Qual é o futuro de Moro?

Beta Redação conversou com especialistas para entender a atual situação do político e o que pode vir a acontecer nos próximos anos

Tamires Trescastro
Redação Beta
5 min readOct 24, 2019

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Primeiros meses do ex-juiz Sergio Moro no cargo de ministro da justiça estão sendo conturbados. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

De ex-juiz a ministro da Justiça, Sergio Moro agora parece caminhar em corda bamba com o governo. Ele ficou conhecido e se consagrou em virtude da Operação Lava Jato. Popularmente aclamado pelo público como aquele que veio para livrar o país da corrupção, inicialmente concedeu algumas entrevistas em que falava que jamais entraria para a política, pois seu dever na sociedade era trabalhar com a justiça.

Logo após as eleições em 2018, recebeu e aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o Ministério da Justiça. Agora que está inserido neste meio, teria Moro a intenção de concorrer a algum cargo nas próximas eleições? Em entrevistas à Beta Redação, o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) William Natozaki, o mestre em Direito Público da Faculdade de Integração do Ensino Superior do Cone Sul (FISUL) Leonardo Grison e o analista internacional e mestrando em Ciências Sociais do Instituto Humanitas Wagner Fernandes de Azevedo explicam um pouco de suas percepções do cenário político vinculado à carreira de Moro.

Troca de favores

Deixando o cargo de juiz para se tornar ministro da Justiça, Moro criou, para muitos, a expectativa de uma atuação exemplar no ministério. Mas, para o cientista político William Natozaki, a questão se assemelha mais a uma troca de favores, pois Moro entrou no governo como sustento de Bolsonaro e, hoje, deve este favor. Indo ao encontro dessa ideia, o analista internacional Wagner Fernandes de Azevedo diz que, embora Moro seja submisso às decisões de Bolsonaro, ele permanece no cargo de político porque tem ganhos com isso e, talvez, almeje uma indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF). “Se a ruptura não aconteceu é porque ambos são devedores e credores, e essa relação funciona para os dois lados”, analisa Wagner.

Já para o mestre em Direito Público Leonardo Grison, é preciso entender que Moro ainda é novato na política e que, para assumir esse cargo, abriu mão de benefícios maiores, inclusive financeiros, que tinha como juiz. Portanto, acredita que não abandonaria o ministério. E, embora tenha abalos na imagem, somente no ano que vem, quando o primeiro ano sob o comando de Bolsonaro tiver se passado, será possível fazer previsões.

“O Sergio Moro era juiz e hoje ele é político. O que foi revelado pelo The Intercept é da época em que ele era juiz. Hoje, sua realidade é outra. Então não são ações que ele está fazendo agora, enquanto ministro. Sendo assim, é difícil de especular uma saída do Moro”, expõe Leonardo.

Na quarta-feira, 16, a capa do jornal O Estado de S. Paulo trazia estampada a imagem do presidente Jair Bolsonaro (PSL) fazendo o símbolo de arminha com a mão. A diferença é que, na imagem capturada pela fotojornalista Gabriela Biló, na mira do presidente estava Moro, de cabeça baixa. A fotografia repercutiu por diversos veículos online. “A foto pode ser considerada como um símbolo e um sintoma da vassalagem a que se submete Moro diante de Bolsonaro”, conclui William.

O Estado de S. Paulo divulgou fotografia que gerou repercussão na internet. (Foto: Reprodução O Estado de S. Paulo, 16/10/19 — Gabriela Biló)

Reputação em crise

Estando em um governo, desvencilhar-se de sua imagem perante a população não é possível. E, nestes primeiros meses, os índices de aprovação do governo e do presidente vêm caindo constantemente. Mas Wagner ressalta que essa reprovação ainda não chega ao nome do ministro. “Moro segue sendo a pessoa mais popular do governo e ainda repousa no imaginário construído como juiz que combateu a corrupção do PT, mesmo com as denúncias da Vaza Jato. Ou seja, me parece que a imagem ainda positiva do ex-juiz associa-se mais ao antipetismo, que é justamente maior que o bolsonarismo”, ressalta.

A ideia de que Moro ainda é o juiz que mais combateu a corrupção no país é uma via favorável para a construção de uma reputação diante da sociedade. De tal forma, poderia usar até mesmo as denúncias da Vaza Jato a seu favor. Afinal, sua imagem é melhor que a do presidente, destaca Wagner.

Já Leonardo comenta que a população brasileira tem o costume de aprovar atitudes que seguem o ditado popular de que “os fins justificam os meios” e que, de tal forma, Moro pode vir a ser reconhecido como o justiceiro que passou por cima das regras do sistema para combater a corrupção. “É a lógica de que ele fez muita coisa errada, mas estava prendendo os bandidos”, exemplifica. Ele completa dizendo que embora parte da população não aprove a conduta de Moro, grande parte aprova. Com a oportunidade de usar escândalos a seu favor, junto com a atual popularidade no governo, o ministro poderia fazer desses fatores um alicerce para sua imagem.

Moro 2022?

No último dia 21, em entrevista ao programa Poder em Foco, do SBT, quando questionado, o ministro considerou como “improvável” uma candidatura nas eleições que acontecerão daqui a três anos. Pouco depois, disse que o “futuro está distante”, deixando incerteza em sua resposta. Entretanto, acrescentou que não viria a concorrer contra Bolsonaro e, inclusive, prometeu que o apoiará em uma reeleição, como sinal de lealdade ao político que o chamou para o Ministério.

Para William e Leonardo, o ministro, embora sempre tenha sido visto pela opinião pública como adversário do PT, ainda não teria fôlego para uma disputa nacional, por exemplo. Leonardo acredita que em cargos como de deputado, senador ou governador, ele poderia, sim, disputar com grandes chances de ganhar. Mas, para isso, precisaria construir uma imagem política com feitos realizados enquanto ministro, e não como juiz.

Além disso, também acredita que os escândalos envolvendo os filhos de Bolsonaro podem vir a refletir em Moro, uma vez que ele prega o combate à corrupção e se mantém em um governo envolvido com tais esquemas. A imagem dele depende da situação de presidente, avalia Leonardo.

Na visão de Wagner, para se inserir como candidato a algum cargo, Moro precisaria entender que, em um pleito presidencial, teria que responder principalmente à classe política pelo seu comportamento imoral. Ainda assim, considera que teria chances de ser eleito. “Com certeza, em um pleito presidencial, por exemplo, ele sairia na frente de muita gente. Seria também muito difícil para os partidos concorrentes minarem uma ampla base de apoio antipetista que se formará”, completa.

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