Quem são os brasileiros na hora de lidar com dinheiro?

30% da população se encaixa no perfil Construtor, mas a geração Z veio para mudar isso

Karina Verona
Redação Beta
5 min readMay 8, 2019

--

Brasileiros querem economizar dinheiro e quitar dívidas. (Imagem: Megan Rexazin)

Juntar dinheiro e sair do vermelho. De acordo com uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), essas são as duas principais metas financeiras dos brasileiros. A forma de lidar com o dinheiro é diferente para cada pessoa, que procura atingir essas metas ao seu modo. No entanto, a nova Geração demonstra mudanças no comportamento financeiro.

Um estudo elaborado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), analisou o comportamento dos brasileiros em relação às finanças pessoais. A entidade identificou cinco perfis que ilustram o comportamento dos brasileiros neste sentido, são eles: o Construtor, o Planejador, o Camaleão, o Despreocupado e o Sonhador.

Estando em maioria em quase todas as gerações, o Construtor segue sendo maioria no Brasil, representando 30% da população. O perfil representa pessoas que vão devagar e sempre. Crescem, porém em um ritmo lento. Sempre poupam, mesmo que em pequenas quantidades. Não fazem investimentos arriscados, pois têm necessidade de segurança. No entanto, em comparação com outras Gerações, o Construtor vem perdendo espaço.

Ao analisar a geração mais jovem, a Z (nascidos até 1996), o estudo revelou que ela é majoritariamente formada pelo indivíduo Planejador. Representante de 29% do grupo. É a única das gerações a apresentar esse resultado. Para os Baby Boomers (nascidos entre 1945 e 1964), para a geração X (nascidos entre 1965 e 1977) e até mesmo para a geração dos Millennials (nascidos entre 1978 e 1995), o perfil prevalente é o Construtor.

O planejador, assim como o Construtor, apresenta uma constância de crescimento, entretanto com uma rapidez maior. Ele maximiza seus ganhos, está sempre investindo e fica alerta para oportunidades. Além disso, costuma ter objetivos definidos e trabalha para alcançá-los no prazo estabelecido.

Em segundo lugar entre os brasileiros está o perfil Camaleão, que reflete o comportamento de 29% das pessoas. Quem é classificado como Camaleão certamente tende a ser bem adaptável.

Os pertencentes a esse grupo precisam ser criativos para conseguir pagar as contas no final do mês. A maioria não consegue economizar, pois “nunca sobra para guardar”, independentemente de quanto dinheiro está gerando. Não trabalham para ter luxo, estão conformados, de uma maneira positiva, com a sua vida financeira. Se desdobram para conseguir pagar as contas e não dificilmente entram no crédito para conseguir pagar as contas.

O consultor financeiro Luiz Miola conta que mais de 50% dos clientes que a sua empresa atende ainda se enquadra no perfil Camaleão. Na sua opinião, há motivos pelos quais uma parcela tão grande da população reproduz as condutas do perfil Construtor e Camaleão. “São perfis de conforto. Vivem o dia a dia. Para mudar esses perfis e sair da zona de conforto para uma posição de planejamento e controle exige-se esforço”, explica.

Igualmente importante para se entender o comportamento financeiro do brasileiro, o perfil Planejador condiz com os hábitos de 22% da população, seguido por Despreocupado, representando 11%, e, por último, os brasileiros somam 6% que se encaixam no perfil Sonhador.

Imediatismo e inconstância são adjetivos que podem explicar o que é ser um indivíduo do grupo Despreocupado. São pessoas que não planejam e não se preocupam muito. Deixam as coisas irem acontecendo, confiam no acaso, são otimistas. A possibilidade de se ter esse comportamento muitas vezes vem do fato de que esse Despreocupado tem alguém com quem contar financeiramente — geralmente pais ou avós — caso as coisas deem errado.

Em menor número dentre os cinco perfis, o Sonhador, que seguidamente é também um empreendedor, pensam mais longe. Veem o dinheiro como meio de alcançar seus grandes sonhos, trabalham para um propósito maior.

Mas, afinal, o que faz com que a nova geração seja diferenciada?

Para o coach financeiro André Machado, o grande fator de mudança é a liberdade de escolha. Enquanto as pessoas pertencentes às gerações anteriores trabalham e obedecem pois é essa dinâmica que conhece, a geração Z não simplesmente aceita isso. “A nova geração está tendo mais liberdade para questionar os modelos. Se o modelo não faz sentido para ela, ela está mais resistente a se engajar nesse modelo que não faz sentido para ela”, justifica André.

O aumento do número de indivíduos no grupo Sonhador é outro indicador dessa alteração de conduta e pensamento da geração Z. 14% dos mais jovens (qual idade) se encaixam no perfil Sonhador, número que não passa dos 5% em qualquer outra geração. Mas há um contraponto: o número de Despreocupados também é consideravelmente maior: 17% da geração Z se enquadra no perfil.

Fabiana Machado, também coach financeira, pensa que um dos erros da nova geração é querer ser livre, fazer suas próprias escolhas, mas não assumir responsabilidade total por sua vida financeira. “A gente vive um momento de liberdade de escolha, mas tem que ter o cuidado de olhar para a realidade, senão você fica dependentemente de alguém pagar a conta”, pondera. “Muitos querem ser livres mas mantém o pensamento de que ‘se der errado eu volto para casa’”.

Essa resistência em assumir independência financeira é consequência de outros comportamentos. Para André, a falta de limites e, principalmente de comunicação, é o que gera obstáculos para que se tenha autonomia. “A gente não tem um modelo de educação nas famílias que incentive a economia e independência. O reflexo disso é que se cria uma geração que não gera dinheiro”.

Luiz Miola acredita que a geração Z tem muito o que aprender com as gerações anteriores. O consultor cita dar atenção ao orçamento doméstico, dar valor a pequenas quantidades de dinheiro e procurar maximizar recursos e prazer são hábitos que os jovens poderiam aprender com os mais velhos.

É claro que o contrário também acontece. A criatividade, a individualidade, e a propensão a investir, características predominantes na geração Z, são atributos que podem servir de exemplo. Para Luiz Miola, os jovens, “por terem um comportamento mais global, podem ficar atentos à diversidade de oportunidades existente nos mercados e auxiliarem, por exemplo, seus pais em relação às finanças”.

--

--