Aumento de disciplinas e falta de apoio técnico são problemas na implementação do Novo Ensino Médio
Mudanças no modelo, na prática, encontram falhas para professores e alunos
“O Novo Ensino Médio quer promover o aluno a protagonista do seu aprendizado […]. Na teoria, é algo excelente, mas não há preparo nem dos professores e, muito menos dos alunos, para que na prática seja algo positivo”, sintetiza a supervisora e vice-diretora da rede pública estadual em Santo Antônio da Patrulha (RS), Carla Farias.
A sensação de despreparo é comum aos profissionais e estudantes com a implementação do Novo Ensino Médio (NEM), estipulado pela Lei nº 13.415 de 2017. Com alta em reclamações e denúncias, o método está em fase de avaliação e consulta pública. A previsão do Ministério da Educação é de que o cronograma passe por suspensão durante 60 dias após o período avaliativo, para reestruturação da política.
Com o aumento da carga horária de 200 horas por ano e a definição de trilhas de aprendizagem, a quantidade de matérias oferecidas também cresceu. Ao todo, por exemplo, o segundo ano do ensino médio conta com 18 disciplinas, entre elas as tradicionais preexistentes, três matérias específicas das trilhas e duas matérias voltadas ao protagonismo estudantil. As trilhas direcionam o aluno para o aprofundamento de conhecimentos específicos dentro de uma das cinco áreas: linguagens, matemática, humanas, natureza ou formação técnica. Entre as disciplinas focadas em protagonismo pessoal que contemplam os três anos, estão Mundo do Trabalho, Projeto de Vida e Cultura e Tecnologias Digitais.
Para a orientadora e professora da rede pública estadual Virgínia Marques, o protagonismo do adolescente deve ser trabalhado, mas o NEM falha na medida em que os conhecimentos ofertados são rasos. Os 30 horários semanais diluídos permitem que seis disciplinas tenham apenas um encontro, período insuficiente para aprofundar o aprendizado.
Do outro lado da equação, estudantes relatam sobrecarga com o aumento de matérias. “Os impactos foram grandes, porque [o NEM] inclui matérias desconhecidas. Fica complicado tentar entender tudo e conseguir estudar para tudo”, relata a estudante do primeiro ano do ensino médio, Ana Clara, 15 anos.
O que mudou com o Novo Ensino Médio
Fonte: Governo Federal e MEC
Divisão entre Formação Geral Básica (FGB), o ensino tradicional, e Itinerários Formativos (IFs), com disciplinas específicas de cada trilha.
Trilhas de aprendizagem: o aluno pode escolher entre Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza ou Ciências Humanas e Sociais; ou ainda, em uma formação técnica e profissional que poderá ser ofertada pela escola.
Carga horária mínima ampliada de 2.400 horas para 3.000 horas durante todo o ensino médio — aumento de 200 horas por ano.
Distribuição de matérias: as aprendizagens essenciais serão distribuídas em, no máximo, 1.800 horas e os itinerários formativos devem ocupar, no mínimo, 1.200 horas.
Ou seja, haverá a diminuição de carga horária de matérias existentes, como geografia e história.