Time de vôlei canoense participa da Taça Pride em Curitiba

Equipe Battel Force representou a cidade no torneio que estimula a inclusão da comunidade LGBTQIA+ no esporte

Andressa Morais
Redação Beta
6 min readDec 2, 2022

--

A equipe teve um ano intenso de campeonatos para melhorar o desempenho. (Foto: Arquivo Pessoal/Isabel Maia)

A segunda edição da Taça Pride aconteceu de 13 a 15 de novembro em Curitiba. Apesar de não vencer a disputa, a competição foi importante para que os participantes da Battel Force se sentissem plenamente à vontade, sem medo de olhares e comentários preconceituosos. Além do vôlei, o grupo desenvolve projetos sociais que contribuem para a inclusão e acolhimento da comunidade LGBTQIA+.

A competição contou com 22 equipes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso, além de um time convidado do Chile. O Battel Force participou com uma formação de 14 jogadores e a técnica, Isabel Maia.

O time realiza treinos semanais nas segundas-feiras, das 20h às 22h, e nas quintas-feiras, das 20h30 às 22h30, no Ginásio Social São José, em Canoas. Eles estavam se preparando desde 2021 para a disputa em Curitiba. Segundo Isabel, que treina a equipe há dois anos, o time praticou os quesitos táticos e técnicos. Ela explica que a parte física é desenvolvida individualmente por cada atleta em academias ou através de outras atividades.

Em 2022, além dos treinos, o time participou de competições como o Campeonato Municipal de Porto Alegre, o Campeonato Municipal de Gravataí, o Torneio Internacional de Vôlei LGBT de Santa Maria e a Superliga de Vôlei LGBTQIA+, na qual conquistaram o terceiro lugar. “Essas competições foram uma preparação para a Taça Pride”, explica a técnica. Nos últimos meses, o grupo também disputou dois amistosos por mês, visando melhorar o desempenho, e participou, depois da Taça Pride, dos Jogos Abertos de Canoas. Em dezembro eles ainda irão competir no Torneio da Diversidade de Caxias do Sul.

O Battel Force já participou de outras competições, como o Diversigames, a GayPrix e as três edições da Superliga LGBTQIA+. Atualmente, a equipe tem parceria com a Prefeitura Municipal de Canoas. Presidente do time, Jorge Martins destaca que eles sempre deixaram claro o principal preceito do grupo. “A gente acredita que o esporte é uma ferramenta de inclusão”, ressalta.

A equipe reforça a importância de competições LGBTQIA+ como a Taça Pride. Fabian Zanetti, que passou a integrar a equipe em 2021, afirma que começou a jogar vôlei na modalidade mista, mas que algumas pessoas heterossexuais o deixavam desconfortável.

Fabian diz que participar de competições LGBTQIA+ como a Taça Pride foi de suma importância e mudou a vida dele. (Foto: Arquivo Pessoal/Bruno Figueiró)

“Muitas pessoas acabam debochando ou diminuindo a existência de times LGBTQIA+ como se nós quiséssemos nos excluir para nos sentirmos bem praticando esportes. No fim das contas, existe algo lindo em não ter heterossexuais envolvidos ou ter a 'cota' hétero e ver que, mesmo assim, é sobre nós, não eles. Esse foi o sentimento: se sentir bem”, explica Fabian.

Talisson, que entrou no time em 2019, compartilha a mesma ideia. O atleta conta que também não se sentia bem ao integrar outras equipes. “Cada time, dentro do seu estado, da sua cidade, faz todo esse trabalho de inclusão. Muitos, inclusive, não têm apoio. Então, eu vejo esses campeonatos como a consolidação de todo um esforço”, expressa. Ele destaca que as competições mostram que a comunidade LGBTQIA+ tem o direito de ocupar todos os espaços e que pode gerar a integração entre todas as pessoas.

Bruno Figueiró faz parte do Battel Force desde 2019 e cuida da comunicação da equipe. Para ele, a interação que acontece nas competições é bem relevante. “É muito importante participar de um evento nacional, conhecer outras cidades, outros times, fazer novas amizades e poder jogar e praticar tudo o que treinamos. Com certeza é ótimo poder interagir e estar junto da nossa comunidade”, conta.

Para Bruno, as competições são de extrema importância para que eles possam ser quem são e para conhecer pessoas. (Foto: Arquivo Pessoal/Bruno Figueiró)

Para além das práticas esportivas

Fundado em 2013, o time surgiu como um meio de acolhimento e de respiro dentro do esporte. O presidente Jorge Martins conta que ele e um grupo de amigos se reuniam para jogar. Em uma dessas ocasiões, após uma partida, foram para o vestiário e o time adversário se retirou do local.

“Alguns meninos que não tinham se vestido ainda carregaram tênis e toalha na mão para sair do vestiário. A partir daquele momento, a gente disse: ‘Não, isso não pode continuar. Vamos formar um time nosso, que a gente possa jogar e não precise passar por esse tipo de situação’. E aí nasceu a equipe”, relembra.

No começo, o time se chamava São Luís em homenagem ao padroeiro de Canoas. O ginásio em que treinavam ficava no bairro com o mesmo nome. Desde a fundação até o momento atual, já mais de 170 atletas já integraram o time.

Ao longo da trajetória, a equipe teve quatro treinadores. A primeira foi a Janaina Antoniassi. Depois que ela se afastou, eles passaram a treinar com Adriano Elias, que, segundo Jorge, transformou o grupo, pois ele acumula mais de 25 anos de carreira. Foi a partir desse momento que o time começou a participar de competições. Após a saída de Adriano, entrou o Eberton Fagundes e, por fim, Isabel Maia, atual treinadora do Battel Force. “Além de corrigir questões técnicas, ela é incentivadora”, diz Jorge sobre Isabel.

Para além da parte esportiva, o Battel Force pratica ações sociais, que começaram em 2017 quando time arrecadou brinquedos e doou para uma comunidade carente de Canoas. Neste ano, enquanto treinavam na Escola Municipal João Paulo I, o diretor chamou o grupo e explicou que uma aluna transexual não conseguiu usar o banheiro. O fato aconteceu na parte da noite, horário em que acontece a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e tem alunos mais velhos. Sensibilizados com a situação, o grupo desenvolveu um projeto e promoveu uma roda de conversa para tratar sobre o tema da diversidade com os alunos.

A ação se estendeu para uma formação voltada também aos professores. O objetivo era o mesmo: falar sobre diversidade e explicar como eles podem tornar o ambiente escolar mais inclusivo para os alunos LGBTQIA+. Agora, o projeto está na fase final de avaliação e será entregue à Secretária de Educação de Canoas para que eles possam aplicar em outras escolas.

Para Jorge, o time é um projeto esportivo, assistencial e de saúde. “A gente também faz a distribuição de quites de higiene bucal e preservativos na Superliga. Acima de tudo, é um projeto de cidadania”, evidencia.

O acolhimento do time se desenvolve na prática. Jorge conta que já aconteceu de um dos integrantes ser expulso de casa por revelar sua orientação sexual. Ele passou a morar com a tia, e a equipe doou uma cesta básica para ajudar. Talisson destaca que o grupo é como uma família. Para ele, os times como a Battel Force formam uma rede de apoio para a comunidade LGBTQIA+.

Fabian destaca que o caminho a ser percorrido ainda é longo. A maioria dos times LGBTQIA+ são compostos por homossexuais homens cisgêneros. Ele questiona “onde estão as outras letras?” e diz que amaria viver para ver essa inclusão acontecer.

“Por enquanto, precisamos existir e ser um time LGBT para que, no futuro, héteros e gays consigam conviver de forma natural. Se bem que, quando se trata de heterossexuais praticando esporte, acho difícil eu visualizar um ambiente saudável de camaradagem. O principal apelido entre eles é “viado”. Como tu se sentiria sendo chamado o tempo todo como objeto pejorativo?”, finaliza Fabian.

A equipe tem o time recreativo e o competitivo. Battel Recreativo é uma modalidade para quem não se interessa em competir e quer apenas praticar vôlei. Para participar, basta contatar o grupo nas redes sociais. Em 2023, eles abrirão seletivas para saber quem da comunidade LGBTQIA+ quer fazer parte do time competitivo. A data será informada através do Instagram e do Facebook. No dia, a técnica Isabel vai avaliar os interessados. Quem não conseguir ficar para competir será direcionado para a modalidade recreativa, que acontece na Escola Municipal João Paulo I, em Canoas.

--

--