Transmissão alia modelo consolidado do rádio ao crescimento recente dos e-sports

Em atividade da Beta Redação, duas partidas de videogame disputadas entre estudantes tiveram narração, comentários e geraram reportagem

Beta Redação
Redação Beta
7 min readDec 3, 2018

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Transmissão envolveu dois jogos e teve narração, comentários e corte de imagens conduzidos pelos alunos (Imagem: print Facebook/Beta Redação)

Texto Anderson Guerreiro

Vídeo Alessandro Garcia, Victória Lima e Karina Verona

A s confortáveis cadeiras do Labtics, da Unisinos, puderam experimentar a sensação de serem, por cerca de uma hora e meia, as arquibancadas azuis do Estádio Cidade de Manchester ou as vermelhas do Anfield. Manchester City e Liverpool deixaram o Reino Unido e o confronto da vida real, que muitas vezes deu emoção à Champions League e ao Campeonato Inglês, para ocuparem as telas do laboratório que, na noite de 12 de novembro, simularam uma transmissão real de futebol através do videogame. Um confronto de meninas e um de meninos, narração, reportagem, comentários, corte de tela, cobertura de redes sociais, treinos e emoção compuseram os duelos da Beta Redação Esporte.

Em meados de setembro, Sérgio Endler, um dos professores da Beta Esporte, propôs à turma de 21 alunos que, em alguma segunda-feira, um jogo de videogame tomasse parte da aula. Mas não apenas isso. Que uma transmissão, nos moldes das jornadas tradicionais do rádio, se colocasse como a principal estrela da noite. Colegas começaram a ser recrutados. A estrutura começou a ser pensada com os professores Silvio Alves e Micael Behs. O videogame do colega Saimon Bianchini estava garantido. O Labtics fornecia a estrutura necessária para uma transmissão em live pelas redes sociais e com diversas câmeras. Em duas segundas-feiras foram realizados os ensaios, os ajustes e a definição do papel de cada estudante no contexto da transmissão.

Assista a um vídeo com os comentários de quem participou da ação e de quem assistiu, de perto e de longe:

Professores e alunos que participaram da produção e execução do Desafio FIFA 2018 relatam suas experiências com a atividade (Imagens: Alessandro Garcia e Victória Lima, edição: Victória Lima)

Jogo truncado e emoção no final

Tainah Gil e Victória Lima disputaram o primeiro duelo à frente de Liverpool e City, respectivamente. “Eu sou o azul ou sou o vermelho?”, se ouviu no início da transmissão. A noite era uma grande brincadeira acadêmica. Não iria se aprender sobre uma transmissão esportiva em um ambiente sisudo de sala de aula através de livros. Mas ali, fazendo. Guilherme Chaves era narrador. Cassiano Cardoso e Leonardo Ozório, repórteres e comentaristas.

O jogo começou truncado. Aos 35 da primeira etapa, o primeiro chute a gol de Mané, para o Liverpool. Em seguida, o City quase marca com Davi Silva. “Um bom chute, pegou na veia, passando assustando o bonitão do Alisson”, gritou o narrador. A emoção que faltou nos primeiros três quartos do primeiro tempo sobrou no final. Ainda assim, faltava o gol. “O City teve mais posse, mas ainda pouco para quem quer vencer a partida em casa”, destacou Cassiano. “O City teve uma oscilação melhor em relação ao adversário. Jogo meio truncado”, finalizou Ozório. Tainah Gil disse não ter palavras para descrever o primeiro tempo. Victória Lima salientou que tinha mais posse de bola e que o time estava entrosado. Era só fazer o gol.

Dois cartões amarelos e dois chutes a gol no final do jogo, todos do Liverpool, marcaram a etapa complementar. Com a prorrogação sem gols, os pênaltis decidiram a partida. O Manchester City, comandando por Victória Lima, acertou a trave na primeira cobrança. Em seguida, nove gols, quatro do City e cinco do Liverpool, garantiram a vitória dos vermelhos comandados por Tainah Gil. “Foi difícil, mas estou muito feliz de ter conseguido”, disse a jogada. “Eu quero revanche”, gritou Victória.

Suíte de onde o técnico Juarez Júnior, com o diretor de imagens, Jaime Zanatta, comandaram os cortes de imagem das disputas (Foto: Silvio Alves/Beta Redação)

Predomínio com reação tardia

Saimon Bianchini, com o City, e Thiago Grecco, com o Liverpool, entraram em campo na sequência. Enquanto preparavam as equipes e os repórteres listavam as escalações, a catimba tradicional do futebol. “Estou sem ritmo de jogo, focado no TCC, mas vamos tentar”, disse Saimon. “Eu jogo no Xbox, tem diferença na pegada do controle. A culpa é do controle”, se justificou antecipadamente Thiago. Pelos dois ensaios em semanas anteriores, o comentarista Cassiano Cardoso apostou na vitória do City. Os lances inicias da partida mostraram que ele poderia acertar na aposta.

O primeiro chute a gol do City foi aos 2 minutos, seguido do primeiro gol, de Aguero, aos 4. O Liverpool só finalizou pela primeira vez aos 11, mas, aos 23, Davi Silva ampliou para o Manchester após um bate e rebate na área. “Que coisa ridícula essa minha zaga”, exclamou Thiago. Antes ainda do final da primeira etapa, Aguero marcou o seu segundo gol na partida, levando o City a abrir 3 a 0 nos primeiros 45 minutos. “3 a 0 ao natural, né. Liverpool não conseguiu segurar”, destacou Cassiano. Embora o Liverpool tenha tido mais posse de bola (55%), faltou chegar com chances de marcar.

Aos 11 minutos do segundo tempo, duas mudanças no Liverpool não chegaram a impedir o quarto gol do City, marcado por De Bruyne, aos 13. A goleada estava quase consolidada. “O Alisson é inacreditável. Seis chutes, quatro gols”, gritou Thiago. Os dez minutos subsequentes foram de pressão do Liverpool. Uma reação parecia estar se ensaiando. Aos 20, uma bola na trave. Quatro minutos depois, o goleiro Ederson foi forçado a fazer grande defesa. O Liverpool chegava até que, aos 29 minutos, o goleiro do City misteriosamente apareceu no meio do campo, desnorteado. Firmino aproveitou e marcou. Salah ainda fez mais um aos 35, finalizando a partida em 4 a 2.

O aprendizado acadêmico de diversas formas

A proposta de uma noite com o FIFA 2019 como protagonista da aula era trazer para a Beta Redação a vivência de uma jornada esportiva. A preparação dos alunos, professores e técnicos envolvidos na transmissão dos dois confrontos levou em conta os principais pontos que uma verdadeira transmissão de futebol exige. “É muito importante que a gente possa, no espaço acadêmico, sugerir atividades inovadoras como essa. Quando a gente consegue ter um espaço como a Beta Redação, com alunos e professores interessados, é muito legal quando surge uma oportunidade como a que a gente teve. Eu associei aquilo que é a transmissão do rádio ao interesse gerado pelos esportes eletrônicos, os e-sports”, comenta o professor Sérgio Endler, proponente do projeto.

O professor Silvio Lacerda Alves, que gerenciou todo o planejamento técnico da transmissão, destacou a infraestrutura propiciada pela universidade, o que possibilitou a atividade permeada por novas experiências. “ Identificamos várias possibilidades de melhorias para continuarmos avançando nos próximos semestres”, ressalta Alves. Ele também ressalta que atividades acadêmicas como essa “são muito importantes para proporcionar experiências práticas do jornalismo esportivo” e, obviamente, somar aos portfólios dos alunos.

O professor Micael Behs, por sua vez, salientou a importância de instigar os alunos a desenvolverem diferentes funções durante a transmissão, animando a troca de posição entre jogadores, narradores, comentaristas e repórteres. “Conseguimos reproduzir de forma bastante fidedigna aquilo que os nossos alunos vão encontrar numa grande transmissão esportiva”, destacou.

Palco de apresentações acadêmicas, o Labtics sediou a transmissão do Desafio Fifa 2018 (Foto: Sílvio Alves/Beta Redação)

A narração de Guilherme Chaves mesclou as informações técnicas das partidas à interação com quem assistia aos jogos pelo Facebook. “Foi uma experiência bacana, nunca tinha feito. Foi a primeira vez que fiz uma narração esportiva via live, transmitindo um jogo eletrônico. A gente tem um pouco mais de liberdade, o videogame é um pouco mais descontraído, apesar de hoje ser jogado seriamente. Hoje tem profissionais que participam de campeonatos de jogos eletrônicos”, enfatizou. Ele ainda acredita que toda a oportunidade que surge para praticar algo diferente, fora da sala de aula, é sempre importante para os alunos.

Para os jogadores também não foi apenas uma partida de videogame. “Organizações desse tipo dentro do ambiente acadêmico são importantes, pois possibilitam um contato dos alunos com o processo de organizar, divulgar e realizar uma cobertura esportiva”, destacou Victória Lima. Já Saimon Bianchini entende que atividades como esta preparam os estudantes de jornalismo para executarem as mesmas funções no mercado de trabalho. “Juntamos a prática do jornalismo esportivo com algo divertido. Foi bacana ver o envolvimento da turma. Acho que todos conseguimos absorver alguma coisa com essa demonstração”, finalizou. Na mesma linha, Thiago Grecco, outro competidor, afirmou que nunca esperou participar de uma atividade como essa na faculdade.

Os comentaristas e repórteres, junto ao narrador, seguraram uma hora de transmissão ininterrupta. Com seus trocadilhos, a transmissão gerou lembranças da infância para Cassiano Cardoso. “Desde pequeno, ainda no videogame, filho único, narrava os jogos em casa. Era divertido. Então, foi como se eu tivesse fazendo algo que faço desde pequeno, mas agora aliando ao meu trabalho, o que torna muito mais dinâmico”, frisou. Já Leonardo Ozório acredita que a ideia de aliar a transmissão de uma competição eletrônica a um modelo já consolidado no jornalismo esportivo segue uma tendência em função do crescimento dos e-sports.

A transmissão feita pela Beta Redação Esporte mesclou vidas reais e videogame. Jogadores, narrador e comentaristas tinham como objeto os times do Manchester City e do Liverpool nas telas. Todo o resto era real. “Foi bem diferente porque era um jogo de videogame. É diferente tu lidar com uma vida de computador. A gente misturou a vida humana com a vida virtual”, destacou Jaime Zanatta, responsável pela direção de imagens da transmissão. O técnico do Labtics, Juarez Júnior, afirmou que fazer os cortes das imagens ao vivo foi o maior desafio.

Essa foi a primeira experiência de transmissão ao vivo realizada pela Beta Redação. Na avaliação de alunos e professores, o modelo deverá ser replicado e aprimorado nos próximos semestres, sempre visando propiciar através do curso da Unisinos as experiências mais próximas do que será encontrado e exigido no mercado de trabalho.

Equipe participante da transmissão

Jogadores: Tainah Gil, Victória Lima, Saimon Bianchini e Thiago Grecco

Narrador: Guilherme Chaves

Comentaristas e repórteres: Cassiano Cardoso e Leonardo Ozório

Direção de imagens: Jaime Zanatta

Técnica: Juarez Júnior

Cobertura no Instagram: Alessandro Garcia e Karina Verona

Professores supervisores: Sérgio Endler, Micael Vier Behs e Silvio Lacerda Alves

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.