Quase 90% da população brasileira se automedica

Números da pesquisa realizada em 2022 reforça o alerta do Dia Nacional do uso Racional de Medicamentos

Lohana Souza
Redação Beta
4 min readMay 2, 2023

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Automedicação é um hábito comum para maioria dos brasileiros. (Foto: Banco de imagens Pexels)

O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio, objetiva alertar as pessoas quanto aos riscos à saúde causados pela automedicação. Hoje, pelo menos 89% dos brasileiros usa remédios sem prescrição médica, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Pós- Graduação para o Mercado Farmacêutico em 2022.

Ainda segundo o estudo, os principais remédios utilizados no país são analgésicos (64%), antigripais (47%) e relaxantes musculares (34%). Além disso, 6% da população usa remédios devido possíveis quadros de ansiedade, insônia e estresse.

A médica clínica Sama de Freitas, clínica geral do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, e da Emergência do Hospital Unimed, em Novo Hamburgo, relata que os índices são preocupantes. Ela explica que, cada vez mais, os pacientes chegam aos consultórios abordando sintomas pesquisados no Google.

“Vivemos em mundo acelerado, de muita informação. No Brasil, temos uma população que trabalha muito e ganha pouco, o que acaba sendo ansiogênico e estimula a prática da automedicação”, reflete.

Para a médica, este é um problema complexo e precisaria de uma série de medidas a longo prazo para amenizar o hábito da automedicação frequente. “É extremamente importante educar a população, limitar o uso de propaganda de remédios nos meios de comunicação, exigir a receita na hora da compra e também realizar a fiscalização nas farmácias, para verificar se realmente estão exigindo receita”, enfatiza.

É justamente a rotina agitada, a falta de tempo, e estresse diário que a professora de letras Natália Bueno cita como alguns dos motivos para justificar sua automedicação frequente.

“Eu trabalhava durante o dia, e estudava à noite. Ao final do rotina, estava exausta. Comecei a ter minha bolsinha de remédios para dar conta. Eram [remédios] para dor de cabeça, dor muscular, gastrite e insônia. Sei que não é correto, mas tomar um relaxante muscular ou um remédio para dor de cabeça fazia parte do meu dia, até para conseguir entregar todas as demandas”, desabafa.

Ainda segundo os dados 35% dos jovens se declaram ansiosos, de acordo com as informações da Unicef.

Brasileiros mais ansiosos

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, 18,6 milhões de brasileiros sofriam de ansiedade, fator decisivo para a liderança do Brasil no ranking dos países mais ansiosos. Pedro Barbieri, psiquiatra do Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), de Novo Hamburgo, adverte que, em determinadas situações, a ansiedade é um sentimento normal, que funciona como uma espécie de alarme.

“Quando nos sentimos em risco, é natural que toque um alarme em nossa cabeça. O problema é quando este alarme toca sempre, sem um risco iminente. Então, classificamos como transtorno de ansiedade”, detalha o médico. “Existe um aumento na procura por atendimento por auxílio à saúde mental, mas infelizmente ainda sentimos um tabu com relação a procura do tratamento”, avalia.

40% dos brasileiros buscam informações sobre saúde na internet. (Foto: Banco de Imagem Pexels)

A população brasileira também tem buscado na internet cada vez mais informações sobre saúde. Aproximadamente 40% dos brasileiros fazem autodiagnóstico na internet, segundo os dados do ICTQ. Recentemente surgiu o ChatGPT, uma nova tecnologia de inteligência artificial (IA) que responde perguntas e fornece informações em uma linguagem cotidiana, como se o usuário estivesse simplesmente falando com outra pessoa.

A América Latina somou 303 milhões de visitas ao sistema de IA, das quais 73 milhões partiram do Brasil, segundo dados da SimilarWeb, uma ferramenta de análise de sites que ajuda a conhecer o mercado. Para a médica Sama Oliveira, é preciso usar as ferramentas com atenção.

“As plataformas podem acertar às vezes o diagnóstico, mas por muitas vezes acabam errando, direcionando para um laudo grave, ou minimizando alguns casos que realmente precisam de acompanhamento médico. Então, quando o assunto é relacionado à saúde, devemos sempre procurar ajuda especializada”, ressalta.

A farmacêutica Bianca Dihl, que atua há 10 anos na área, acredita que a quantidade excessiva de farmácias também facilita a automedicação. Só no Rio Grande do Sul, o número de farmácias e drogarias totaliza 5.658, de acordo com o Conselho Regional de Farmácia.

“As farmácias estimulam as vendas dos funcionários através de metas. Isso acaba induzindo os vendedores a incentivarem os clientes a comprar medicamentos desnecessários ou sem prescrição médica. Por isso, a data de 5 de maio é tão importante — serve para lembrar do uso consciente de medicamentos. Precisamos falar, divulgar, orientar a população de que o correto é evitar a automedicação”, pontua a farmacêutica.

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