Qual a importância do vale-refeição?

Trabalhadores de São Leopoldo destacam a praticidade e economia resultantes do auxílio, que não é obrigatório

Victor Dias Thiesen
Redação Beta
3 min readNov 15, 2018

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O vale-refeição não é um benefício obrigatório. Foto: PxHere

Apesar de muitos trabalhadores que não recebem o vale-refeição (VR) reclamarem de sua falta, o Serviço de Proteção ao Crédito do Brasil (SPC Brasil) identificou que 30% daqueles que recebem o vendem para complementar a renda. Segundo Ministério do Trabalho, essa prática pode gerar demissão por justa causa e ainda caracteriza crime de estelionato.

Nem todo mundo está a par de que vender o auxílio é ilegal. Pedro (nome fictício), conferente do ramo de PVC, diz que “vendo alguns de meus tíquetes refeição para conseguir dinheiro com rapidez para uso cotidiano”. Para compensar, ele leva sua marmita para a empresa. Antes da reportagem esclarecer para Pedro, ele não sabia que essa era uma prática criminosa. Considerava que o VR era um direito seu, portanto “decido a forma de usar”. Mesmo assim, disse que vai vender alguns do mês de novembro.

No Bourbon Shopping São Leopoldo, por exemplo, lojas das redes Centauro e Youcom concedem o benefício aos seus empregados. Para o vendedor Jonatan Cabral, 22 anos, o vale-refeição faz com que o empregado evite trabalhar durante o horário do almoço e auxilia no combate à má alimentação do trabalhador. “Isso faz com que o vendedor fique focado durante as horas de trabalho e aproveite seu tempo de almoço”, conta.

Para seu colega, Douglas Vitalli, 33, “trabalhar sem o benefício seria inviável. Principalmente pelo meu deslocamento até minha casa e dos gastos diários que seriam feitos em restaurantes”.

Trabalhadores do Bourbon Shopping São Leopoldo destacam características positivas do vale-refeição. Foto: Victor Thiesen/Beta Redação

O valor médio da refeição dos estados do sul do país, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Benefício ao Trabalhador, é de R$ 33,48. Em Porto Alegre, a média do prato comercial baixa para R$ 27,36. Contudo, valores menores são encontrados. No centro de São Leopoldo, encontramos opções na casa dos R$ 10,00, no caso de um à la minuta de frango, e por R$ 17,00, em um buffet livre.

Para uma vendedora da loja Chilli Beans não-beneficiária do VR e que preferiu não se identificar, o problema, contudo, é ter que se deslocar até algum restaurante mais popular, “porque tem muita gente e temos que voltar correndo”, disse. Segundo ela, a política da loja de não dar o vale-refeição é justificada pela disponibilidade da cozinha do estabelecimento comercial para os funcionários.

Para a caixa da loja Gang Daniele John, 20, que não é beneficiária do VR, trazer comida de casa se torna muitas vezes um incômodo. “O maior problema é o cansaço, que acumula durante o dia e se soma a outras tarefas da minha rotina”, conta. Ela relata que acaba gastando muito com alimentação dentro do shopping.

Impacto da má nutrição na economia. Fonte: Associação Brasileira de Benefícios do Trabalhador

Segundo um estudo do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), a má nutrição do trabalhador impacta diretamente na produtividade e na força de trabalho para a empresa. Segundo a pesquisa, a longo prazo isso pode dificultar o desenvolvimento econômico dos empreendimentos.

Além de poder ser substituído pela disponibilização de refeitório, em casos de estabelecimentos que comportem mais de 300 trabalhadores (presente na Norma Regulamentadora 24 das leis trabalhistas), o vale-refeição também pode ser trocado por algum tipo semelhante de benefício. A loja Youcom, do grupo Renner, concede a seus funcionários uma refeição diária no restaurante Jeff Grill, que fica dentro do Bourbon Shopping. O acordo com o empregado em troca disso é de R$ 30,00 do salário bruto. Rodrigo Lopes, 28, gerente da loja, diz que seria impossível trabalhar no local sem essa refeição.

A última pesquisa do Ministério do Trabalho em parceria com Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (ASSERT), datada de 2015, revelou que o benefício do vale-alimentação chega a 19,5 milhões de pessoas.

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