Em Portão, deu “Sartonaro”
Cidade, a 40 quilômetros da Capital, teve carreata para celebrar a eleição do candidato do PSL
Antes do anúncio dos vencedores das eleições gerais de 2018, o clima era de calmaria nas ruas de Portão. As 11 zonas eleitorais apresentavam poucas filas e não houve ocorrência de prisão na cidade. No segundo turno, 23.756 eleitores estavam aptos a votar no município. Destes, 19.415 compareceram às urnas neste domingo (28), pouco mais de 80%, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Os portanenses acompanharam os votos do restante do país e auxiliaram a vitória de Jair Bolsonaro (PSL). O presidente eleito recebeu 11.685 votos na cidade, 66,82%. O segundo colocado, Fernando Haddad (PT), alcançou a marca de 5.801, 33,18%. Ao menos em Portão, José Ivo Sartori (MDB) conseguiu concretizar o voto “Sartonaro”, somando 51,6% dos votos válidos, contra 48,4% de Eduardo Leite (PSDB)— que, no Estado, acabou eleito novo governador do Rio Grande do Sul.
Eleição atípica
Diferentemente de eleições em anos anteriores, as escolas que sediaram as votações amanheceram limpas e sem “santinhos” espalhados pelo chão. Durante a votação, a reportagem da Beta Redação acompanhou um caso inusitado.
Um eleitor indagou aos responsáveis pela seção eleitoral o motivo de não conseguir votar em seu candidato. Segundo ele, ao digitar na urna eletrônica, a mensagem apresentada na tela dizia que o número não existia. Após alguns minutos, muitas explicações da mesa e o eleitor ser acompanhado até a porta para conferir quem concorria ao pleito, ele compreendeu que estava votando de forma errada.
Na saída, enquanto empurrava uma bicicleta e trajava uma camiseta da Igreja Quadrangular, Adão de Oliveira, morador do bairro Rincão do Cascalho, explicou sua dificuldade na hora da votação. Ele, que não costuma assistir televisão, confundiu-se com a ordem de votação. “Queria votar no 17, mas primeiro tem que votar para governador, e eu não sabia o número”, afirmou.
Adão acredita que seu candidato a presidente, cuja eleição se confirmaria horas mais tarde, fará um bom governo, uma vez que tem família e, na opinião do eleitor, nunca causaria mal a ninguém. Adão ficou sabendo das propostas de Bolsonaro na igreja. “Ele é evangélico, é de partido evangélico, e fiquei sabendo que o outro (Fernando Haddad, do PT) até contra os evangélicos é. Se é contra Deus, aí não dá, não pode ser um governo bom”, afirmou.
Carreata da vitória
Após o anúncio da vitória de Bolsonaro, os apoiadores do candidato do PSL se reuniram na praça central, a Praça do Chafariz, um dos pontos turísticos da cidade. É lá que aos domingos a população se encontra para tomar chimarrão e colocar a conversa em dia.
A comemoração foi com uma carreata. Eleitores eufóricos festejaram com buzinas e foguetes. Os carros com bandeiras verde e amarelo seguiram pela principal avenida, que leva o nome do país, a Avenida Brasil.
Durante o período eleitoral, a internet e as redes sociais foram fundamentais para a campanha de Bolsonaro, que costumava se comunicar diretamente com seus seguidores através de vídeos. No Facebook, a página Direita Portão RS foi uma de suas apoiadoras. Para Rodrigo Lopes — administrador da página, essa eleição provou que o brasileiro compreendeu que existe uma nova política. “É uma nova forma de ver e fazer política, uma forma honesta sem compra de votos, com honra, moral, ética e falando a língua do povo. Nunca na nossa história vimos uma manifestação tão grande e totalmente voluntária”, afirma.
Decepção e medo
Com a vitória do candidato representante do PSL, os eleitores do Partido dos Trabalhadores e de Fernando Haddad se mostraram decepcionados. Para a professora da rede estadual Rose Schio, a eleição de Bolsonaro representa um retrocesso para o país. Segundo ela, seu discurso é perigoso e de extrema ignorância. “O pior é que suas falas alimentam a violência, o ódio e a intolerância. Tenho medo do horror que viveremos”, afirmou. A professora teme pela segurança do povo: “Tenho medo por meus alunos e por minha família, mas sobretudo por muitos dos que o elegeram sem realmente conhecer o que ele defende”.
Primeira eleição em 64
Portão tem cerca de 30 mil habitantes, conforme dados do IBGE. Colonizada por imigrantes portugueses no século XVIII e alemães em meados do século XIX, o município gaúcho cresceu ao redor de uma estação de trem, conforme o livro O trem e a cidade: Portão no tempo das locomotivas, de autoria da historiadora Jussara Prates dos Santos Girardi.
Por volta de 1788, uma porteira foi erguida por ordem do império às margens de um arroio. O local costumava ser usado por viajantes que buscavam água limpa para beber e dar aos animais. O portão tinha como finalidade controlar a movimentação de escravos que viviam em uma estância próxima e evitava que eles tivessem contato com a comunidade local. Essa é a origem do nome da pequena cidade incrustada entre os vales do Caí e do Sinos.
Emancipado de São Sebastião do Caí em 9 de outubro de 1963, Portão teve as primeiras eleições em 19 de janeiro de 1964. O prefeito eleito foi Lothar Kern, que teve como vice Rubi Nelson Franke, ambos do PSD e integrantes da coligação Aliança Popular de Portão.
O atual prefeito é José Renato das Chagas, do PDT. Ele se elegeu em 2016, com 34,19%, derrotando nas urnas Elói Antônio Besson (Progressistas) e a prefeita Maria Odete Rigon (MDB), que concorria à reeleição e ficou em terceiro lugar. Renatinho, como é conhecido, derrubou a hegemonia do MDB, que governou a cidade por 12 anos consecutivos.