Só para mulheres

Despontam coletivos de trabalho exclusivos para o público feminino no Rio Grande do Sul

Renata Garcia
Redação Beta
5 min readMay 8, 2019

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Coworking para mulheres busca representatividade e criação de comunidades femininas (Foto: Nuwa/Divulgação)

E m contraponto ao machismo que persiste na sociedade, grupos de mulheres se articulam para criar espaços de empoderamento e reconhecimento profissional. Esses coletivos surgem a partir do fortalecimento das ligações femininas e oferecem protagonismo, representatividade e, também, segurança às usuárias.

Em Porto Alegre, as Minas de Propósito têm o objetivo de dar voz às mulheres. O coletivo nasceu em 2018, quando quatro jovens empreendedoras com diferentes histórias e criações se uniram em prol das mesmas paixões.

Uma das fundadoras do projeto, Miriã Antunes, conta que o coletivo tem como objetivo principal movimentar o mercado empreendedor do Rio Grande do Sul por meio de troca de ideias, compartilhamento de experiências, palestras e construção de relacionamentos. “Nossa missão é reunir pessoas de forma inclusiva para compartilhar, debater e inspirar cada vez mais pessoas, falando sobre empreendedorismo inclusivo, empoderamento, propósito e relacionamento”, explica.

Os eventos do projeto se baseiam em conversas informais sobre a mulher no mercado de trabalho, ou personagens que mereçam destaque. Além disso, reúnem profissionais com carreiras consolidadas e também aquelas que buscam inserção no mercado. Para o coletivo, uma das vertentes essenciais é a inclusão. “Nossa premissa são histórias coerentes e inspiradoras. Homens são sempre bem-vindos, mas só na plateia como ouvintes”, conta Miriã.

Campus da Uniritter foi palco, no mês de março, de palestras do Minas de Propósito (Foto: Minas de Propósito/Divulgação)

Por trás da iniciativa, no entanto, existem questões sociais que precisam ser tensionadas. Para a jornalista e professora da Unisinos, Márcia Veiga, coletivos femininos são ações de enfrentamento de um espaço público de poder e de prestígio que sempre foi majoritariamente masculino. “Precisamos de locais de fala como esses, principalmente para suprir essa transformação de uma cultura extremamente sexista, independente de gênero. Começamos a privilegiar um gênero que é historicamente desprivilegiado”, declara.

Miriã revela que as Minas de Propósito têm vários projetos a caminho. “Nosso site vai ao ar em dois meses, levando todo o nosso conteúdo. Além disso, teremos camisetas e carteiras feitas pela Dobra e toda a renda será revertida para ações de mulheres nas comunidades do Rio Grande do Sul”, conta.

Fortalecimento e união de mulheres no negócio

Dados do Ministério do Trabalho, através do Cadastro Nacional de Emprego e Desemprego (Caged), indicam que a participação feminina no mercado vem aumentando. Em 2016, 44% das vagas foram ocupadas por mulheres. Os números podem ser positivos, mas estar empregada não significa que as condições e a valorização do trabalho sejam iguais às do sexo oposto.

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostram que o ambiente profissional para as mulheres é muito mais desafiador do que para homens. Apesar do aumento nas vagas, o salário das mulheres e as oportunidades de trabalho ainda são menores do que para os homens. Foi a partir dessa realidade que surgiu a Nuwa, coworking criado por e para mulheres. Inaugurado em agosto de 2018, o coletivo é muito mais que um espaço físico para trabalho: o objetivo é oportunizar novos caminhos para as mulheres no mercado, sobretudo na hora de empreender e desenvolver suas ideias.

Nuwa conta com salas para estudos, centros de trabalho e salas de atendimento (Foto: Nuwa/Divulgação)

O coworking fica no bairro Santana, em Porto Alegre, em uma casa construída em 1950. O espaço foi totalmente reformado para abrigar o coletivo, mas sem perder as essências minuciosas de uma construção de época. O espaço é destinado para quem não tem local fixo de trabalho, ou para quem pretende variar o ambiente. O espaço conta com salas de atendimento para consultas pessoais, sala de reuniões e espaço para chamadas de vídeo ou telefônicas.

Segundo Gabriela Teló, uma das fundadoras da Nuwa, o projeto é composto por três pilares. “Desde o começo percebemos que tudo deveria ter como base o conteúdo, a comunidade e o coworking. Sem isso, é praticamente impossível manter o nosso propósito”, afirma.

Eventos da Nuwa auxiliam na troca de experiências entre as participantes do projeto (Foto: Nuwa/Divulgação)

O conteúdo é o tema central que mobiliza os trabalhos da Nuwa. A partir desse eixo, acontecem palestras e rodas de conversas sobre a temática norteadora, que neste mês está centrada no design. Os conteúdos também são abordados na plataforma online, reunindo vídeos, leituras e podcasts. As participantes recebem apoio tanto no espaço físico, quanto no meio digital.

A Nuwa também recebe homens, mas os poucos participantes do sexo masculino que frequentam o grupo acessam um espaço diferenciado, fora do fluxo da casa. Gabriela ainda reforça que a ideia não é excluir o sexo masculino, mas sim empoderar as mulheres que fazem parte desse ciclo.

“O mais impressionante, desde que abrimos a Nuwa, é que tivemos muitas mulheres superpoderosas, empoderadas e dispostas a ajudar outras. Mas, dentro disso, vimos que todas elas têm problemas de confiança, assim como nós. O sentido da comunidade é aprender juntas a desenvolver a autoconfiança, independentemente do setor da nossa vida”, declara.

Márcia destaca o sentido de horizontalidade criado nessas comunidades. “Esse estilo de colaboração é amplamente transpassado nesses coletivos. Ninguém é melhor do que ninguém. Pisar umas nas outras é uma ideia retrógrada. É sentir-se incomodada com a ideia de que somos superiores ou mais valorosos que alguém”, destaca.

Coworking incentiva o empoderamento das mulheres (Foto: Nuwa/Divulgação)

Serviços exclusivos para mulheres em Porto Alegre e região

NUWA

No site do coletivo, é possível encontrar os planos que melhor combinam com o dia a dia e a disponibilidade da usuária. O clube de conteúdo online pode ser assinado mensalmente por R$ 40. Já os planos de acesso ao coworking variam entre o básico, por R$ 240, e pacote completo, por R$ 540.

CADÊ AMÉLIA

O estúdio de tatuagem foi criado em 2016, em Porto Alegre, com o intuito de dar às mulheres um tratamento mais humanizado, privativo, cuidadoso e profissional. O ambiente diferenciado tem o intuito de trazer uma experiência completa, com maiores cuidados para as frequentadoras. Um diferencial do local é que os sócios homens não podem entrar no espaço durante as sessões.

DIOSA

A Diosa é uma plataforma de serviços gerais femininos. Por meio do aplicativo é possível localizar mulheres capacitadas para aqueles trabalhos manuais que requerem tempo e paciência. Além disso, o serviço conta com qualificações para pessoas que querem aprimorar os seus serviços ou para quem deseja realizar essas atividades sozinha.

ENTREVISTE UMA MULHER

O projeto é para quem está interessado em um banco de dados com fontes femininas. O projeto tem como objetivo principal combater a ausência de fala feminina em matérias e reportagens jornalísticas. Qualquer especialista pode se cadastrar no entreviste uma mulher para prestar esse tipo de serviço aos jornalistas e produtores de conteúdo.

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Renata Garcia
Redação Beta

24 anos e estudante de Jornalismo. Por aqui, relatos do cotidiano. Além disso, falo sobre inovação e tecnologia na @gramadosummit!