Poluição do ar diminui durante pandemia do novo coronavírus

Menor tráfego de veículos e redução da produção industrial são principais fatores para queda na emissão de gases poluentes

Helen Appelt
Redação Beta
5 min readApr 14, 2020

--

Desde que as medidas de isolamento social entraram em vigor para combater a proliferação da Covid-19 a população vem sentindo os impactos negativos de ordem econômica, social e política. Contudo, existe um efeito colateral positivo da quarentena: a poluição do ar reduziu significativamente em várias regiões do mundo. No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro apresentam maiores contrastes na emissão de poluentes com relação ao período pré-isolamento.

São Paulo é um dos locais em que a qualidade do ar melhorou depois da pandemia do novo coronavírus (Foto: InternetAgeTraveler / Flickr)

Em São Paulo, a qualidade do ar já apresenta melhoras. Segundo o Boletim Diário por Poluente, da Cetesb, nesta terça-feira (14) apenas uma cidade ficou com qualidade ruim e quatro com a classificação moderada. No relatório geral do estado, atualizado às 11h de terça, as 48 horas anteriores apresentaram índice de 37 microgramas de MP10 (Material Particulado com Diâmetro Menor que 10 micrômetros). O resultado é positivo, pois o limite para a qualidade ser considerada “boa” é de 50 microgramas.

“A diminuição de Material Particulados e Partículas Inaláveis (emitidos pela frota veicular e indústrias) reduzirá as contaminações de HPA e metais pesados nos seres humanos e no meio ambiente”, pontua Claudinei Guimarães, professor do Programa de Engenharia Ambiental da UFRJ.

Entre as cidades com a pior qualidade do ar no Brasil está o Rio de Janeiro. De acordo com dados do observatório municipal MonitorAR Rio, em comparativo com o primeiro dia do ano, a mudança está sendo significativa. Guimarães explica que “foram verificadas as diminuições de dióxido de enxofre (SO2), o dióxido de nitrogênio (NO2), o monóxido de carbono (CO) e materiais particulados (MP)”. Também, segundo o professor, houve a diminuição da sensação térmica nos centros urbanos, “pois além destes poluentes, ocorre a diminuição dos gases de efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aumento do aquecimento global”. Para ele, a poluição do planeta é um dos grandes assuntos de saúde pública. Essa melhoria momentânea na qualidade do ar permite que a população desfrute de mais qualidade de vida. “Hoje podemos ver melhor as estrelas e a Lua à noite, podemos respirar melhor, a temperatura não está tão quente nos centros urbanos”, aponta.

Guimarães lista os principais poluentes para a atmosfera. Sendo ele, dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3) e materiais particulados (MP). O MP é composto por Partículas Inaláveis (PI), que têm em sua composição hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) e metais pesados. “Esses compostos são tóxicos e cancerígenos em baixas concentrações”, explica o professor. De acordo com ele, o MP é um dos que atingem diretamente o ser humano, podendo ser dividido em duas categorias:

(Arte: Helen Appelt/Beta Redação)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a quantidade de poluentes aceitável para um metro cúbico de ar é, no máximo, 20 microgramas. Porém, no Brasil, tais poluentes atualmente são regulados pela Resolução CONAMA 491, de 19 de novembro de 2018 , aumentando o limite limite máximo de microgramas:

(Arte: Helen Appelt/Beta Redação)

Falta de recursos

No Rio Grande do Sul, o cenário para a verificação da qualidade do ar é precário. As estações de análise localizadas em Porto Alegre deixaram de funcionar em 2010, sendo efetivamente desativadas em 2017 por falta de recursos. No site da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luís Roessler (Fepam) ainda é possível acompanhar o monitoramento de quatro estações localizadas nos municípios de Guaíba, Gravataí, Triunfo e Esteio, esta última de forma esporádica. O último boletim apresentado data do primeiro dia do ano de 2020, nele consta que a classificação do ar é boa.

Qualidade de vida

De acordo com a OMS, pessoas que possuem doenças respiratórias crônicas, como asma e bronquite, fazem parte do grupo de risco da Covid-19. Com a diminuição na emissão de poluentes, essas pessoas ficam menos vulneráveis. De acordo com a informação dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018, nove em cada 10 pessoas respiram ar poluído e 7 milhões morrem devido a problemas respiratórios e cardiovasculares causados pelas partículas finas que respiram.

(Arte: Helen Appelt/Beta Redação. Fonte: OMS)

O pneumologista Leonardo Dias Ribeiro explica que as partículas poluentes são inaladas e chegam às vias aéreas podendo causar alergias e agravar doenças como asma e bronquite. Sobre este momento em que a poluição diminui, o médico afirma que “há uma melhora nos sintomas respiratórios de pacientes com rinite, asma e bronquite, pela diminuição das partículas inaladas”.

Segundo o professor de Engenharia Civil do Programa de Pós-graduação em Gerenciamento de Resíduos da Unisinos Carlos Mendes Moraes, as pessoas são expostas aos poluentes atmosféricos de duas formas: aguda ou crônica. “Na forma aguda, a exposição à concentração de poluentes atmosféricos é maior em um curto período, e na crônica, essa exposição acontece em concentrações menores por um longo período de tempo. O isolamento social pode atenuar os efeitos de ambos tipos de exposição, diminuindo, por exemplo, os sintomas e crises de asma em uma pessoa portadora desta doença”, explica Moraes.

Feliciane Andrade Brehm, professora de Engenharia Civil do Programa de Pós-graduação em Gerenciamento de Resíduos da Unisinos, acredita que a melhora do ar durante esse período de recolhimento social é uma experiência que reforça a necessidade de medidas socioambientais. “Uma das medidas é viabilizar o uso de fontes de energia limpas e renováveis, como a solar e eólica. Essas fontes energéticas vêm sendo discutidas e implementadas no mundo inteiro. Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estipulados pela ONU, cinco delas estão diretamente ligados às questões de poluentes atmosféricos”, destaca.

--

--