Sede atual do DCE na Unisinos. (Foto: Rodrigo W. Blum)

As ideias políticas que norteiam o DCE da Unisinos

Nova eleição do Diretório Central dos Estudantes teve forte embate entre chapas de ideais diferentes

Natalia Collor
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6 min readNov 30, 2017

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Por Natalia Collor, Fabiano Scheck Ferraz e Lucas Girardi Ott

Todo universitário em algum momento da graduação já deve ter sido abordado pelo menos uma vez por outros estudantes com a frase: “Já votou nas eleições do DCE? Vota na minha chapa!”. A abordagem é seguida de uma rápida explicação das propostas, e logo o aluno é persuadido a votar na equipe que acabou de conhecer.

Neste ano, porém, as campanhas foram mais calorosas. Repórteres da Beta Redação presenciaram conflitos entre as chapas concorrentes.

A Chapa 1, que possuía membros que comandaram o DCE da Unisinos em 2016 e em alguns anos anteriores, recebeu 858 votos, enquanto a Chapa 2, que ganhou a eleição, somou 1.813 votos — uma diferença expressiva, de 955 votos. A disputa ficou conhecida como Velho DCE x Novo DCE.

Chapa 1

A Chapa 1 — Todas As Vozes tinha como linha uma política progressista. Seus integrantes, boa parte deles militantes de causas sociais, seguiam a mesma diretriz do último mandato, segundo a atual coordenadora de comunicação do DCE, Natana Selistre.

Estudantes que concorreram pela Chapa 1. (Foto: Reprodução/Facebook)

“ Eu acho meio hipócrita e talvez oportunista se eu compusesse uma chapa que não seguisse uma linha de raciocínio igual ao meu”, afirma a estudante de Direito. O ponto que ela frisa é uma realidade dentro das universidades em geral, os alunos acabam votando e entrando em chapas que tenham um ideal político que vai de encontro com o que pensam fora da instituição.

O mesmo vale para Clênia Gajardo, que concorreu como coordenadora geral da Chapa 1. Ela é militante do Levante Popular da Juventude, uma organização de jovens alinhada aos movimentos do campo e da cidade. “Nós buscamos organizar os jovens em frente aos retrocessos que a conjuntura política apresenta”, explica sobre o Levante.

A principal pauta da Chapa 1 foi a inclusão pensando nas minorias, entre elas a comunidade LGBTQ, os negros, mulheres e bolsistas (PROUNI e FIES). Natana acredita que essa linha progressista é necessária dentro da universidade, porque mesmo sendo uma instituição privada, essas pautas são muito importantes na sociedade, não só no meio universitário.

Entre as propostas de campanha estavam atuar em conjunto com a União Nacional dos Estudantes (UNE), os Diretórios Acadêmicos e DCEs das demais universidades da região para defender programas de acesso à instituições de ensino, lutar pela melhora na infraestrutura da Unisinos, aprimorar a prestação de serviços como assessoria jurídica , biblioteca do DCE e promoção à cultura.

Clênia ainda afirma que a chapa vê a universidade como um espaço amplo, que deva abrigar grandes debates. “Esses debates precisam estar em conjunto com a política, este ano por exemplo trouxemos as pautas sobre a reforma da previdência”, contou.

Chapa 2

(Foto: divulgação Chapa 2 — Novo DCE)

A coordenação do novo DCE aponta a falta de transparência e diálogo com os estudantes os maiores defeitos da gestão anterior. Transparência, aliás, é a prioridade desta nova gestão, que têm como proposta principal o “portal da transparência”, que deve entrar em vigor no início do próximo semestre.

As demais propostas da chapa vencedora incluem a diminuição no valor do estacionamento; realização de jogos universitários no campus e campeonatos de E-sports; reforma e pintura do DCE, com a aquisição de mais equipamentos para guardar e esquentar comida; a luta pelo reajuste da mensalidade no máximo de acordo com a inflação; um preço mais justo e a implantação de mais formas de pagamento no restaurante universitário; pelo menos duas grandes festas por ano; fornecer um suporte mais próximo aos estudantes que participam de financiamentos estudantis como o FIES, ProUni e PraValer e passam por dificuldades, entre outras.

Na visão da chapa, conseguir um maior engajamento de alunos que queiram participar e ajudar a ter ideias e coloca-las em prática será o grande desafio da nova gestão. “Com a participação de todos queremos fazer um DCE que esteja sempre ativo e próximo aos estudantes”, conclui.

Partidos políticos

Apesar de ambas as chapas afirmarem não estarem ligadas diretamente a partidos políticos, a Beta Redação encontrou informações divergentes.

Uma organização política chamada Ação Libertadora Estudantil — ALE publicou a seguinte notícia sobre o resultado das eleições “Novo DCE Unisinos: chapa apoiada por ALE vence chapa lulista”. No texto, eles explicam que são um núcleo estudantil em âmbito maior que a Unisinos. Dizem ainda que tentavam ganhar espaço no DCE da universidade desde 2015, disputando e perdendo as eleições para uma chapa formada pela juventude do Partido dos Trabalhadores (PT), segundo a organização.

A ALE afirma que pessoas de dentro da universidade e ligadas ao núcleo estudantil possibilitaram a vinda de Ciro Gomes à universidade para uma palestra em agosto deste ano. Ciro é ex-ministro e pré-candidato à presidência pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Eles ainda revelam que contaram com o apoio de estudantes ligados ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para vencer a eleição do DCE. Ainda declaram-se adversários do PT e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Histórico do DCE da Unisinos

Segundo informações do portal Unicos, o DCE foi fechado em 2010 por disputas jurídicas entre integrantes da chapa eleita. Em 2012 ocorreram eleições para uma nova gestão e a chapa Somos Todos DCE! Agora só falta você! assumiu o diretório em 2013.

Esta chapa defendia a ideia de não hierarquizar os membros por cargos e surgiu do Movimento Somos Infinitas Mensalidades. Em 2013, o DCE e este Movimento protagonizaram diversas lutas pelos estudantes e chegaram a ocupar a Reitoria por 23 dias. Os estudantes criticavam a falta de diálogo da universidade sobre os aumentos nos valores das mensalidades.

Segundo notícia da Zero Hora, o período da ocupação foi marcado pela presença do Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar (POE) e resultou em confrontos físicos e pessoas feridas e presas.

Em entrevista à Beta Redação, Patrick Dias, que na época fazia parte da gestão do Diretório Acadêmico de Ciências Sociais, relembra o foco que existia em lutas da universidade. Ele confirma que existiam pessoas filiadas a partidos políticos no diretório, mas isto não era a questão principal. “De alguma maneira, aquele movimento conseguiu unir mais os alunos e trazer dinâmica ao DCE. Antes os estudantes ficavam mais fechados nas demandas dos seus cursos, mas em 2013 tivemos uma boa unificação por uma causa em comum”.

Patrick cursava Ciências Sociais na Unisinos na época e trocou de universidade em 2014. Ele revela que fazia e ainda faz parte da Resistência Popular, uma organização político-social. Ele informa que a militância na Unisinos era mais ligada à coletivos e não tanto aos partidos políticos, mas que foi a partir dali que começaram a ser levantadas bandeiras políticas. “Ingressei na Unisinos em 2009 e acompanhei o surgimento da militância. Antes de ser fechado em 2010, o DCE possuía uma gestão mais ligada ao meio acadêmico e era distante da política nacional, eles eram mais preocupados em promover eventos de entretenimento para os alunos”.

Suzana Moreira Pacheco, coordenadora da gerência de Atenção ao Aluno da Unisinos e que atende demandas do movimento estudantil, diz que não há normas ou estatuto de conduta específico do DCE, uma vez que seus integrantes são alunos da universidade e estes são regidos por meio de um único regime disciplinar.

“A Unisinos apoia e incentiva o movimento estudantil, pois acredita que o exercício da participação integra o processo formativo dos acadêmicos”, afirma Suzana. A funcionária também informa que a universidade orienta e incentiva os alunos na criação e reativação de entidades estudantis e promove a interlocução da Unisinos nos encaminhamentos administrativos necessários.

A União Nacional dos Estudantes (UNE)

Os DCEs, DAs (Diretórios Acadêmicos) e os CAs (Centros Acadêmicos) são entidades representativas da União Nacional dos Estudantes — UNE, entidade máxima dos estudantes brasileiros.

Fundada em 1937, a entidade sempre esteve presente em lutas sociais e trava embates com governos. Segundo informações do site da UNE, “Da campanha “O Petróleo é Nosso” na década de 1940, do enfrentamento ao nazi-fascismo e durante a resistência à última ditadura civil-militar, passando pelas “Diretas Já”, pelo movimento dos “caras pintadas” contra o governo Collor, a luta contra os governos neoliberais nos anos 1990 e pelas jornadas de junho de 2013 por um país melhor, a UNE fez parte dos principais movimentos populares da história recente brasileira”.

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Natalia Collor
Redação Beta

Jornalista. Escrevo, exalto minas, tiro umas fotos, grito, chuto umas portas pelo caminho e vou levando quem eu posso comigo.