Torcedores se mobilizam para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade

Pandemia reforçou a necessidade do trabalho social impulsionado pelas torcidas da dupla gre-nal

Patrícia Wisnieski
Redação Beta
6 min readSep 6, 2021

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Sem poder ir aos estádios, torcedores se unem em ações sociais. (Imagem: Reprodução Facebook)

"O futebol não é só 90 minutos". O clichê por trás da expressão utilizada pelos amantes do esporte foi comprovado neste último ano, com a impossibilidade de acompanhar os jogos da arquibancada. Para evitar a disseminação da Covid-19, desde o dia 20 de março de 2020 as partidas de futebol no Rio Grande do Sul não podiam ser acompanhadas presencialmente pelo público. Nesse sentido, coletivos de torcedores que, antes da pandemia, se organizavam para irem juntos ao estádio, hoje se mobilizam em ações sociais e ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade.

Apesar da histórica rixa gre-nal, torcedores de ambos os clubes reconhecem a importância de unir o legado dos times à necessidade de ajudar o próximo. “A gente acredita e entende que o estádio é um pequeno exemplo do que é o mundo, com todas as diversidades, formas de pensar e atuar”, relata a gremista Tiele Kawarlevski, 31 anos, que participa do coletivo de torcedores Tribuna 77. Justamente pela forte convivência com os moradores do entorno da Arena antes dos jogos, o grupo sabia que não poderia abandoná-los neste momento delicado.

“Com o afastamento por conta da pandemia, os problemas ficaram ainda maiores para aquela comunidade. Pelo isolamento social, os torcedores pararam de consumir o churrasquinho e a cerveja que garantia o sustento dos moradores do local. Então foi assim que surgiu a Tribuna Solidária, projeto que organiza mobilizações para entregar doações pelo menos uma vez por mês”, explica Tiele. Ela enfatiza também que uma conta bancária foi criada para arrecadar os fundos. O grupo, composto por mais de 100 torcedores, se mobiliza todos os meses para reunir doações que garantem o sustento de famílias do bairro Farrapos e entorno.

No dia da entrega das cestas básicas, a Tribuna Solidária oferece quentinhas com uma comida ‘diferente’. (Imagem: Reprodução Facebook)

“A gente tenta dar este apoio mínimo, pois entendemos que é uma função do Grêmio e a gente se entende como representantes do time”, destaca Tiele. Além de cestas básicas, a Tribuna doa roupas, produtos de limpeza e higiene, e, quando necessário, se mobiliza para conseguir algo a mais. “A forma como aqueles moradores nos acolhem vale todo o esforço”, expressa a torcedora com alegria de representar o clube na iniciativa.

Do outro lado da cidade, o colorado Anderson da Silva Valença, 26 anos, organiza um coletivo de torcedores chamado "Os Discípulos de Rao". A homenagem ao fundador das torcidas organizadas do Inter, Vicente Rao, busca seguir o seu legado de ações sociais em Porto Alegre. “Nós somos um movimento independente e espontâneo, que faz ações sociais sem a ajuda do clube, unidos pela solidariedade e pelo amor ao Inter”, explica. O grupo, que no fim de 2021 completa cinco anos, é formado por 20 pessoas, mobilizadas diariamente para angariar doações.

As ações são divididas em dois momentos: as marcadas anualmente, como volta às aulas, Páscoa, Dia das Crianças e Natal, e as urgentes, que surgiram com o advento da pandemia. “A gente vê que muita gente perdeu o emprego, e não tem como comprar comida, então essas ações se tornaram ainda mais importantes. A gente se mobiliza como se fosse jogo e usa essa ansiedade do retorno ao estádio para solidarizar. Pegamos toda essa energia e usamos para o bem”, salienta o torcedor.

Além de famílias da Vila Farrapos que recebem cestas básicas mensalmente, o trabalho dos Discípulos de Rao é focado em crianças, idosos e indígenas. Eventualmente, eles contam com o apoio de jogadores do clube, que doam produtos do Inter para a promoção de rifas, mas, na maioria das vezes, os próprios discípulos se mobilizam para ajudar as pessoas que mais precisam.

Torcedores do Inter se mobilizam em ações solidárias. (Imagem: Reprodução Instagram)

Anderson compreende que, na hora de contribuir com os projetos sociais, não há diferenças entre as torcidas. "Quando o objetivo é ajudar o próximo, a rivalidade é deixada de lado e a gente auxilia quem precisa”, reforça. Esse pensamento é compartilhado pelo colorado Régis Viegas, 39 anos, que integra o Guarda Popular, coletivo multicultural com mais de 1.5 mil colorados cadastrados.

“Eu acredito que é muito importante saber utilizar a paixão do torcedor em prol da sociedade. Porque é muito mais fácil mobilizar as pessoas quando envolve a paixão pelo futebol”, explica Régis. “Eu não vejo 99% da torcida desde o início da pandemia, mas através destas ações percebo que continuamos muito unidos”, complementa.

Ações acontecem por toda a Região Metropolitana

Para além de Porto Alegre, a Guarda Popular conta com núcleos espalhados por todo o Rio Grande do Sul, que antes mesmo da pandemia já se organizavam para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade. “Com o afastamento dos estádios, a gente viu que tinha muita gente passando necessidade. Então, inicialmente, núcleos de dentro da torcida organizaram ações imediatas de arrecadação de sacolas econômicas”, manifesta Régis, que faz parte do Núcleo Popular do Trem, formado por torcedores da Guarda que residem nas cidades de Canoas, Sapucaia, São Leopoldo e Novo Hamburgo.

Núcleo Popular do Trem entrega cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade social. (Imagem: Reprodução Instagram)

“As torcidas são estigmatizadas como violentas e acusadas de afastar as famílias dos estádios, mas existe um outro lado. A Popular foi criada com o legado de fazer ações sociais, então sempre estivemos empenhados em fazer ações solidárias”, declara Régis.

Ainda na Região Metropolitana, mais especificamente em São Leopoldo, o Consulado Feminino do Grêmio reúne, desde 2018, apaixonadas por futebol. A luta por respeito nos estádios também abriu espaço para o amparo ao próximo. “Este é um ambiente em que nós precisamos nos unir, então porque não mobilizar estas mulheres para ajudar o próximo?”, reflete a consulesa Sandyele Aguirre, 27 anos.

“Ações sociais afloram o sentimento de pertença ao clube, de levar o símbolo do Grêmio, porque percebemos a necessidade de levar algo a mais”, comenta. O grupo, que realiza doações de cestas básicas, roupas e brinquedos, conta com um cadastro de pessoas beneficiadas pelo projeto.

Sandyele destaca que a campanha do agasalho promovida pela organização consegue arrecadar cerca de 4 mil peças a cada edição. “A gente olha muito para a questão minoritária e de representatividade, buscando mostrar que aqui existe um Consulado que as pessoas podem contar”, declara.

A direção do coletivo é formada por outras sete adjuntas e, no total, o grupo conta com mais de 100 integrantes. “Sempre conseguimos parceiros e vamos nos organizando para garantir as doações”, ressalta Sandyele. Em sua próxima campanha o grupo irá abordar a causa animal, visando ajudar os cachorros abandonados de São Leopoldo.

Saiba como ajudar

Ambas as torcidas contam com o apoio de torcedores para realizar as ações. Colorados e gremistas interessados em fazer parte da mobilização pela solidariedade podem acompanhar o calendário de ações através das redes sociais:

Tribuna 77:

Facebook https://www.facebook.com/tribuna77/

Instagram https://www.instagram.com/tribuna77/

Discípulos de Rao:

Instagram https://www.instagram.com/discipulosderao/

Guarda Popular:

Facebook https://www.facebook.com/OficialGuardaPopular/

Instagram https://www.instagram.com/popularoficial/?hl=pt-br

**** A Guarda tem Núcleos por Região e cada um deles se mobiliza em diferentes ações pelas cidades

Consulado Feminino do Grêmio — São Leopoldo:

Facebook https://www.facebook.com/cfgsaoleo

Instagram https://www.instagram.com/cfgsaoleo/

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