Quem se importa com a cidade?

Iniciativa de empreendedorismo social conecta o urbano com as pessoas

Vanessa Souza
Redação Beta
5 min readMar 21, 2018

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(Foto: site translaburb.cc)

O Translab nasce a partir do questionamento que o título carrega. Ele funciona como um catalisador de projetos com viés de empreendedorismo social e reúne pessoas interessadas em propor ações de melhorias urbanas para Porto Alegre. “O objetivo é apresentar novas visões de como participar da sociedade de maneira propositiva, tanto na criação de novas maneiras de trabalhar, ajudar ou de propor projetos de interesse social. Para isso, entender as lógicas de conhecimento aberto, horizontalidade, transparência, empreendedorismo social, economia criativa, sustentabilidade entre outros”, explica o co-fundador e arquiteto, Leonardo Brawl Márquez, 36 anos. Segundo ele, desde o começo, há cerca de 8 anos, até agora, ocorreram muitas mudanças, e atualmente a empresa se fundamenta como um Laboratório Cidadão e um Instituto de Pesquisa em Inovação Social.

Leonardo Brawl Marquéz é arquiteto e co-fundador do TransLab.URB. (Foto: Denison Fagundes)

Mudar alguma realidade e resolver um problema é o que faz o empreendedorismo social e a economia colaborativa, práticas que norteiam o Translab. Diferente dos tradicionais modelos de negócios, essas iniciativas têm o objetivo de criar valor para a sociedade, desenvolvendo modelos economicamente sustentáveis, disseminando as suas inovações e procurando aumentar o seu impacto. Esse tipo de negócio traduz o comportamento de uma geração: uma pesquisa da Deloitte, que promove consultoria e estudos na área de empreendedorismo, mostra que 73% dos millennials, os hiperconectados da geração Z, se preocupam em ter uma carreira que esteja atrelada a um propósito, que cause um impacto social. Trabalhar simplesmente em troca de um salário no fim do mês não inspira essa nova geração.

Embora o Translab não seja uma empresa privada, o instituto atua em projetos de interesse social onde as pessoas envolvidas tem que ser remuneradas, obtendo capital de diferentes fontes, desde contratações de prestações de serviço, editais governamentais ou de empresas ou porcentagens de serviços fornecidos por projetos que foram desenvolvidos dentro do contexto do instituto de pesquisa. “Temos várias modalidades de pertencimento/aproximação, algumas pessoas atuam na gestão da entidade e outras integram o chamado “ecossistema criativo”, que são as pessoas conectadas pelas temáticas transdisciplinares de projetos variados, como economia criativa, arte, urbanismo, pedagogia, tecnologia etc.”, explica Leonardo.

Projetos do Tanslab

Além de estudos e consultorias em inovação prestadas para empresas e órgãos públicos, o instituto cria diversos projetos, como o programa Visionários da Cidade, que incentiva jovens brasileiros da periferia ao empreendedorismo social, o projeto A Pezito, que consiste em experiências guiadas a pé pela cidade, reforçando a convivência, cidadania e saúde na mobilidade de crianças, e o TransLAB.URB, coletivo autônomo que trata sobre questões acerca das Cidades. Este último, busca a melhoria dos espaços públicos urbanos, criando, difundindo e testando diversas metodologias que possibilitem transformações desses espaços dentro das lógicas do ativismo cidadão e da cidade como um bem comum.

O TransLAB.URB desenvolve diversos projetos voltados ao aproveitamento e a ocupação dos espaços e mobilidade urbana. Como o Vagas-Vivas, que consiste em uma ocupação temporária de algumas vagas de estacionamento de carros, transformando-as em área de convivência, de lazer e área verde, passando a se chamar de parklets quando oficializadas. A intenção de refletir sobre o uso do espaço público, cada vez mais tomado por automóveis — segundo anuário lançado em 2017 pela Confederação Nacional do Transporte, a frota de veículos no Brasil aumentou 194,1%, de 2001 para 2016, chegando ao número de 93,8 milhões de veículos registrados no país até o ano da pesquisa.

Ação na Semana Acadêmica da Faculdade de Arq. & Urb. UFRGS, Porto Alegre, 2014. (Foto: site translaburb.cc)

Outro projeto do coletivo é o Rua Para Pessoas. Feito em parceria com o escritório 0E1 Arquitetos e o coletivo Mobicidade, a ação ofereceu uma oficina de redesenho e humanização de três setores de ruas do Centro Histórico de Porto Alegre. As propostas foram entregues à prefeitura ao final do programa, para serem desenvolvidas por um GT Municipal composto por agentes da Sociedade Civil, Iniciativa Privada, Academia e Administração Pública.

E tem ainda o Arquitetura Efêmera Inflável, um projeto do conceito chamado de Placemaking, que promove intervenções e geram debates sobre marcos urbanos e convivência. O WikiPraça PoA, que tem como proposta a cocriação, formando um local de discussões sobre espaço público, empoderamento, ocupação, invasão, cidadania, participação e tudo o que está conectado com novas práticas de atuação, ativismo e pertencimento à cidade. Além de atividades como a criação de um um guia de como partir da ideia de ter uma horta no condomínio, até chegar nas ações necessárias para iniciar este processo e a promoção de exercícios de percepção espacial no ambiente urbano.

Estrutura intervenção Arquitetura Efêmera Inflável (Foto: site translaburb.cc)
Encontros temáticos do WikiPraça PoA sobre questões de gênero, cidadania e segurança pública, sempre usando o local como ponto de partida das conversas. (Foto: site translaburb.cc)

O coletivo ainda publicou um vídeo, em 2016, que foi o resultado de uma pesquisa sobre a relação da cidade de Porto Alegre com a área portuária.

Leonardo conta que, no momento, o TransLab está focando em editais internacionais que possibilitem projetos mais duradouros. Conforme dados de 2016 da Força Tarefa Brasileira de Finanças Sociais, o Brasil tem atualmente cerca de 20 fundos, que entre 2014 e 2015, levantaram mais de US$ 100 milhões em investimentos direcionados a empresas de impacto social — esse número representa quase metade de tudo que foi investido na mesma área nos últimos 10 anos. E a perspectiva de crescimento para iniciativas com esse viés são altas — o empreendedorismo social envolve entre 2,5% a 5% da população europeia, e é um motor importante para o aumento da inclusão, justiça e prosperidade, segundo dados da Global Entrepreneurship Monitor. Além disso, um artigo do Financial Times de setembro do ano passado (“The Big Read — The Ethical Investment Boom”) revela que, desde a crise financeira de 2008, estratégias de investimento assentes com os critérios ESG — Environment, Social, Governance (meio ambiente, social e governo) trazem mais retorno do que estratégias de investimento mais genéricas ou sem preocupações sociais.

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