Startup de RH batalha pela inclusão de pessoas com deficiência

Addapta visa tornar mercado de trabalho mais inclusivo para PCDs com capacitações e acompanhamento dentro das empresas

Aline Santos
Redação Beta
5 min readNov 1, 2018

--

Gabriel, Rafael, Marina e Simone são sócios na startup (Foto: Aline Santos/Beta Redação).

A experiência de Simone Chollet, 33, como professora no projeto ‘Menor Aprendiz’ fez despertar a atenção para um problema social, que acabou se tornando nicho de mercado. Simone percebeu que os alunos com deficiência encontravam dificuldade de conquistar uma vaga após o final do programa. Para atender essa demanda, a então professora, criou a startup Addapta, de Esteio, especializada na prestação de serviços de recursos humanos para pessoas com deficiência. A empresa tem um ano de existência, conta com Simone como administradora e Marina Bandeira, 25, o tecnólogo em RH Gabriel Passos, 37, e o profissional de processos gerenciais Rafael Bandeira, 35.

Simone e Marina são irmãs, Simone é casada há 13 anos com Gabriel, eles eram vizinhos de longa data, mas foram apresentados oficialmente por um amigo em comum. “Dá pra dizer que a gente era meio Eduardo e Mônica, éramos diferentes mas acabamos nos interessando um pelo outro. Eu puxei ele um pouco para o meu mundo e ele para o dele, e a gente nunca mais se desgrudou”, comenta Simone. Marina é casada há 7 anos com Rafael, ambos se conheceram no trabalho e perceberam afinidades.

Além da experiência de Simone com os PCDs, todos os membros da equipe têm algum parente com deficiência. Gabriel perdeu seu irmão deficiente físico no ano passado, aos 32 anos, vítima de meningite. “Aos 13 anos ele teve um câncer e precisou amputar a perna, mas ele era obstinado, teve uma carreira meteórica, fez faculdade, morou em São Paulo e trabalhou em um banco. A coragem e determinação dele durante a sua vida me marcaram bastante”, relembra.

Rafael conta que tem um primo autista e duas primas deficientes auditivas, uma delas casada também com um deficiente auditivo. “O esposo desta minha prima teve atendimento negado no INSS por negligência do atendente, e outros deficientes auditivos também passaram por isso na agência. Minha prima buscou ajuda para fazer valer os direitos do marido”, desabafa. Já Simone e Marina citam um primo que após uma febre apresentou sequelas mentais, condição que o impede de trabalhar.

No período da gravidez, Marina descobriu que o bebê possuía a Síndrome de Edwards, um fator genético em que a pessoa possui três cópias do cromossomo 18 e nasce com malformação do crânio, mandíbula e membros. O bebê veio à óbito logo após o nascimento. A dor da perda do filho motivou Marina a se engajar no projeto para ver os profissionais PCDs devidamente inseridos nas vagas e com o suporte adequado. “O Gui foi uma das minhas grandes inspirações”, relata.

O nascimento da Addapta

Equipe reunida na sala Google For Education, da Unilasalle (Foto: Aline Santos/Beta Redação).

Os primeiros meses da startup envolveram muito trabalho de campo, com diversas visitas à empresas para verificar o interesse pelo serviço. Ao lançarem o site, iniciaram o cadastro de usuários, bem como de empresas interessadas em contratar.

Segundo os sócios, o diferencial da Addapta com relação à concorrente Egalité, de Porto Alegre, é a dinâmica online, desde o site até o recrutamento. O processo via web evita que os PCDs com dificuldade de locomoção se desloquem sem necessidade. “A proposta é ir até a empresa uma vez por mês com um relatório onde verificamos as condições e as dificuldades encontradas pelo PCD, com esse diagnóstico podemos traçar estratégias de melhorias para o colaborador e o empregador”, salienta Marina. Até o momento, a startup está em fase de testes e conta com cerca de 3 mil cadastros de usuários que visam participar de processos seletivos, os candidatos são do Vale do Sinos, Região Metropolitana e até mesmo do interior do Estado. A startup também conta com uma lista de 100 empresas no cadastro.

Brainstorm dos sócios (Foto: Aline Santos/Beta Redação).

O lucro da startup vem do pagamento das empresas que abrem vagas no site. “A empresa cria um perfil, escolhe os serviços que deseja utilizar e efetua o pagamento”, explica Simone. De acordo com ela, os serviços disponíveis para as empresas envolvem os processos de recrutamento, seleção, acompanhamento, endomarketing, treinamentos, dentre outras possibilidades. “Nos nossos treinamentos estamos estabelecendo parcerias, entre elas a de uma professora de libras”, conta Rafael. Os candidatos às vagas não precisam pagar nenhuma taxa para serem encaminhados ao processo seletivo das empresas.

A Addapta realiza atendimentos de campo e reuniões em coworkings próximos das residências dos candidatos ou das empresas contratantes para facilitar o acesso. “Prefeituras e outras instituições como as Apaes, a Associação Leopoldense de Deficientes (Aldef), entre outras já nos abriram as portas para que pudéssemos realizar trabalho de capacitações, pois gostaram da iniciativa”, ressalta Marina.

Grupo aguarda avaliação dos jurados e seguem para a final do concurso (Foto: Aline Santos/Beta Redação).

Rumo ao Canoas Startup Show

Atualmente a Addapta conquistou o segundo lugar da 2ª edição do Canoas Startup Show, um concurso realizado pela CDL Jovem de Canoas em parceria com a Unilasalle que visa fomentar a inovação no município.

O concurso integra as startups participantes com o nicho do empreendedorismo, no qual elas podem ter contato com investidores, empresários e demais envolvidos no mundo dos negócios. Além de fomentar a inovação no município de Canoas, atuam também com startups da região metropolitana e Vale dos Sinos.

Os candidatos se inscrevem e são selecionadas as 15 melhores iniciativas. A partir disso, as startups são pré-incubadas e participam de oficinas gratuitas de modelagem e estruturação de negócios durante 2 meses, logo após seguem adiante para as demais etapas de classificação. A vencedora tem direito a três meses de incubação na La Salle Tech, núcleo orientado a difusão do empreendedorismo e da inovação da Unilasalle. O júri é composto por investidores e outros profissionais do nicho, este ano a final contou com a presença de Caito Maia, jurado do programa Shark Tank Brasil e proprietário da rede Chilli Beans.

Na edição de 2017, ano de lançamento do concurso, quem venceu foi a startup Eurekka, uma iniciativa que visa utilizar a psicologia para trazer melhorias para as organizações.

--

--

Aline Santos
Redação Beta

Jornalista, escritora, criativa, mediadora de experiências gastronômicas e afins.