República do Twitter: os políticos e seus debates on-line

Último texto da série especial da Beta Redação analisa o uso da rede social por parte de figuras políticas e seus impactos.

Vanessa Fontoura
Redação Beta
4 min readMay 23, 2019

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Perfil do Planalto no Twitter posta, em tempo real, notícias sobre o atual governo. (Foto: Vanessa Fontoura / Beta Redação)

O Twitter é uma das redes sociais que mais proporciona a agilidade no compartilhamento de informações. Recentemente, tem crescido como ferramenta de comunicação oficial de políticos. Porém, com este avanço, surgiram alguns questionamentos sobre a forma que a rede deve ou não ser utilizada. A Beta Redação já abordou esta discussão aqui, trazendo a origem deste movimento no cenário americano e apresentando uma análise do perfil do presidente Jair Bolsonaro na mídia social.

Assim como visto anteriormente, a plataforma tornou a política mais acessível aos eleitores e/ou seguidores. Como é o caso de Bolsonaro, que soma mais de 4,3 milhões de seguidores em sua conta. Seguindo seu exemplo, seus filhos, Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro também são figuras ativas. O Senador Flávio Bolsonaro, possui 1,2 milhões de seguidores e alimenta sua conta desde 2009. Alguns de seus tuítes chegam a mais de 15 mil curtidas, principalmente aqueles em que ele utiliza do espaço para notas oficiais (veja abaixo).

Nota oficial de esclarecimento de Flavio Bolsonaro gerou mais de 15 mil curtidas (Foto: Reprodução/Twitter)

O vereador Carlos Bolsonaro, também entrou na plataforma em 2009. Hoje, possui mais de 1,1 milhão de seguidores. A média de interação entre ele e os usuários que o seguem também é alta, chegando a 15 mil curtidas (veja abaixo).

Publicação de Carlos Bolsonaro no Twitter gera 15 mil interações (Foto: Reprodução/Twitter)

Já o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, possui 1,4 milhões de seguidores e, assim como os irmãos, também ingressou no Twitter em 2009. Apesar disto, não tem uma presença muito forte na rede. Seus tuítes emplacam, em média, cinco à seis mil curtidas (veja abaixo) quando não estão expondo opiniões contrárias a seus adversários políticos.

Média de Eduardo Bolsonaro é de 5 mil interações. (Foto: Reprodução/Twitter)
Ao citar a oposição, soma mais de 36 mil curtidas. (Foto: Reprodução/Twitter)

De acordo com o cientista político, professor nos cursos de relações internacionais e de jornalismo na Unisinos, Bruno Lima Rocha, o papel das redes sociais é o que cada força política, agente coletivo ou ator individual decide fazer com elas. “O Twitter opera como um circuito de informação rápida, onde a circulação e o debate sobre esta circulação é mais relevante do que aquilo que circula. Como meio de informação, o Twitter é pobre, como universo de comunicação política é muito relevante”, explica.

Em sua opinião, a plataforma jamais deveria ser de uso direto do mandatário, do titular do Poder Executivo, e sim por sua equipe. “Mas, reconheço que isso hoje em dia é quase impossível, e a personalização no curto prazo parece irreversível”. Para ele, a quebra do pessoal e da liturgia do cargo passa pela profissionalização do uso da ferramenta.

Os debates “calorosos” na plataforma

Uma análise publicada pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAAP — FGV), em janeiro deste ano, apontou que entre três dias (31 de dezembro e 2 de janeiro), o grupo de parlamentares ligados principalmente ao PT geraram 19,9% das interações, enquanto aqueles ligados a Bolsonaro representaram 18,4%. Ou seja, baseado no comportamento dos usuários, eles são os polos políticos mais influentes nesta mídia social.

Seus contrastes de ideias podem gerar debates calorosos na rede, o que se torna um dos chamarizes de envolvimento do público. Neste ponto, Bruno explana que o debate político é sempre bem-vindo, mas a bolha que se auto referencia é um gigantesco problema para a democracia, pois anula sua noção de debate público e a possibilidade de convencimento de um setor sobre outro, ainda que de forma parcial.

“O embate na política sempre houve, o problema é a arregimentação das pessoas comuns, despolitizadas e desorganizadas, através destes debates. Só quem fatura com isso são os operadores políticos de discurso recheado de chavões, apontando para superexploração e as posturas mais conservadoras”, analisa. O professor argumenta que aquilo que se publica via Twitter e outras plataformas de interação, organiza a sociedade em função dessas polêmicas. Ou seja, se “politiza despolitizando” e espalhando chavões, fake news e discursos vazios, porém inflamados.

Assim como a família Bolsonaro, sua maior oposição — os filiados do PT — também têm forte presença na plataforma. O ex-candidato a presidência pelo Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, soma mais de 1,4 milhões de seguidores. Seus tuítes variam de duas a 11 mil curtidas, porém, quando expõe sua opinião sobre questões polêmicas, os números sobem consideravelmente (veja abaixo).

Opinião de Haddad sobre a legalização das armas. (Foto: Reprodução/Twitter)

O ex-presidente Lula também é outra figura pública do PT que possui conta na plataforma. Seu perfil soma mais de 818 mil seguidores, contudo, sua média de interação diária varia de 300 a duas mil curtidas. Apesar disto, alguns de seus tuítes mais brincalhões possuem muitas interações pelo usuário (veja abaixo).

Publicação de Lula sobre o final da série Game Of Thrones, no último domingo (Foto: Reprodução/Twitter)
Tuíte sobre a participação de uns dos filhos de Bolsonaro no programa Mega Senha (Foto: Reprodução/Twitter)

Figuras políticas mais populares

A pedido da Revista Piauí, a DAPP-FGV realizou um monitoramento dos personagens do governo mais citados no Twitter de 1º de janeiro até 7 de maio. O ministro da Justiça, Sergio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, estão entre aqueles com o maior número de citações.

Sérgio Moro adentrou recentemente na plataforma, em abril. Sua conta tem mais de 826 mil seguidores e uma forte interação por parte dos usuários, em média de cinco a 40 mil curtidas. Segundo a pesquisa, no acumulado dos últimos quatro meses, Moro foi o mais popular, seguido pelos três filhos do presidente (veja abaixo).

Monitoramento feito pela DAPP-FGV a pedido da Revista Piauí (Fonte: DAPP-FGV)

Bruno Lima Rocha explica que o melhor e o pior uso do Twitter dependem sempre do projeto político. “Para quem quer despolitizar a sociedade e ‘brilhar na internet’, o emprego atual é excelente. Se a meta for democratizar, garantir direitos e participação, o uso atual pessoalizado é tenebroso”, finaliza.

Para saber mais sobre o assunto, leia as matérias anteriores da série sobre o uso do Twitter na política:

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