Rio Grande do Sul deve contabilizar 157 mil novas ocorrências de câncer de mama até 2025

Mulheres negras têm mais chances de desenvolver câncer agressivo

Lohana Souza
Redação Beta
5 min readApr 11, 2023

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Laço rosa é símbolo do combate ao câncer de mama e foi utilizado pela primeira vez em 1990, nos EUA. (Foto: Getty Imagens).

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que sejam registrados 704 mil novos casos de câncer no país, com maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, que devem concentrar aproximadamente 70% dos casos de 2023 até 2025. Ainda de acordo com os dados do INCA, 157 mil novas ocorrências são esperadas no Rio Grande do Sul. De acordo com o estudo, um dos principais tipos de câncer identificados no estado é o de mama. Somente em 2023, projeções indicam o registro de 3.720 casos, segundo índices divulgados no portal do Ministério da Saúde.

Quanto mais cedo o câncer for descoberto, maior a possibilidade de cura, que pode chegar a 95% na fase inicial. Porém, para que o diagnóstico aconteça, dois exames são fundamentais, mamografia e biópsia. O primeiro é o único capaz de diagnosticar o câncer em fase inicial.

Apesar da Lei 12.732/12 estipular o prazo máximo de espera de dois meses, o tempo médio de diagnóstico de câncer no Brasil é de 270 dias na rede pública de saúde. A demora faz com 80% dos pacientes iniciem o tratamento em estágios mais avançados da doença, como aponta a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde de Mama.

A desigualdade e o racismo estrutural prejudicam ainda mais as mulheres negras, conforme estudo divulgado, em 2020, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa indica que a sobrevida de mulheres negras é até 10% menor do que a de mulheres brancas. Além disso, mulheres negras estão 2,27% mais propensas a serem diagnosticadas com câncer de mama triplo-negativo, um tipo de tumor mais agressivo e que não responde bem a tratamentos. Essa descoberta foi divulgada na revista Câncer, da American Cancer Society.

Carolina Magalhães, 34 anos, descobriu o câncer de mama jovem cinco anos atrás. A designer, publicitária e influenciadora conta que os desafios para discutir aspectos da doença com mulheres negras são diferentes do que com mulheres brancas. Hoje ela compartilha o seu conhecimento sobre o assunto nas redes sociais e no projeto Se Cuida Preta, tentando trazer informações claras e precisas.

Autora do livro “Mas nem parece que você tem câncer” e vencedora do Prêmio Inspiradoras 2022 na categoria Informação para a vida, Carolina relata que o aumento da autoestima representa um processo importante no tratamento da doença. “Um dos motivos para o projeto Se Cuida Preta existir é exaltar a beleza das mulheres negras, independentemente delas estarem carecas ou não e apresentar referências positivas para fortalecer a autoestima. Em paralelo, criar esse ambiente de representatividade. Muitas mulheres contam suas histórias no portal, servindo de inspiração para outras. Seja nas redes sociais ou palestrando em eventos pelo Brasil, somos nossa própria inspiração”, ressalta.

Livro de Carolina Magalhães foi lançado em 2018, no Dia da Mulher. (Foto: Carolina Magalhães/Arquivo Pessoal).

Carol lembra que outro tabu social tem a ver com a expectativa de que mulheres negras aguentem tudo, que sejam mais fortes e precisem ultrapassar barreiras.

“O racismo na saúde existe e precisa ser desconstruído. O relato nas redes sociais, jornais, entrevistas, desta violência sofrida pelas mulheres negras tem feito com que esse assunto seja mais discutido e percebido pelos órgãos públicos. O fim dessa suposição de que mulheres negras são mais fortes é um caminho lento, porém que já começamos a trilhar”, finaliza.

Carol usa as redes sociais para alertar e levar conhecimento sobre câncer de mama para outras mulheres negras. (Foto: Carolina Magalhães/Arquivo Pessoal)

A professora de História, escritora e poeta Renata Lima, 46 anos, encontrou o primeiro nódulo na mama esquerda em 2019. Ela também gera informação e conteúdo sobre câncer de mama através da página Mulher Representa no Instagram. “A notícia do diagnóstico me feriu profundamente e quase me paralisou. Acredito que devemos falar de câncer de mama não somente em outubro, porque a campanha pela vida deveria ser de janeiro a janeiro. Eu busco levar a maior quantidade de conhecimento possível na minha rede. Informação também salva vidas”, conta.

Renata também colabora com a produção de conteúdos para a plataforma “Se cuida Preta”. (Foto: Renata Lima/Arquivo Pessoal)

Receber o diagnóstico de câncer pode ser devastador. Afinal, além do impacto sofrido, existem os efeitos colaterais do tratamento, como a perda do cabelo. Nesta fase, o empoderamento é muito importante. Algumas mulheres aderem a perucas e lenços, enquanto outras optam por amar a própria aparência. O importante é não desistir da luta e conseguir se amar no processo.

Neste contexto, existem vários projetos e redes de apoio. Somente na Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde de Mama (FEMAMA) há 76 ONGs representadas.

Projetos na região Metropolitana de Porto Alegre

O Projeto Cabelaço surgiu em 2014, quando um grupo de amigas se reuniu para doar cabelo. Ao longo do tempo mais pessoas se juntaram à causa e, hoje, o projeto recebe doações o ano inteiro.

Juliana Schwanke Martini, 29 anos, é voluntária do Cabelaço. “Eu sou psicóloga e trabalho na área de oncologia. Através do meu trabalho, comecei a pensar o que poderia ser feito para ajudar as pessoas que passam por tratamento de câncer. Conseguimos ajudar muitas mulheres”, salienta.

Desde 2014, mais de 300 mechas de cabelo foram doadas através do Projeto Cabelaço. (Foto: Reprodução/Instagram Cabelaço)

“Nós recebemos doações de todos os tipos de cabelos e a dificuldade de confecção é semelhante, mas infelizmente temos menos saídas das doações de cabelos cacheados e crespos. Como as próprias meninas escolhem, temos mais saídas de cabelos lisos e castanhos escuros”, explica Juliana.

Para realizar a doação alguns critérios precisam ser seguidos, evitando assim a perda das mechas. (Foto: Reprodução/Facebook Cabelaço)

A clínica estética Raquel Nacad, de Porto Alegre, desenvolveu nos últimos 10 anos o Projeto Cabelo Para Todos. A iniciativa oferece um corte de cabelo gratuito para quem realizar a doação. “Nosso projeto é independente. Realizamos as doações para mulheres que precisam e nos procuram, seja através das redes sociais, ou presencialmente. Montamos a peruca de maneira personalizada, demorando em torno de 10 dias para a entrega”, enfatiza.

A Liga Feminina de Combate ao Câncer, de São Leopoldo, surgiu há 67anos atendendo pessoas com câncer que vivem situação de vulnerabilidade social. A Liga oferece atividades como yoga, artesanato, dança, acompanhamento nutricional e assistência social. Rosângela Bueno, 59 anos, é assistente social da ONG e percebe o aumento da autoestima de mulheres envolvidas no projeto. “Elas ficam mais alegres, participativas e se sentem mais acolhidas. Nossas pacientes são todas do município, indicadas pela oncologia do Hospital Centenário e pelas redes sociais”, explica.

Saiba onde realizar doações:

Associação Força Rosa:

Ações disponíveis para doação são divulgadas na página do Facebook e Instagram.

Cabelaço:

Caixa Postal: 21454-Porto Alegre| RS| CEP-91350–971.

Estética Raquel Nacad:

Endereço: Domingos Crescêncio, 286 — Santana, Porto Alegre.

Telefone: (51) 3391-1800

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