Temor de violência acompanha eleitores de esquerda na Avenida Paulista

Parte do eleitorado preferiu usar roupas neutras para se movimentar pela região, palco tradicional de manifestações políticas

Vitória Drehmer
Redação Beta
3 min readOct 2, 2022

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Avenida Paulista, em São Paulo, ficou bastante movimentada durante horário de votação (Foto: Vitória Drehmer/Beta Redação)

A Avenida Paulista, em São Paulo, é um dos principais locais de manifestações políticas do Brasil. A Beta Redação foi até o local durante os horários de votação do primeiro turno das eleições de 2022 para ver como os eleitores estavam se sentindo em relação à segurança das ruas da região.

Desde o início das campanhas para as eleições deste ano, crimes por divergências políticas têm sido registrados. O primeiro deles, envolvendo petistas e bolsonaristas, foi em julho, em Foz do Iguaçu (PR), quando o agente penitenciário federal Jorge Guaranho invadiu a comemoração de aniversário do dirigente do PT Marcelo Arruda e o assassinou a tiros.

De lá para cá, os registros de crimes desse tipo continuaram. No último final de semana, pelo menos três casos de violência envolvendo política foram noticiados no Brasil.

Um deles foi em Angra dos Reis (RJ), onde a militante de esquerda Estefane de Oliveira Laudano, de 19 anos, foi agredida por um apoiador de Jair Bolsonaro (PL). Em Rio do Sul (SC), um bolsonarista foi esfaqueado durante uma briga em um bar por um apoiador do Partido dos Trabalhadores (PT) e não resistiu aos ferimentos. Além disso, um homem levou facadas em Cascavel (CE) logo após se declarar eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e faleceu.

Esses casos de violência deixaram alguns eleitores com medo de manifestarem apoio aos seus candidatos na Avenida Paulista (SP) neste domingo (2).

O engenheiro de vendas Carlos Almeida, por exemplo, optou por votar com uma roupa de cor neutra. “Eu estou de preto justamente por medo. Eu e meu marido queríamos vir de vermelho, mas decidimos que uma roupa neutra seria melhor. A gente também tinha pensado em assistir a apuração dos votos em algum bar por aqui, mas achamos melhor não. É impossível não pensar que pode passar alguém doido atirando na gente. É triste, mas é melhor evitar”, explica.

Já a comerciante Juliana Vilhena preferiu vestir uma camiseta vermelha com uma imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda assim, a eleitora fez questão de dizer que pensou muito antes de sair com a roupa nas ruas.

“Senti medo e estou com medo no momento. A maioria das minhas amigas não me incentivou a vestir essa camisa, mas eu estava com muita vontade e coloquei. Até agora não sofri nenhuma violência, mas estou com medo, sim. Eu estou até com calor e não tirei minha jaqueta de cima da camiseta por isso”, declara.

Por outro lado, a advogada Aline Rodrigues, que estava com a bandeira do Brasil e declarou apoio ao atual presidente do país, Jair Bolsonaro (PL), disse estar tranquila com a vestimenta.

“Estou com essa bandeira por dois motivos: por ser brasileira e por votar no Jair Bolsonaro (PL). Caminhei pouco até agora, mas não senti nenhum medo. Foi muito tranquilo. Eu e meu marido saímos de casa e nem pensamos sobre correr perigo por estarmos assim”, disse.

A turismóloga Miriam Pavez fez diferente e resolveu vestir verde e amarelo, cores que remetem à campanha de Jair Bolsonaro (PL), mesmo não sendo uma apoiadora do atual presidente.

“Eu escolhi vir com uma camiseta da seleção brasileira e colar um adesivo do Lula (PT) em cima porque esse símbolo é nosso. Eles não têm direito de utilizar esse símbolo para representar um candidato só. Toda a minha família pediu para eu não fazer isso e eu estou com medo, mas vi muitas pessoas vestidas com cores neutras me parabenizando. Tudo isso porque eles também têm medo de manifestar apoio aos seus próprios candidatos”, relata.

Vale lembrar que a Avenida Paulista faz parte do Programa Ruas Abertas e, por isso, fica fechada aos pedestres das 8h às 16h em todos os domingos. No entanto, durante o primeiro turno das eleições de 2022, realizado neste domingo (2), a gestão municipal decidiu manter o local aberto para garantir fluidez no trânsito da capital paulista. Por isso, até a tarde de domingo, nenhuma manifestação havia sido feita no local.

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