Vida longa à banda Vera Loca

Grupo gaúcho, que passou por uma breve pausa na carreira, retorna aos palcos e anuncia música nova

Tainah Gil
Redação Beta
7 min readSep 12, 2019

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Alguns meses longe da estrada foram suficientes para repor as energias dos músicos (Foto: Tainah Gil/Beta Redação).

Tão cedo não vou me esquecer da noite de 7 de agosto de 2019. Foi a nossa primeira vez. Eu sei que levou tempo e que demorei quase 25 anos para isso. Mas antes desse dia eu nunca havia pisado no Bar Opinião, em Porto Alegre, tampouco havia assistido um show ao vivo da Vera Loca. No último sábado, foi a primeira vez que frequentei a casa. Também foi a primeira vez que a banda gaúcha retornou aos palcos desde que anunciou uma pausa, em outubro do ano passado.

A noite começou com chuva, mas não foi o suficiente para me ameaçar a não sair de casa. Enquanto estava na fila aguardando a abertura dos portões, um grupo de 10 pessoas já aquecia o gogó, entoando algumas das principais canções da banda.

Duvidei quando, ainda na espera para entrar no Opinião, vi a publicação da Vera Loca no evento do Facebook — o post dizia que a apresentação, que estava marcada para às 21 horas, iniciaria em ponto. Calei-me quando, já dentro da casa, exatamente no horário anunciado, o radialista Everton Cunha, o Mr. Pi, e os integrantes subiam ao palco para abrir a noite e saudar a casa cheia:

“Eu tenho a honra, o orgulho e a alegria de chamar ao palco a representatividade maior do que se chama e diz a amizade. Assim como vocês, vamos gritar, cantar e encantar esta noite ao som de Vera Loca!”

Parecia que a pontualidade da banda e a rapidez para chegar ao palco já estavam conectadas com a escolha da primeira canção a ser tocada. Ao som de “Velocidade”, música que faz parte do terceiro álbum da banda lançado em 2008 e intitulado “Vera Loca III”, Fabrício Beck, “Mumu”, Luigi Vieira, Hernan Gonzalez e Diego Dias davam uma palhinha do que seria a noite perfeita para matar a saudade do tempo na estrada.

“A gente está muito feliz, parece que foi ontem que a gente anunciou uma breve pausa. Mas acabou. Tem música nova vindo daqui uns dias e estamos muito felizes de voltar e de nos reencontrarmos. De ver todos vocês cantando as músicas”, exclamou Fabrício, vocalista da Vera.

O músico também pediu a todos que cantassem alto, pois a apresentação estava sendo gravada. O público reagiu de forma suficiente para que as vozes tomassem e dessem conta do recado.

Um dos maiores nomes do rock gaúcho, a Vera Loca voltou com tudo à ativa (Foto: Tainah Gil/Beta Redação).

Logo em seguida, vieram outros dos maiores sucessos do grupo como “Parece que foi ontem”, do álbum homônimo, “Amanhã pode ser bem melhor” — canção que faz parte do último trabalho chamado, “A certeza de como valeu navegar nesse mar”, e que contou com a participação de Humberto Gessinger — , e “A vida é de graça”, música que foi cantada de um jeito bem expressivo e em coro pelo público.

“A vida é de graça

Tem gente que paga pra viver

Espero uma carta

Com dinheiro e saúde, vai se f****!”

Quando chegou a vez de “Grafiti”, um dos maiores hits, não houve quem ficasse parado ou não soubesse entoá-la. Uma das minhas canções preferidas da banda e a que mais gosto de escutar se mostrou, para mim, mil vezes melhor ao vivo. A qualidade musical, somada à energia transmitida pelos integrantes a cada estrofe, foram fatores que fizeram com que eu e outros tantos dançássemos sem o mínimo de vergonha.

A empolgação seguiu quando “Cuidado Ana”, uma das canções mais conhecidas da Vera Loca, ressoou nos alto falantes. Segundo Fabrício, a música ficou conhecida graças ao grande amigo da banda, o Mr. Pi, que na época veiculou o sucesso nas rádios.

Antes de tocar “Floresta”, uma das letras mais antigas do repertório, Fabrício aproveitou para contar a história de como a canção nasceu. Ao chegar em Porto Alegre em meados do ano 2000, trazendo na mala esperanças e sonhos com o mundo da música, os integrantes alugaram um apartamento na rua Flores da Cunha, na esquina com a Cristóvão Colombo. A primeira coisa que avistaram foi a placa com o nome do bairro. E assim surgiu o som que faz parte do primeiro álbum, “Meu toca discos se matou”, lançado em 2002.

João e Andressa viajaram mais de 100 quilômetros para matar a saudade dos ídolos (Foto: Tainah Gil/Beta Redação).

Na sequência, o vocalista gratificou a quem tinha vindo de longe para assisti-los naquele sábado. “Queremos agradecer a todas as pessoas que viajaram à capital. A galera de São Paulo, Santa Catarina, Paraná”.

Diferentemente de mim, que nunca havia assistindo um show da Vera, a analista de Comércio Exterior Andressa Pires, 25, já perdeu as contas de quantas vezes viu a banda ao vivo — ela acredita que foram cerca de dez. Aliás, foi em uma dessas ocasiões que ela conheceu o namorado e gerente de vendas João Chabar, 24. Os dois estão juntos há sete anos e saíram de Caxias do Sul, cidade onde moram, para marcar presença no Opinião. “Quando eles fizeram a pausa na carreira, ficamos muito tristes. Aí quando a Vera Loca anunciou essa apresentação em Porto Alegre, pensamos que fosse um show de despedida e que não poderíamos perder”, contou Andressa.

O menino Gabriel não se intimidou com a casa cheia e subiu ao palco para demonstrar a paixão pela banda (Foto: Tainah Gil/Beta Redação).

E é claro que a música “Maria Lúcia” não poderia ficar de fora. Era, sem nenhuma dúvida, uma das faixas mais esperadas pelos espectadores do show. Quando olhei para o lado, vi um rapaz que compartilhava, em sua roda de amigos, alguns passos de dança ensaiados. Foi também, nesse momento, que um pequeno fã subiu ao palco. O menino Gabriel segurava uma placa escrita “Sou Vera Loca”.

Já se encaminhando para o final da apresentação, o vocalista pediu a participação do público para tornar o show ainda mais divertido. “Vou pedir para vocês me ajudarem a fazer uma ‘ola’ agora. Todo mundo se abaixa e vamos pular no três. Será que conseguimos?”, indagou Fabrício. O pedido não pareceu impossível nem mesmo para um certo jovem que estava à minha frente com um copo de cerveja na mão. Você já deve ter imaginado o que aconteceu quando ele pulou, não é mesmo?

No momento mais descontraído da noite, banda santa-mariense fez fãs saírem do chão (Foto: Tainah Gil/Beta Redação)

E agora estou aqui, borracho y loco

Após esse momento, quando o relógio bateu 22h30, os cinco integrantes deixaram o palco se despedindo e acenando no que parecia ser o término da noite. Ao gritarem “mais um, mais um”, todos ali entenderam a brincadeira e sabiam que eles não deixariam “Borracho y loco” de fora do show. Para atender a súplica do público, a Vera Loca retornou para encerrar e tocar o maior sucesso da banda.

Entre uma melodia e outra, dei-me conta de duas coisas. A primeira: a faixa etária das pessoas que no show estavam. Com certa aposta, eu era uma das mais jovens ali presentes. Talvez pelo fato de que a banda gaúcha já está na estrada há 17 anos, tempo o bastante para ter alcançado, ao menos, duas gerações.

A noite no Bar Opinião foi marcada por grandes sucessos da banda que completa 18 anos de carreira ano que vem (Foto: Tainah Gil/Beta Redação).

Outro ponto que me chamou a atenção foi a facilidade que encontrei em fotografar o palco mesmo à certa distância. A explicação? Poucos foram aqueles que levantaram seus celulares para registrar o show. Quem estava ali curtiu integralmente o som, o momento, a companhia de seus parceiros e amigos em uma noite regada de muito rock gaúcho.

Nessa uma hora e quarenta e cinco minutos, o tempo passou muito depressa. Ao meu redor, vi rostos alegres, ouvi vozes desafinadas, senti o chão tremer. Foram tantos sentimentos numa noite só… Não sei se essa energia que presenciei foi devido à pausa que a Vera Loca teve, não tenho parâmetros para comparar. Mas posso afirmar que, como disse, esse show ficará na memória tanto de quem já viu a banda tocar dez vezes como de quem nunca havia assistido. Espero que essa tenha sido a última pausa da carreira.

Ouça, abaixo, a playlist do show:

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