Remando sobre as águas do Rio Caí

Conheça a história de dois apaixonados pelos esportes aquáticos

Julio Hanauer
Redação Beta
6 min readNov 11, 2019

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Pedro remando no Rio Caí, em Vila Cristina, na Serra (Foto: Arquivo Pessoal)

Aviso aos navegantes! Esta matéria é sobre remo em mãos daqueles que seguem a direção da água em caiaques e pranchas. Os esportes sobre água ganham, cada vez mais, a atenção de quem busca saúde, novos amigos e bem-estar físico e espiritual. Conheça a trajetória de dois remadores, que adotaram a calmaria do Rio Caí como espaço para canoagem e stand up paddle.

Natural de Montenegro, o advogado Pedro Piqueres, 55 anos, conta que sempre gostou de água e, por anos, sonhou em ter seu próprio barco. Aos 50 anos, em 2013 mirou um caiaque jogado à beira da lagoa do Palmital, em Osório, no litoral do Rio Grande do Sul. Foi ali que seus olhos brilharam para o remo, que se tornou um esporte e para a canoagem, uma doutrina em sua vida. “A ideia é simples: fluir com a água, aproveitando as paisagens, os sons da natureza e as lições de cada dia”. É como descreve a experiência em sua página no Facebook, Pedro ao Mar.

No começo, Pedro não precisou de preparo físico, pois a primeira remada foi de apenas 1.650 metros. Percurso suficiente para descobrir um novo lazer e, posteriormente, um esporte. “Com o tempo, descobri a possibilidade do esporte e, então, não parei mais. Requer dedicação, estudo, investimento e cuidados, pois há riscos. Já pratiquei muitos esportes, inclusive em nível de competição, mas nenhum deles se compara à canoagem”, destaca. Vieram novos caiaques, maiores, melhores, e com dificuldade técnica superior. Segundo Pedro, também foi preciso um remo mais qualificado, colete específico, além dos demais equipamentos como GPS, geolocalizador (Spot), e uma filmadora.

Pedro afirma que estar dentro de um caiaque sobre a água é um aprendizado constante. Segundo o advogado, no início ele foi cauteloso pelo fato de ter começado tarde, sozinho e sem experiência alguma. Estudos, ouvidos atentos e novas amizades fizeram parte do processo de adaptação para boa relação com o equipamento e o ambiente da prática do esporte. Dois anos após o primeiro contato com a modalidade, o caiaqueiro entrou para a canoagem oceânica. “Fiz curso de certificação de iniciação à canoagem e novas portas se abriram. Encontrei amigos de maior qualificação e experiência. Aprendi muito mais”, conta.

Montenegrino participa de diversos encontros de remadores no RS e projeta ir ao Uruguai (Foto: Arquivo pessoal)

A primeira expedição feita pelo remador aconteceu em 2016, quando realizou a descida do Rio Cai, desde Vila Cristina, em Caxias do Sul, até o Rio Jacuí, em Canoas, em parceria com seu instrutor Leonardo Esch. Porém, por motivos de doença do pai do instrutor, Pedro teve que concluir o percurso sozinho. Foram 141 quilômetros durante três dias. “Não foi simples. Novo aprendizado, ganho de experiência e hora de colocar em prática os ensinamentos que recebi, principalmente, em situações de risco. Foi muito legal”, explica.

Preparo físico e superações sobre as águas

Pedro Piqueres revela que uma das maiores dificuldades foi superar um antigo estiramento do ciático, que provocava dor nas costas desde sua adolescência. “Por incrível que pareça, com a evolução do condicionamento e técnica correta de remada, faz dois anos que não sei o que é um relaxante muscular ou massagem”, relata.

De acordo com o remador, a canoagem de expedição, que rende entre 35 e 50 quilômetros por dia, exige preparo físico e endurance — capacidade de resistência aeróbia de longa duração. Em outubro do ano passado, Pedro percorreu cerca 74 quilômetros sem nenhuma dor, quando se deslocou sobre o Rio Caí entre Montenegro e Porto Alegre. Agora, o remador está em fase final de preparo para o desafio de 100 quilômetros em 12 horas. “Ficar até 4 horas sentado em um cockpit (parte interna de um caiaque) de 52 centímetros de largura não é tarefa simples”, comenta.

Os treinos atuais compreendem três dias, somando cerca de 50 quilômetros semanais. “Quando o clima e condições de água favorecem, faço treinos técnicos, tipo rolamento (roll)”, esclarece. Pedro possui uma tabela em Excel, na qual consta objetivos mensal e anual. Além disso, ele estuda o comportamento da água, vento, temperatura, clima e forças da natureza para ter segurança durante os percursos.

Remar sozinho proporciona a Piqueres excelente conexão com a natureza (Foto: Arquivo Pessoal)

O esportista também aprendeu a lidar com imprevistos e a superar dores. No início deste ano, Pedro Piqueres teve uma lesão grave — ruptura total do tendão do pé esquerdo — ao resvalar e cair na beira do Rio Camaquã. Contrariou as recomendações médicas, conviveu com a dor e se recuperou sem cirurgia. Resultado: o remador ainda deve fechar 1.750 quilômetros sobre águas até o final do ano.

Sentado em seu caiaque e remando pelos rios e lagoas, Pedro diz que a natureza comunica a todo instante. “Percebemos desde uma tempestade que se aproxima até o motor de uma lancha na retaguarda. Me sinto tranquilo e bem. Ao amanhecer, literalmente, se observa o despertar da natureza, um show impagável”, conclui.

Stand up paddle pode trazer equilíbrio espiritual

Fabiano posando antes de remar no Cais Porto das Laranjeiras, em Montenegro (Foto: Arquivo pessoal)

Outro montenegrino, é o implantador de sistema Fabiano Dias de Lima, 44 anos. A paixão dele também é água e remo. Porém, o esporte praticado por Fabiano tornou-se popular nos últimos anos aqui no Brasil: o stand up paddle. “Sempre me imaginava em uma prancha, mas, não era o surf que me atraia. Nas águas do Rio Caí, eu vi um remador solitário, o Sandro Müller, e me aproximei para ter informações sobre equipamentos e a prática do esporte”, lembra. No início, o remador usava uma prancha inflável, prática para o esporte. Contudo, para um desempenho melhor, o montenegrino adquiriu o modelo de material mais rígido.

O amor pelo esporte nasceu no rio, em Montenegro, e Fabiano logo começou a praticar no mar, em Garopaba. Mas, a paz da água doce na cidade do esportista é a preferida por ele. “Estar em cima da prancha dá a sensação de liberdade, paz e harmonia com a natureza. Equilíbrio entre corpo e alma”, revela. A paixão pela prancha e pelo remo já fizeram Fabiano Dias de Lima percorrer 20 quilômetros no mesmo dia.

A partir das remadas de stand up paddle no Rio Caí, Fabiano e amigos criaram o grupo “Os remadores Montenegro”, visando a realização de ações sociais na cidade em prol da comunidade e dos rios. Com o engajamento, o montenegrino despertou a atenção dos filhos Arthur e Rodrigo, e da esposa Micheli.

Grupo “Os remadores Montenegro” em ação de retirada de lixo do Rio Caí (Foto: Arquivo pessoal)

Para o esportista, remar em cima de uma prancha traz equilíbrio, desenvolvimento de todos os músculos, auxilia no emagrecimento, reduz estresse e melhora a saúde do coração. “Para mim, o melhor é o equilíbrio do espírito”, diz. De acordo com Fabiano, não é difícil praticar a modalidade, bastando apenas algumas dicas de como remar, olhar para frente e dobrar os joelhos quando necessário. “Recomendo a todos o esporte. Também é importante usar equipamentos de segurança como leash (cordinha presa entre o tornozelo e a prancha) e colete salva vidas”, conclui.

Arthur, filho mais novo de Fabiano, também pegou gosto pelo stand up paddle (Foto: Arquivo Pessoal)

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Julio Hanauer
Redação Beta

Estudante de Jornalismo na Unisinos. Assessor de Imprensa da Prefeitura de Maratá-RS.