“Terei capacidade de retirar o RS da crise sem vender o Estado”, diz Rossetto
Pré-candidato do PT se mostra contrário às privatizações de estatais e confia no diálogo para recuperar crescimento do Rio Grande do Sul
É carregado de esperança que o pré-candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo do Estado, Miguel Rossetto, enxerga as próximas eleições. Ele é o sétimo entrevistado pela Beta Redação para a série Futuro do Rio Grande. Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário dos governos Lula e Dilma, o político de 58 anos agora entra na disputa para administrar o Estado.
Formado em Ciências Sociais pela Unisinos e mestrando em Gestão Pública pela UFRGS, Rossetto é natural de São Leopoldo, onde iniciou sua vida política na luta sindical. Filiado ao PT desde 1981, foi diretor de formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Estado e também integrou a CUT nacional.
Deputado federal eleito em 1994, Rossetto também foi vice-governador de Olívio Dutra, de 1999 a 2002. Nomeado ministro do Desenvolvimento Agrário por Lula, em 2003, foi candidato ao Senado em meio à liderança do ministério. Em 2014, voltou ao posto de ministro no governo Dilma. Após a reforma, em 2015, Miguel Rossetto foi nomeado ministro do Trabalho, Emprego e Previdência.
Acreditando na capacidade do Estado em voltar a crescer, o candidato do PT já indica que o partido tem planejamento em diversas áreas, como segurança pública, desenvolvimento econômico, saúde e educação. Rossetto ainda confia que as situações vividas no governo de Olívio Dutra e a conduta adotada na época possam ajudar a recuperar a credibilidade para quitar as dívidas — na contramão da privatização — e recuperar o desenvolvimento do Estado, apostando, principalmente, no diálogo e na participação popular.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, que também pode ser assistida no vídeo abaixo.
Quais são as tuas principais propostas para os eleitores nessa corrida ao governo do Estado?
Miguel Rossetto — Temos que recuperar crescimento econômico para o Rio Grande do Sul e a capacidade de gerar trabalho e emprego na economia gaúcha. Temos que reorganizar os serviços públicos do Estado destruídos por essa gestão irresponsável. Temos que recuperar sistemas de segurança e saúde públicas. Não é aceitável que só tenha acesso a tratamentos quem tenha condições de pagar um plano privado de saúde. Sempre governamos com diálogo, participação popular, e eu tenho confiança que nessa forma de governar nós acertamos.
Segurança, saúde e educação. Como você avalia essas temáticas uma vez que questão financeira é a forma vital de um Estado para se manter?
Rossetto — A sociedade brasileira tem direito ao trabalho, emprego, qualidade de vida, segurança. É nossa responsabilidade coordenar com municípios e governo federal e liderar como governador de um Estado para que esses direitos sejam assegurados ao povo gaúcho. Já vivemos períodos recentes de quase pleno emprego no Estado e temos que recuperar essa condição com investimentos novos, inovação tecnológica, estimulando uma economia da colaboração que é muito forte no nosso Estado, colocando a nossa agricultura familiar, o cooperativismo, dinamizar a indústria gaúcha que é forte e potente.
Como pretende governar um Estado que demonstra tanta dificuldade financeira?
Rossetto — Governar significa fazer escolhas, capacidade de ter planejamento estratégico, de estabelecer prioridades. Temos uma economia forte e capacidade de investimento econômico. Vamos sair dessa crise, do ponto de vista financeiro, a partir de 3 ou 4 iniciativas. Vamos recuperar, reorganizar a arrecadação através da Secretaria da Fazenda. Controle dos gastos públicos, gestão dedicada e eficiente. E resolver o problema estrutural que é a dívida pública do governo federal para com o nosso Estado, na ordem de R$ 4 bilhões, valor semelhante àquilo que nós pagamos ano a ano para o governo federal.
O que você traz da experiência como vice-governador durante o mandato de Olívio Dutra para a campanha de agora?
Rossetto — Primeiro, uma gestão transparente de diálogo com a sociedade gaúcha. Participação popular, diálogo, capacidade de liderar projetos com clareza e objetivos muito bem estabelecidos, essa é grande marca que eu quero construir. Nós temos que estancar essa política ultrapassada de vender patrimônio, vender instituições importantes para o desenvolvimento do RS empobrecendo o Estado. Preservar as nossas instituições de crédito como Banrisul, BRDE e Badesul são uma estratégia de volta do crescimento econômico do Estado.
Além desse diálogo e dessa recuperação da máquina pública do Estado que você está propondo, caso seja eleito, existe outra medida que vocês adotaram lá no governo Olívio que possa ser implementada?
Rossetto — Uma das primeiras medidas será a retomada do orçamento participativo. Temos lideranças municipais e regionais extraordinárias. Uma tradição de participação, que quando nós conseguimos mobilizar essa inteligência, essas vontades, e fazer com que elas sejam canalizadas com projetos de desenvolvimento, o resultado é extraordinário. É uma estupidez o que está sendo feito no sentido de recusar o diálogo com essa inteligência. A segunda é definitivamente recuperar o pagamento dos salários dos servidores em dia.
O PT levou Raul Pont para concorrer à prefeitura de Porto Alegre. Antes de chegar ao seu nome, alguns veículos chegaram a ventilar a possibilidade de Olívio Dutra concorrer novamente ao governo do Estado. O senhor acha que essa busca por nomes mais experientes demonstra alguma dificuldade do PT em buscar uma renovação internamente? E como o senhor recebeu essa convocação para concorrer ao governo?
Rossetto — Nosso partido tem grandes estrelas e quadros que nos orgulham. A minha convocação me enche de orgulho. Sou um candidato que foi construído por unanimidade pelo meu partido. Minha candidatura e a do senador Paim foram de grande unidade partidária e eu recebo com muita responsabilidade. Nós governamos por duas vezes o RS e acho que governamos bem. O PT sempre foi chamado pelo povo gaúcho para governar, organizar e cuidar do Estado depois de governos que foram desastrosos. O governo Sartori é um desastre sob todos os aspectos e nós estamos preparados para recuperar o estado do RS.
Recentemente nós entrevistamos o candidato do PSOL, Roberto Robaina, e ele afirmou que o PT, quando chegou ao poder, fez um acordo com o que ele chama de “classe dominante”. Robaina também afirmou que é preciso criar uma nova esquerda. Qual a posição sobre essa afirmação do pré-candidato do PSOL?
Rossetto — Não tem nenhum acordo com isso. As conquistas que o PT liderou do ponto de vista popular e democrático são medidas pela destruição que está ocorrendo hoje a partir do golpe. Nós avançamos muito. É exatamente por conta dos avanços sociais, da construção da igualdade desse País que este projeto liderado por Lula, por Dilma e pelo PT, com outras forças políticas, sofreu o golpe político. Foram as conquistas populares que produziram e provocaram essa reação absurda, anti-democrática e inaceitável das elites brasileiras. Essa elite autoritária escravocrata, incapaz de conviver com uma nação de iguais, interrompeu mais uma vez esse rico processo de transformação desse País em uma grande nação.
Vimos Manuela D’Ávila, do PCdoB, Guilherme Boulos, do PSOL, no mesmo palanque em prol do ex-presidente Lula (contra sua prisão). O senhor avalia que a esquerda possa se unir nessas eleições? E, puxando aqui para o nosso Estado, no Piratini, pode haver uma grande coligação da esquerda nessas eleições?
Rossetto — Acho importante que a esquerda, com a sua responsabilidade hoje, trabalhe de uma forma mais unificada possível no sentido de resistir a essa escalada autoritária de violência na sociedade brasileira e na política brasileira. A esquerda sabe que nós não podemos ter divergência em relação a esse combate ao fascismo, ao autoritarismo e defender a democracia. Eu penso que tem que estimular e ampliar essa frente com setores democráticos. Não sei se teremos candidaturas juntos, mas queremos campanhas unificadas. O objetivo fundamental é derrotarmos esse modelo de governo fracassado, conservador que vende o patrimônio, destrói serviços públicos, abandona a economia gaúcha, empobrece o nosso Estado.
O nome que o PT busca é o Lula? Não há nenhum outro plano?
Rossetto — Nós não reconhecemos legalidade na prisão do Lula. Lula é inocente. Nunca as provas condenatórias apareceram. Há um processo de perseguição política ao presidente Lula. E por isso nós estamos sólidos, firmes na libertação do Lula, como uma libertação de um cidadão brasileiro. O presidente Lula é inocente, tem direito como cidadão a concorrer e o povo brasileiro tem direito a escolher o presidente Lula como presidente da república. Só o povo brasileiro na sua soberania pode escolher um futuro estável pro nosso país.
Até maio de 2016 o senhor foi ministro do Trabalho e Previdência Social. O que o senhor acha das reformas propostas pelo atual governo Temer? Como esse assunto foi tratado durante o período que o senhor esteve à frente dessa pasta?
Rossetto — Nós fizemos várias reformas positivas, não destrutivas. Regularizamos as situações de trabalho, por exemplo, no emprego doméstico que foi uma conquista extraordinária dessa parcela. Também na previdência nós fizemos várias reformas no sentido de melhorar o sistema de arrecadação, ampliar o direito previdenciário. Impedir o direito à aposentadoria, exigir que os mais idosos continuem trabalhando num ambiente que não há trabalho para aqueles que tem mais de 65 anos é absolutamente criminoso. Portanto, nós temos que melhorar permanentemente o sistema de previdência pública, mas não recuarmos no tempo.
Caso o senhor seja eleito, como vai dialogar com a oposição? O senhor tem ciência das condições do Estado que vai assumir?
Rossetto — Eu tenho um grande conhecimento do Estado. Nós vamos trabalhar com o diálogo em cima de propostas concretas de um plano claro de recuperação. Temos que reorganizar o serviço público e a segurança pública. Vamos recuperar o diálogo com a sociedade gaúcha através do orçamento participativo. Eu tenho absoluta confiança na capacidade de superarmos essa crise e recolocarmos o Estado numa rota de desenvolvimento.