“Tem que montar banda pra se divertir”, prega Duda Calvin

Com mais de 25 anos de Tequila Baby, vocalista comenta que “as festas hoje estão muito comportadas, as pessoas saem do mesmo jeito que entraram”

Gabriel Nunes
Redação Beta
15 min readNov 14, 2020

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A camisa do Ramones e a jaqueta de couro são marcas registradas de Duda. (Foto: Arquivo Pessoal/Duda Calvin)

Há mais de 25 anos na estrada, Duda Calvin, vocalista da banda gaúcha Tequila Baby, é um dos principais nomes do punk rock gaúcho e nacional. O timbre rouco e rasgado do frontman faz parte da identidade do grupo musical. Desde 1994, Duda e a Tequila já lançaram oito discos, sendo dois ao vivo, e diversos singles em formato digital, levando o mais puro punk rock para todo o Brasil.

Aos 49 anos, ele já dividiu palcos com grandes nomes do rock mundial, como NOFX, Bad Religion e The Offspring, e integrantes da maior banda punk de todos os tempos, Ramones, na qual ele se inspirou muito durante a carreira.

Formado em História, Duda também já concorreu a deputado estadual em 2014, pleiteando maiores investimentos governamentais para a cultura do Rio Grande do Sul. Embora não tenha sido eleito, elaborou o projeto “Cadê a cultura no RS”, que visava formas de divulgar e realizar eventos culturais e artísticos sem grandes quantias de dinheiro envolvidas.

A Beta Redação conversou com o artista, que falou sobre a carreira dele e da Tequila Baby, sobre o cenário do punk rock gaúcho e sobre as dificuldades que as bandas que estão surgindo enfrentam no cenário musical atual.

A influência do Ramones sobre a Tequila Baby é inegável. (Foto: Arquivo Pessoal/Duda Calvin)

Você é um dos principais nomes do punk rock gaúcho e nacional. Como lida com esse fato? Tem alguma pressão extra nesse sentido?

Eu acredito que nos outros estilos musicais pode ter alguma pressão quando tu é expoente de algum estilo musical. Mas no punk rock, via de regra, isso não acontece. Porque como ele tem o slogan “faça você mesmo”, tu consegue fazer um trabalho, uma divulgação e ter responsabilidades diferentes de uma banda de outro estilo.

Vou te dar um exemplo: eu estou lendo o livro do Ira! agora, e ali falava das pressões da gravadora e do mercado em cima do vocalista, o Nasi. Pois muito bem, o Ira! não tinha no momento a chance de lançar um disco de forma independente, ou lançar sem ter mídia física, somente com mídia digital. Eles não tinham essa opção, então eles tinham que se moldar àquele mercado.

O punk rock não precisa disso, vamos aos fatos. Se tu não tem uma gravadora, tu pode montar a tua própria. Tem um monte de banda que fez isso na história, Bad Religion, NOFX, que montou sua própria gravadora e, no Brasil, um monte de bandas lançaram materiais independentes.

Inclusive a Tequila, certo?

Inclusive a Tequila, sim. Então, como tu não tem essa obrigação de mercado, que essas outras bandas têm, tu não tem tanta pressão sobre ser um nome importante da cena, ou algo nesse sentido, porque consegue se divulgar mesmo não estando nos principais veículos de comunicação. Outros estilos musicais, que precisam se divulgar, necessitam desses veículos.

Você imaginava, lá em 1994, quando ainda era um fã dos Ramones, que hoje teria esse legado para a música gaúcha e para o punk? Foi só por diversão, pra fazer um som com a galera?

Quando a gente começou a tocar, tinha os sábados livres, que eram para fazer música, tocar cover, na verdade. Não tínhamos música própria. Começamos tocando cover, depois fizemos uma música, da música a gente fez um show, do show gravou uma demo, da demo alguém de uma rádio gostou, começou a tocar, depois fomos convidados a fazer um disco.

“Nem imaginava que iria durar tanto tempo ou dar certo”

Ou seja, nada daquilo a gente pensou em fazer. Pensamos em montar uma banda pra nos divertir. Quando começou a dar resultados aquela diversão, a gente, como qualquer garoto que é convidado a fazer alguma coisa muito diferente, como gravar um disco, uma música, fazer um show, ficou muito feliz. Mas não esperava que 26 anos depois eu estaria falando sobre isso, de montar uma banda, como é que foi e tudo mais, porque nem imaginava que iria durar tanto tempo ou dar certo.

Ao longo da tua carreira, desde 1994 até hoje, qual foi o momento que mais te marcou?

Acho que o primeiro disco (Tequila Baby), quando saiu, foi muito marcante, porque imagina, gravar um disco e ele ser escutado pelos teus amigos e depois por pessoas que tu sequer conhecia, era uma coisa muito legal. Isso chamou muito a atenção.

“Sexo, Algemas e Cinta Liga” foi um dos carros-chefes do primeiro álbum da banda. (Vídeo: Tequila Baby/YouTube)

O show com o Marky Ramone, no Planeta Atlântida, foi também um marco muito importante na minha vida. Porque tu tá tocando do lado de uma das pessoas que te influenciaram pra começar a fazer música, foi uma coisa memorável.

“Via de regra o músico sabe tocar, mas não sabe trabalhar com os negócios da música”

O DVD que a gente gravou no Opinião, em meados dos anos 2000, com o Marky, também foi um momento muito importante. Porque a gente nunca esperou registrar esse momento, para ser eternizado. Hoje tu bota no YouTube, no Spotify e outras mídias digitais, está lá, o DVD na íntegra. Então é uma coisa muito bacana que vai ficar para sempre registrada.

Eu acho que esses três momentos foram muito bons, além de lançar um disco por conta própria, como foi o Lobos não usam coleira, lá em 2008. Foi um momento muito bacana na minha vida, porque tu ser o responsável pelo teu próprio disco é uma coisa muito importante. Tu sabe tudo que é necessário pra gravar, divulgar e distribuir a música. E eu vou te contar uma coisa, é um momento bem complicado. Porque via de regra o músico sabe tocar, mas não sabe trabalhar com os negócios da música. Então, foi um aprendizado.

E como foi a relação com o Marky e com o CJ Ramone? Lembro que fui em um evento que vocês abriram para o CJ, em Novo Hamburgo, mas por algum motivo precisaram terminar o show mais cedo. O que houve naquele momento?

Com o Marky foi muito bacana, todos os shows que a gente fez, incluindo o disco e todas as participações que vieram depois. Foi muito legal e quem sabe um dia a gente consiga fazer de novo. Com o CJ foi bacana também.

Naquele show específico de Novo Hamburgo, o problema foi da produção dele, que queria que o show terminasse mais cedo, porque eles tinham que viajar para ir pra outra cidade fazer show em um outro dia. Então eles tinham um trajeto muito grande de estrada para cumprir. Mas o CJ é gente boa demais, eu toquei com ele faz um ano e meio, em São Paulo. E ele sempre foi muito prestativo. Eu espero ver ele nos palcos, na ativa ainda por muito tempo, assim como espero ver o Marky mais vezes. São pessoas muito legais.

Você comentou do disco Lobos não usam coleira, produzido e lançado de forma independente pela Tequila Baby. Além disso, já foram lançados diversos singles, também de forma independente. O quão difícil é fazer isso, sem todo o aporte de uma gravadora e/ou produtora para fazer a distribuição e divulgação?

É bem difícil. Mas cada banda tem que descobrir o jeito de como trabalhar e de como fazer isso. Não existe uma regra, não tem uma fórmula, cada uma acaba descobrindo na prática. Acho que a continuidade de músicas e lançamentos vai calejando a banda e tornando ela mais experiente nesse sentido.

Agora falando em 2020, com a questão do coronavírus. A banda estava em turnê de 25 anos. Como essa pandemia afetou os planos?

Então, a gente queria este ano gravar um DVD. Porque faz muito tempo, mais de 10 anos que não tem um registro de vídeo da banda. Não vai ter como fazer isso em 2020. Em contrapartida, fizemos duas lives muito legais e estamos indo para a próxima agora em dezembro. Mas é diferente de um show, porque não tem público, né.

Realmente, o público faz uma diferença enorme.

Com certeza, ainda mais em um show de punk rock. Mas o bacana é que ao menos tu consegue mostrar para a galera que está em vários lugares no mundo como é o show da Tequila. Eu acho que as lives ajudaram muito a divulgar a banda e um monte de gente começou a escutar, porque viu como é o show na live.

Principalmente quem mora em outras cidades, fora do país ou em outros estados do Brasil, que não tem condições de ver um show da Tequila como a galera aqui do Sul. Então a live tá servindo pra isso. Claro, adoraria fazer um show presencial, mas acredito que isso só vá ser possível depois de uma vacina ou algo nesse sentido.

Formada em 1994, a banda hoje é composta por Rafael Heck (bateria), Duda Calvin (vocal), James Andrew (guitarra) e Rodrigo Gaspareto (baixo). (Foto: Mateus Martins/Divulgação/Tequila Baby)

E para 2021, quais os planos (tendo em vista que a pandemia acabe ou que façam uma vacina, como tu mencionou)? Podemos esperar algum álbum ou single novo?

A nossa vontade é lançar duas músicas agora para o final do ano. A gente espera lançar neste mês (novembro) e em dezembro. Porque nós faremos a nossa live de Natal, que é o tradicional “Natal Punk Rock”. E vai ter o lançamento para essa live, com músicas inéditas, queremos lançar o quanto antes isso. Também tem o clipe pra fazer, talvez um disco novo, mas principalmente para 2021 fazer esse DVD, que a gente não conseguiu fazer em 2020, para comemorar os 25 anos da Tequila. Espero que em 2021 seja possível.

Fui em diversos shows da Tequila Baby, quando tocaram em Novo Hamburgo. E em todos eles, antes do show, você estava lá na entrada, cumprimentando e conversando com os fãs da banda. Isso influencia na legião de fãs que a banda possui, certo? Além disso, o que mais tu acredita que ajuda nessa relação extremamente positiva que existe entre a banda e o público?

Eu acho que assim, a galera que hoje vai nos shows, qualquer garoto ou garota, quer se divertir. Via de regra, os locais pra se divertir ou as festas não deixam as pessoas extravasar. Porque é necessário para o menino ou a menina, quando vão em um show, pular, dançar, suar, cansar, e voltar feliz pra casa. Isso é muito importante. Porque tem muita energia, sendo necessário que essa energia se dissipe. Então o show tem isso de bacana, faz a pessoa cantar, dançar, pular, e voltar muito cansado e feliz do show.

“Ninguém da banda é mais guri, mas tem uma garotada que vai nos shows porque a gente oferece justamente o que eles estão querendo”

O problema é que hoje não tem tantos shows que possibilitem isso para o público. E o show da Tequila possibilita. É engraçado até, a gente tem 25 anos de banda, ninguém da banda é mais guri, mas tem uma garotada que vai nos shows porque a gente oferece justamente o que eles estão querendo, que é pular, dançar, suar e se divertir.

Hoje em dia as festas estão muito comportadas. As pessoas saem da festa do mesmo jeito que entraram. E quando a gente começou uma banda, pensamos, vamos fazer uma música, um evento, para as pessoas se divertirem muito. Eu acho que é por isso que a Tequila tem tanto fã, tem uma galera muito nova que curte a banda.

Porque a gente propicia isso. A gente faz com que a pessoa que vá no show participe ativamente dele. Seja na roda punk, seja pulando, dançando ou cantando, mas participa ativamente e aquilo chama a atenção de outras pessoas. Porque na real, o pessoal quer isso, se divertir. O pessoal precisa de música, precisa extravasar. E um show é perfeito para isso.

É aquela energia punk crua, né?

Exatamente, o punk é isso.

Agora que você mencionou a gurizada, o pessoal mais novo, qual a maior dificuldade que as novas bandas enfrentam, na tua opinião?

É muito difícil montar uma banda e começar um trabalho. Porque quando se monta uma banda, tem que ser para se divertir. Eu noto que muita gente cria uma banda pensando que vai ter um grande público e que várias pessoas vão ir assistir ao show. Errado! Tem que montar uma banda pra se divertir. Se vai gente no show, se vai fazer sucesso, é resultado de trabalho.

A Tequila, no início, como toda banda, também tocou para pouca gente, fez shows com pouquíssimo público, e aquilo foi aumentando aos poucos. Por quê? Porque muitas pessoas notaram que a banda estava se divertindo no palco, o show era bacana e as coisas foram acontecendo. O problema é quando a banda está cobrando dela mesma de ter público, de tentar agradar todo mundo, ou tocando cover, ou fazendo só versões. Com isso, a banda acaba não imprimindo para as pessoas uma identidade.

“As bandas novas não têm paciência. Querem fazer sucesso em dois ou três anos. Não vai acontecer”

Tudo bem que a Tequila é influenciada por Ramones, a gente sabe disso. Mas a Tequila não é e nem quer ser os Ramones. Os fãs da Tequila sabem que ela é influenciada, mas ela tem uma identidade própria. E essa identidade própria foi cunhada com as músicas da banda, no tempo de estrada.

O problema é que as bandas novas não têm paciência para isso acontecer. Montam uma banda e querem fazer sucesso em dois ou três anos. Não vai acontecer. A Tequila é de 1994, e só foi ter mais gente escutando lá em 1999. Ou seja, muito tempo se formando. Então não foi de uma hora para outra, e o problema é que muitas pessoas não têm paciência para esperar.

Eles montam uma banda e querem fazer sucesso, querem ter resultado. E isso só vai acontecendo muito aos poucos e talvez nem aconteça. Eu tenho casos de amigos que têm bandas há mais de 20 anos. Nunca fizeram sucesso, mas se divertem muito tocando. Porque eles não têm essa necessidade de ter um grande público. Eles fazem música para se divertir.

Acho que podemos voltar àquela pergunta que tu fez lá no início da entrevista. Você montou uma banda para se divertir? Sim! Montamos uma banda para se divertir, por isso que as coisas caminharam para onde tinha que ser.

E quais bandas da região tu indica, que na tua opinião estão indo no caminho certo?

Aqui no Rio Grande do Sul tem a Rebel Machine, Os Orácios, a Flanders 72, o Rotentix, tem muita coisa bacana. Tem muita banda nova, e nem tão nova assim, com um bom material para ser mostrado. O bacana é sempre peneirar, sempre ficar informado dos shows. Aqui no estado tem muita banda boa, o pessoal só tem que ir atrás. Ao fazerem isso, o punk rock sai ganhando.

Mudando um pouco de assunto, ao longo da tua carreira, quais foram os álbuns que tu mais gostou? Qual teu álbum favorito da Tequila Baby?

É difícil de dizer. Acho que os Ao Vivos são sempre legais. São um apanhado da carreira, certo? O Ao Vivo no Dia Mundial do Rock é bom e o Ao Vivo com Marky Ramone é muito legal. Sempre são álbuns que têm um pouquinho de cada disco da banda, ali misturado. E tem o lance do público estar junto, cantando e fazendo o show. Então isso é bacana. Mas é muito difícil dizer isso, de qual álbum é preferido, porque cada um tem uma preferência, então não existe uma unanimidade. O que é bom: quando não tem unanimidade, quer dizer que o trabalho da banda marcou diferentes pessoas em diferentes épocas.

Álbum ao “Ao Vivo com Marky Ramone” é um dos favoritos de Duda. (Vídeo: Youtube)

E ao longo da tua carreira, tem como selecionar o momento mais difícil para ti?

Eu acho que foi quando eu tive que fazer uma cirurgia do coração.

Em 2016?

Isso, os primeiros shows pós-cirurgia foram muito difíceis. Os shows antes da cirurgia também. Então foram os momentos mais difíceis, que eu lembre, no palco. Mas consegui fazer os shows e continuar com a música, na época. Então acabou sendo um estímulo, porque foi bem complicado.

E hoje, como está a tua saúde?

Agora está tudo ok. Foi uma infecção hospitalar que me deu na época. Não sou cardíaco nem nada, não tenho nenhum problema no coração. Aquela cirurgia foi crucial naquele momento, por causa de uma infecção, mas nunca mais tive problemas.

Quando tu não está embalando a roda punk nos shows, o que tu faz? Nos momentos de lazer, tem algum hobby?

Eu tinha uma coleção muito grande de camisetas de futebol, durante muito tempo, mas acabei me desfazendo de boa parte delas. Hoje não tenho nenhum grande hobby. Acho bacana quando alguém tem uma coleção e se dedica àquilo. Mas também acho muito bacana quando uma pessoa consegue se desfazer de uma coleção (rindo).

Porque aquilo foi importante pra ti até determinado momento e depois daquilo tu evoluiu, tu teve outras coisas que te chamaram a atenção e aquilo acaba perdendo a importância. É legal quando tu deixa de dar tanta atenção pra algo e começa a perceber que tem outras coisas mais divertidas e mais simples.

Duda Calvin é um dos principais nomes do punk rock nacional. (Foto: Duda Calvin/Arquivo Pessoal)

Entendo. Agora, fugindo um pouco da questão da música, em 2014 tu se candidatou a deputado estadual. Qual foi a tua motivação para concorrer ao pleito?

Foi muito simples. Eu tinha, por causa do curso de História, feito um trabalho de pesquisa e descobri que, se a gente investisse na época em cultura, nas cidades, a gente podia fazer com que a sociedade do Rio Grande do Sul pudesse ir em eventos de cultura sem ter gastos gigantescos pra isso acontecer e fazer com que a população descobrisse artistas novos. É muito simples. Criei o projeto e fiz palestras em mais de 70 cidades do estado.

O projeto “Cadê a Música no RS”?

Exato. E acabei mostrando que dava para fazer isso. Dava para criar grupos pra organizar eventos de rua e principalmente para juntar artistas. Aqui em Porto Alegre a gente criou o FutRock, evento do “Cadê a Música”, que era os músicos e artistas se reunindo uma vez por semana para jogar futebol ou qualquer outro esporte. E ali eles trocavam ideias sobre eventos coletivos, coisas muito legais. Deu muito certo isso em Gravataí, Cachoeirinha, Porto Alegre e algumas cidades do interior. Muita gente dali saiu criando propostas de cultura pelo estado.

Mas eu sabia que era uma campanha difícil, que não tinha grana pra investimento, para divulgação, então sabia que não ia ganhar. Mas foi muito legal poder falar sobre isso pra um monte de gente, que parecia muito interessada, só não sabia como trabalhar com e como fazer cultura com investimento baixo no Rio Grande do Sul, como foi naquele ano.

E tu pretende, talvez no futuro, concorrer novamente?

Vou te dizer uma coisa. No momento, eu acho muito inviável qualquer tentativa, principalmente de quem trabalha com cultura, de criar um projeto político voltado para a cultura. Porque, vamos lá, cultura no Brasil, o Ministério de Cultura do Brasil, está delegado a outras instâncias.

Sim, está bem em segundo plano em nível federal.

É isso, então fica muito complicado. Porque se você vai fazer uma campanha voltada exclusivamente para a cultura e educação, como a que eu tinha, percebe que tanto educação como cultura estão em terceiro ou quarto plano. Então não fica viável defender isso numa candidatura. Porque tu pode até ganhar, mas qual a garantia que tu vai conseguir colocar em prática aquilo que tu estava planejando na campanha? Fica muito difícil.

Ainda nesse assunto, tu pode contar com mais detalhes sobre o projeto “Cadê a música no RS”?

Era simples. A gente tinha que provar na época, para o Governo do Estado, quantas pessoas trabalhavam com arte no RS. Para isso, precisava fazer um levantamento da cadeia produtiva da cultura, que é desde o cara que trabalha com a van até o pessoal que vende bebida, ou seja, todos que trabalhavam no evento.

Aquilo ia dar um número “x”. Digamos que seja no Rio Grande do Sul um total de 20 mil pessoas. Esse número de pessoas, que trabalhassem direta ou indiretamente com cultura, já ia fazer com que o governo começasse a pensar nesse pessoal, pra fazer com que essa galera aumente o número de pessoas.

Porque aumentando o número de pessoas, aumenta o número de eventos, fazendo com que venha mais gente de fora, de outras cidades, verem os eventos culturais. Ou seja, tu vai fazer com que mais pessoas, até mesmo de fora do estado, consigam vir para o Rio Grande do Sul, para poder ver eventos de cultura, com qualidade.

“Cultura e educação estão em terceiro ou quarto plano, então não fica viável defender isso numa candidatura”

É isso que as pessoas fazem quando vão pro Rio de Janeiro, São Paulo etc. Porque os eventos são bem organizados. Chamando as pessoas de fora, vindo para a cidade, consumindo, eles deixam a economia da cidade girando, certo? Que nem no verão, todo mundo vai pra praia e gira a economia da praia.

Mas se isso tem cultura no meio, cara, a chance de sair dali fã de uma banda da tua cidade, do teu estado, é muito grande, fazendo com que mais pessoas no estado comecem a acreditar que também dá pra fazer música, teatro, cinema, literatura etc. Não era só para música o projeto, era para cultura em geral.

Quando tu consome as coisas do teu estado e aquilo começa a sair pra fora, mostra para outras pessoas o que está sendo feito aqui, tu tá divulgando economicamente a cultura do teu estado.

Ou seja, a banda X, o livro Y, a peça de teatro F, ou o filme Z, quando atinge outras pessoas em outros estados, faz com que a arte do Rio Grande do Sul cresça. Não só no número de fãs, mas também em vendagem, fazendo com que mais pessoas tentem viver profissionalmente disso. É simples, na verdade. No projeto eu não inventei nada, apenas trouxe ideias que tem em todo o mundo para cá.

Para finalizar, que dicas você pode dar para quem está pensando em formar uma banda?

O pessoal tem que montar porque curte, porque quer se divertir com os amigos. Se vai dar certo, com bons resultados, isso é continuidade do trabalho. Primeiro, é fazer o que gosta e o que dá prazer para a pessoa. Porque é uma veia criativa, é uma forma de extravasar etc. Enfim, cada um faz música com um objetivo. Então, é fazer o que está a fim de fazer. Se der resultado é uma outra história.

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