mãos de criminosos.” Bruno Langeani

Após vencer a eleição, o atual presidente colocou em prática seu projeto e, com o decreto n° 10.030/19, facilitou a compra de armas. O número de armas registradas no Brasil cresceu entre 2021 e 2022, conforme dados do Fórum de Segurança Pública e do Certificado de Registros (CR) ativos de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CAC) no SIGMA/Exército Brasileiro.

O advogado e armamentista Antônio Carlos de Souza Santana, conhecido como Tony Santana, que também atua dando palestras sobre armamento pelo Brasil, o aumento do número de armas auxilia o crescimento da economia e a legítima defesa.

O advogado Tony Santana acredita que, com a redução dos homicídios no país e com o aquecimento da economia no setor bélico, essa proposta vai influenciar os eleitores. “A vantagem (de uma arma) é que trata a todos os desiguais, igualmente. Lembro que o próprio bandido teme pela sua vida e com uma arma você iguala a situação de submissão”, comenta.

Roberto Uchôa, policial federal especializado em gestão de segurança pública, comenta que o cenário eleitoral não vai mudar, pois Bolsonaro fala para o seu público e os simpatizantes de armas. “Esse discurso sobre armamento, na minha visão, pode afastar o eleitor de centro, que não está muito afim de polarização sobre esse assunto de armas de fogo”, finaliza.

A Lei 10.630/21, decretada pelo presidente Bolsonaro em 12 de fevereiro de 2021, dispõe sobre aquisição, cadastro, registro, porte e comercialização de armas de fogo e de munição. Com isso, o número de pessoas com Certificado de Registro (CR) de arma de fogo no SIGMA — CACs em 2021 era de 515.523, e em 2022 é de 673.818. Um aumento com mais de 158.000 pessoas.

Para Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, o aumento do número de armas tem gerado um retorno de crescimento de crimes banais, tanto no contexto doméstico, quanto em brigas de trânsito e em bares, além de um aumento de feminicídios.

Conforme Bruno, esse reflexo do armamento da população deixa a sociedade mais insegura. “Bolsonaro foi eleito em 2018 e, apesar desta posição armamentista, a política de armas afasta os eleitores, pois uma grande parcela da sociedade acredita que somente a polícia deve andar armada”, elucida.

Aumento do número de armas de 2005 até 2022.

Santana destaca o referendo de 2005, na qual a população disse “não” a proibição do comércio de armas de fogo no Brasil com um total, segundo o TSE, 63,94% ou seja, cerca de 59.109.265 eleitores. “A Nação escolheu a manutenção das armas. Em sentido contrário, o PT junto à esquerda busca o desarmamento da população como sendo uma bandeira de estado”, completa.

“Não discrimino aquele que opta por não ter uma arma, mas não podemos punir aquele que necessita ou quer reforçar a sua segurança.” Tony Santana

Roberto Uchôa relata que a venda das armas no Brasil foi um acesso facilitado para os traficantes. “Tempos atrás, as armas entravam de maneira ilegal ao Brasil, e hoje as organizações criminosas conseguem comprar de maneira legal no mercado interno”, comenta.

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