Eleitores tem pouco mais de duas semanas para decidir o voto do segundo turno (Foto: Photopin)

O desafio do voto útil no segundo turno

Eleitores de candidatos que não avançaram relatam seus planos para o segundo turno

Laura Pavessi
Redação Beta
Published in
8 min readOct 12, 2018

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Pouca coisa há de normal nas eleições deste ano. Depois de um primeiro turno de clima tenso e extrema polarização em todas as esferas da política, o cenário para o segundo turno da eleição presidencial é de disputa entre duas frentes distintas; já no âmbito estadual, projetos de governo bem semelhantes competirão pelos mesmos votos.

Ao mesmo tempo em que as primeiras pesquisas são divulgadas, eleitores de candidatos que não avançaram para o segundo turno já começam a fazer campanha pelas chapas mais parecidas com a sua opção original. Outros, entretanto, permanecem indecisos sobre a escolha a ser feita no dia 28.

O saldo do último domingo, 7 de outubro, para os cargos nacional e estadual, no entanto, não surpreendeu. Levantamentos feitos durante a última semana antes do primeiro turno indicavam números bem próximos dos que se confirmaram. Para o Planalto, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) terão mais uma oportunidade de expor suas plataformas; o primeiro recebendo quase 50 milhões de votos, 46% dos válidos, e o petista, 30 milhões — 29%. Já Eduardo Leite (PSDB) e José Ivo Sartori (MDB) encaram a disputa pelo Piratini, com 35,9% e 31,11% de votos no primeiro turno, respectivamente.

A grande surpresa ficou guardada para a disputa das cadeiras à Câmara Federal, onde o centro perdeu espaço para a direita. Foram os partidos dos dois candidatos ao segundo turno pela presidência que elegeram o maior número de deputados: PT e PSL ganharam mais de 50 posições cada e serão as siglas com mais força no Parlamento.

Mas, com pouco mais de duas semanas para a realização do segundo turno, a realidade do dia 28 de outubro começa a ser desenhada. A primeira pesquisa divulgada pelo Datafolha, nesta quarta-feira (10), mostra as intenções de votos. Segundo o instituto, Jair Bolsonaro, do PSL, tem 58% dos votos válidos, enquanto Haddad, do PT, alcança 42%. Para o governo do Rio Grande do Sul, ainda não foram divulgadas nenhuma pesquisa de intenção para o segundo turno.

Pesquisa do Datafolha para o segundo turno da presidência, divulgada na última quarta-feira (10). (Fonte: Datafolha)

Os dois cenários de disputa pelos governo estadual e nacional são diferentes entre si, mas ambos complexos. Eleitores cujos candidatos não alcançaram a chance de entrar na nova votação tem agora uma nova oportunidade de conhecer as propostas e fazer uma escolha entre as plataformas de governo que estão em disputa.

Conversamos com alguns eleitores que já tomaram sua decisão e outros que ainda não se posicionaram para entender como se comportarão agora.

Presidente

Meu voto foi para Marina Silva (Rede)

Marciléia de Castro, 54, trabalha como empregada doméstica, reside na cidade de Guaíba. Segundo ela, nunca teve envolvimento na política e não tem muito interesse no assunto. Suas fontes de informações são a televisão, onde ela assiste SBT e Globo, e alguns sites de notícias, como o G1. Seu voto para Presidente da República no primeiro turno foi direcionado para Marina Silva, candidata da Rede Sustentabilidade. Marciléia diz que se identifica com a história de vida de Marina e com os seus ideais. No segundo turno, o seu voto será para Fernando Haddad, do PT, pois não compactua com os pensamento e propostas do candidato de direita Jair Bolsonaro, do PSL.

Meu voto foi para João Amoêdo (NOVO)

Júnior de Andrade Rodrigues, 28, motorista de aplicativo, vive na cidade de Canoas. Ele conta que nunca esteve ligado em política. Para se manter informado, utiliza as redes sociais e sites de notícias através do celular. Para presidente, Júnior escolheu João Amoêdo, do NOVO. “Para decidir meu voto, eu optei por um candidato novo, que não tivesse muita ligação com os que já conhecemos e que tivesse boas propostas”, conta. Para ele, o mais importante é o candidato se preocupar com a segurança pública e com saúde. O seu voto no segundo turno ainda não está definido, pois ainda está analisando os candidatos.

Meu voto foi para Ciro Gomes (PDT)

Thomas Bauer, 24, jornalista, apoiou o candidato Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno. O jovem, ativo politicamente nas redes sociais, manifestou o porquê de sua opção pelo candidato. “Eu optei por Ciro Gomes pelo conjunto da obra. É um candidato que apresentava um projeto de retomada econômica através da recuperação de poder de compra da classe média. Prometia buscar igualdade de renda, equilibrando tributos e taxando grandes fortunas. Tem forte apelo à educação. Ele prometia também acabar com a PEC do Teto de Gastos. Enfim, tinha preparo, tinha um projeto e tinha governabilidade. Era o único aberto ao diálogo”. Sobre suas expectativas para o segundo turno, Thomas demonstra preocupação quanto à uma possível vitória do candidato do PSL. “Tenho profundo receio que a vitória do Bolsonaro seja o fim da democracia. Não conheço nenhum governo militar que não se transformou numa ditadura.”

Por fim, declara que, devido ao cenário de risco iminente à democracia, apelará ao voto útil. “Eu nunca votei no PT, mas vou optar pelo 13 devido à minha gratidão e confiança no Haddad. Na minha opinião, foi o melhor ministro da Educação que já tivemos. Tenho convicção de que ele não irá repetir os mesmos erros [do partido]. E, de qualquer forma, é mais fácil substituir um governo nas próximas eleições do que ter que destituir uma ditadura. Mas minha restrição é tamanha que irei combater isso de todas as formas possíveis até o momento que não for mais possível e tiver que sair do país”.

Meu voto foi para Guilherme Boulos (PSOL)

Everton Obalski, tem 25 anos e trabalha como Operador de Laminação na cidade de Portão. Ele conta que gosta de se informar muito sobre política, e acessa mais de um portal de notícias para ler a mesma matéria, e ter certeza do fato. Os seus sites prediletos são a Carta Capital, Revista Fórum, G1 e El País.

O voto dele foi para o candidato do Psol, Guilherme Boulos, motivado pela concordância de ideias políticas, e por entender que são necessárias propostas que favoreçam a classe trabalhadora e de baixa renda. Perguntado sobre o segundo turno, Everton conta que irá votar no Haddad, por não querer que o país seja governado por Jair Bolsonaro. Mas explica que, mesmo com Haddad no poder, haverá retrocessos significativos nas conquistas de direitos.

Já sobre a possibilidade do candidato do PSL chegar ao poder, se mostra preocupado com o fato de simpatizantes do nazismo e fascismo, e com ideologias racistas e homofóbicas, se sentirão representadas. E, mais que isso: crê que usarão da violência contra quem pensa diferente, podendo ocorrer censura com mais frequência. Everton termina afirmando que virá um futuro preocupante com Bolsonaro no poder.

Governador

Meu voto foi para Jairo Jorge (PDT)

Janete Silva Pereira, 47, é professora, mas atua como assistente social em Canoas. Ela já teve envolvimento com a política, mas atualmente está afastada. Gosta de se manter informada, lê jornais impressos e online, e considera muito importante pesquisar sobre os candidatos, o que já fizeram na política e as propostas. No primeiro turno, Janete votou em Jairo Jorge para governador do Rio Grande do Sul. “Quando foi prefeito aqui em Canoas, ele trouxe muitas melhorias para a educação, construiu quadras nas escolas, distribuição de uniforme e material escolar novo todos os anos”. Para ela, o mais importante é ter alguém que se preocupe com a educação, por isso seu voto foi para o candidato do PDT. Já no segundo turno, a professora informa que irá se abster. Para ela, nenhum deles está capacitado para governar.

Meu voto foi para Miguel Rossetto (PT)

Leonardo Barragana, 23, estuda Jornalismo e conta que tem uma relação forte com a política. “Costumo sempre me posicionar e defender as coisas que acredito.” Tudo o que consome de informação vem da Internet. No primeiro turno, votou em Miguel Rossetto (PT), por maior alinhamento com suas ideias — e por serem do campo progressista. “Eu voto em candidatos de partidos progressistas, que representem as diferentes classes e lutem pelos direitos sociais das minorias. Simplesmente isso. Só sou contra candidatos de viés liberal e conservador.” Para o segundo turno não se sente representado nem por Eduardo Leite, nem por José Ivo Sartori. Ele não acredita em uma grande melhora do futuro do Estado, e ainda não decidiu se escolherá um dos dois candidatos ou se anulará o voto.

O que dizem os analistas políticos

No que diz respeito às eleições locais, tivemos uma espécie de “derrocada” da esquerda. Os candidatos que avançaram parecem representar um mesmo modelo ideológico e de gestão. Eduardo Leite (PSDB) teve cerca de 36% dos votos, contra 31% de José Ivo Sartori (MDB), ambos avançaram para o segundo turno.

Para traçar um panorama das eleições do Rio Grande do Sul conversamos com Carolina Corrêa, Pesquisadora de Pós-Doutorado no PPG Ciência Política da UFRGS.

Carolina ressalta aspectos peculiares da cenário eleitoral do RS: “No caso no Rio Grande do Sul, temos um cenário bastante curioso que marca a nossa história política. Nunca reelegemos um Governador. Existe uma polarização muito tradicional na política do nosso Estado, que advém da própria antiga disputa entre maragatos e chimangos.” diz.

Beta Redação: O que significaria uma possível reeleição do candidato do MDB?
Carolina: Caso o José Ivo Sartori (MDB) seja eleito, essa seria a primeira vez na história que daríamos oito anos de mandato para um Governador. Acredito que essa resistência do povo gaúcho se deve não só a nossa tradicional polarização, mas também as dificuldades econômicas que o Estado tem enfrentado há vários anos e que dificilmente conseguem ser totalmente resolvidas pelos Governos que assumem o poder. O que pode causar na população gaúcha um certo receio em reeleger os candidatos, buscando apostar em algo novo que possa enfrentar essas adversidades financeiras do Estado.

É plausível estabelecer uma relação entre o resultado do primeiro turno, e, o enrobustecimento da direita no Rio Grande do Sul?
Podemos dizer que existe uma onda de direita que vem se fortalecendo no Rio Grande do Sul nos últimos anos e que tem influenciado os resultados dessas eleições. O Estado se mostrou muito receptivo a projeção nacional do PSL associada candidatura do Jair Bolsonaro. O Senador mais votado aqui no Rio Grande do Sul foi Luiz Carlos Heinze (PP) que, apesar de ter o seu partido apoiando a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) com a vice Ana Amélia Lemos (PP), declarou o seu apoio individual à candidatura de Bolsonaro (PSL).

O deputado estadual mais votado, por sua vez, foi o Tenente Coronel Zucco (PSL) que é do mesmo partido de Jair Bolsonaro. Além disso, quando observamos o Deputado Federal mais votado aqui no Rio Grande do Sul encontramos Marcel Van Hattem (Novo) que também representa um posicionamento ideológico mais voltado a direita — tanto que, para o segundo turno, declarou apoio a Jair Bolsonaro (PSL).

Portanto, o fato do candidato Miguel Rossetto (PT) não ter conseguido alcançar votação suficiente para chegar ao segundo turno só comprova essa tendência ideológica de direita que parece ter caracterizado essas eleições no estado do Rio Grande do Sul.

Beta Redação: Qual interpretação pode ser feita do Partido dos trabalhadores de fora do segundo turno?
Carolina: Com o candidato do PT longe do segundo turno aqui no Rio Grande do Sul, a disputa entre José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) representa uma novidade para o nosso cenário político que tradicionalmente trazia um candidato do Partido dos Trabalhadores para o quadro dos dois candidatos mais votados para o cargo de governador. Portanto, observamos, mais uma vez, a presença dessa rejeição à ideologia de esquerda e/ou centro-esquerda e o fortalecimento da direita, pois ambos os candidatos que atualmente disputam o segundo turno no estado estão mais próximos de propostas características de uma posição de centro-direita — ambos, inclusivamente, apoiando a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL).

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