Tática e pertencimento definem a história do Ximangos Flag

Criado em 2018, time feminino de Carlos Barbosa já conquistou o vice-campeonato na competição estadual da modalidade

Vitorya Paulo
Redação Beta
4 min readNov 21, 2020

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Equipe de Carlos Barbosa já conquistou o vice-campeonato estadual da modalidade (Foto: Daiana Schäfer Moraes/Divulgação Carlos Barbosa Ximangos)

É um esporte coletivo de invasão: composto por dois tempos de 20 minutos, o jogo coloca cinco atletas para cada equipe em campo, sendo uma equipe de ataque e uma de defesa. O objetivo da equipe que inicia atacando é chegar na “endzone” adversária para conseguir marcar o famoso touchdown. As semelhanças são muitas, mas o Flag Football “não é um jogo de futebol americano mais leve ou mais fácil”, ressalta a jogadora do Carlos Barbosa Ximangos Flag Camille Baldasso. Criado em 2018, o time feminino de Carlos Barbosa, na Serra Gaúcha, congrega 17 atletas e conquistou o vice-campeonato da Copa RS da modalidade em 2019.

“Eles têm a mesma origem, mas são diferentes. Na Segunda Guerra Mundial, os soldados queriam praticar um esporte, mas sem se machucar. Aí, arranjaram um jeito de jogar com o mínimo de contato violento possível”, explica Camille, que também é historiadora e professora de idiomas. Em campo, todas as atletas possuem cintos com duas “flags” (bandeiras) removíveis na cintura. A forma de parar o avanço terrestre, ou após um passe recebido pelo ataque, é remover uma ou as duas flags da atleta que estiver com a posse de bola. O avanço pelo campo vale até uma das flags ser removida por alguma oponente. Quando uma equipe marca o touchdown, ganha o direito a tentar uma pontuação extra, que pode ser de um ou dois pontos. A posse de bola passa para a equipe adversária quando uma equipe pontua, ou esgotam suas tentativas de avanço ou acontece uma interceptação.

Defesa tem o objetivo de retirar as flags da cintura da jogadora que mantém a posse de bola (Foto: Daiana Schäfer Moraes/Divulgação Carlos Barbosa Ximangos)

A equipe de Flag do Ximangos surgiu através da vontade coletiva das parceiras dos atletas da modalidade masculina Full Pads, que já existia no clube. “Lá em janeiro de 2018, as namoradas de alguns jogadores resolveram criar o time de Flag Football e chamaram o William Trevisan para ser o treinador. Ele comentou comigo sobre o time e o esporte e me convidou para um treino. Até então, eu não conhecia nada sobre regras, técnica ou qualquer coisa do tipo, mas os treinadores estavam sempre dispostos a nos ajudar, cobrar e, principalmente, incentivar”, conta Natália Manica, ex-jogadora do time. Por conta de um intercâmbio, ela deixou o esporte, mas garante que voltará aos treinamentos assim que a pandemia da Covid-19 permitir.

Os treinos em campo na pré-pandemia, aliás, eram intensos. “Aconteciam, obrigatoriamente, nos sábados à tarde, independente do tempo. Com chuva, sol, verão de trinta e todos graus, ou inverno de temperatura negativa, o sábado era sagrado e todas ansiavam pela sua chegada”, afirma Natália. Nas terças-feiras, o comparecimento não era obrigatório devido aos outros compromissos das atletas. “Nossa comissão técnica está de parabéns. Eles se adequam à nossa realidade e às nossas circunstâncias”, destaca Camille.

Final da CopaRS, em que o Ximangos conquistou o vice-campeonato (Vídeo: FGFA Federação Gaúcha de Futebol Americano)

Porém, com a chegada do coronavírus e a impossibilidade de reunir presencialmente para treinar, o time se adaptou. O treinador, William Trevisan, garantiu que os cronogramas fossem mantidos mesmo que virtualmente. “Nas terças, fazíamos treino físico. Nas quintas, treino técnico exclusivo para as quarterbacks e, nos sábados, treino teórico-técnico adaptado com o ataque e defesa. Durante esse período, também buscamos ter experiências com atletas convidadas de outras equipes aqui do Rio Grande do Sul, além da presença da Head Coach da seleção brasileira de Flag Football, Victória Guglielmo. Tivemos alguns encontros específicos com a nutricionista e psicóloga que nos acompanham”, afirma o treinador.

Mais do que um ganho pessoal, fazer parte de um esporte e se constituir como um time é importante para todas as mulheres, afirma Camille. “Fazer parte desse time me motiva não só em pensar num campeonato ano que vem e que quero ganhar. É mostrar para as pessoas que a gente tem qualidade, o quanto o Flag é incrível e o quanto merecemos ter esse reconhecimento”. Ela ressalta que, com mais mulheres integrando o esporte, é possível fortalecer o cenário como um todo. “É para que daqui 50 ou 100 anos, a gente não tenha que ficar penando para conseguir investimento, para conseguir que abram um time futebol dentro de um clube. Para que toda vez que se crie um time, já se crie um time feminino e masculino”, ressalta.

No Brasil, existem 160 equipes praticando o Flag Football atualmente. Santa Maria Soldiers, Ijui Queens, Porto Alegre Lions e Santa Cruz Chacais são alguns times do Rio Grande do Sul que William destaca, além, é claro, do Ximangos. Para fazer parte da equipe, é realizada uma seletiva anualmente para recrutamento de novas atletas. Assim que selecionadas, as atletas entram em um período de 30 dias de avaliação e, caso sejam aprovadas, passam a integrar oficialmente a equipe. As atletas não pagam valor algum para a realização da seletiva, mas após fazerem parte oficialmente da equipe, há uma anuidade cobrada de todas as atletas. Mais informações podem ser conferidas no Instagram do time: @cb_ximangos.

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Vitorya Paulo
Redação Beta

Jornalista, nascida no Rio Grande do Sul mas com sotaque indefinido. Apaixonada por cachorros, gastronomia italiana, maquiagem, bom senso e empatia.