Transplante de medula ajuda no tratamento de doenças hematológicas
Registro de doadores de medula cai 41,55% em 2021, comparado a 2019
Por Gabriel M. Ferri e Arthur Schneider
O transplante de medula óssea é uma opção de tratamento para doenças como leucemia, anemia aplástica, anemia de fanconi, síndromes provocadas pela deficiência medular, linfomas, entre outras. Normalmente, é indicado para crianças ou adultos com idade igual ou inferior a 70 anos. Ele consiste na substituição do tecido doente, ou deficitário, por células saudáveis com o objetivo de reconstituição de uma nova medula. A escolha de transplante é baseada em diversos fatores, como o tipo de doença, idade, estado geral do paciente e na disponibilidade de um doador compatível.
Como funciona a doação
Segundo o doutor em hepatologia Dário Eduardo de Lima Brum, funcionário do Hemocord e da Santa Casa de Porto Alegre, o transplante de medula óssea é recomendado para o enfrentamento de doenças hematológicas. Ou seja, aquelas que comprometem os componentes do sangue, como neoplasias, linfomas, leucemias e mielomas. O transplante ainda pode auxiliar em casos de hemoglobinopatias hereditárias como a talassemia e a anemia falciforme e em algumas não hematológicas, conhecidas por doenças autoimunes.
Quando se fala em transplante de medula, existem duas situações. A que o paciente é o doador da própria medula, chamado de autogênico, e a que o paciente necessita de doadores de medula, chamado de alogênico.
Contudo, o baixo número de doadores é um problema. Mesmo que o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) apresente mais de 5 milhões de pessoas cadastradas, ainda assim o número é insuficiente. A quantidade de candidatos para doação de medula é inferior ao das pessoas que necessitam dela.
“Achar um doador compatível em banco de medulas é quase uma sorte. A quantidade é muito pequena daqueles que conseguem ter a compatibilidade completa para o sucesso de um transplante”, esclarece Dário.
No caso da doação autogênica — aquela que a medula é extraída do próprio paciente — quando retirada e não usada imediatamente é criopreservada. Após retirada, ela é mantida em temperaturas abaixo de 80 graus negativos, podendo ser estocada em um freezer mecânico ou em um tanque de nitrogênio até que haja a situação adequada para a infusão.
Para que o paciente possa utilizar a medula vinda de um doador, ela precisa ser compatível. Contudo, a chance de compatibilidade é muito baixa, exigindo uma análise a partir do sistema de antígeno leucocitário humano (HLA), que está em nosso código genético e leva à produção de proteínas que ficam em todas as células do corpo.
“Hoje, no REDOME, nos bancos de sangue e de medula você faz a identificação, e a partir dali é analisado o sangue para esse sistema (HLA). A informação vai para um banco de dados e quando entra um paciente que precisa de transplante essas informações são checadas. Assim, aquele que tiver o mesmo fenótipo para HLA é candidato à doação”, explica Dário.
Atualmente, a forma mais utilizada para a coleta da medula óssea é com a máquina de aférese, que recolhe o sangue periférico do doador. O procedimento consiste em conectar o doador a essa máquina, que realiza a seleção das células de interesse — aquelas que vão povoar a medula óssea e reconstruir o tecido. O doador recebe um estímulo por meio de medicações para que a quantidade de células seja aumentada. Essa estimulação ocorre durante cinco dias antes da coleta. A outra forma para a coleta consiste no método tradicional de extração da medula óssea, com necessidade de cirurgia e anestesia. Sendo assim, o método é mais arriscado se comparado à facilidade da máquina de aférese.
Cuidados após a doação
O procedimento de doação via máquina de aférese não exige internação nem anestesia. Contudo, o paciente precisa tomar cuidados em relação aos esforços físicos pós procedimento, além de manter uma boa ingestão de água. No caso da doação que requer o uso do bloco cirúrgico, o doador fica internado 24 horas para a retirada da medula via punções nos ossos da bacia, sendo uma cirurgia que requer anestesia peridural ou geral e dura cerca de 90 minutos. Nos primeiros três dias pode haver desconfortos localizados, exigindo o uso de analgésicos. Os pacientes geralmente retornam à rotina uma semana após a doação.
O Hemocord disponibiliza aos centros transplantadores e aos centros coletores a estrutura e a tecnologia necessárias para o congelamento e armazenamento de células-tronco hematopoiéticas da medula óssea e de sangue periférico. Essas duas etapas são extremamente necessárias quando o material não é utilizado imediatamente após a coleta, como nos casos de doações autogênicas.
Dados sobre a doação
Segundo dados do Ministério da Saúde e do REDOME, o Brasil possui o terceiro maior banco de doadores de medula óssea, e o maior com financiamento exclusivamente público. Atualmente, há 5.499.919 doadores cadastrados. Caso um doador compatível não seja localizado, ainda há a possibilidade da busca internacional de doadores, sendo financiada 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De 2016 a 2021 foram realizadas 868 importações de células para transplante de medula óssea no Brasil.
Porém, o número de doadores cadastrados cai a cada ano, ainda que em 2019 tenham sido notificados 291.361 novos cadastros, um aumento de 0,80% quando comparado a 2018. Em 2020 houve uma queda de 21,38%, totalizando 229.072 cadastros no registro nacional. Em 2021 o número de cadastros caiu novamente, totalizando 170.287, uma queda de 25,66% em comparação a 2020 e 41,55% em comparação a 2019. Até fevereiro de 2022 foram registrados somente 24.258 novos doadores no REDOME.
Como faço para doar medula?
Para a doação de medula, o interessado deve procurar um hemocentro cadastrado. Após o preenchimento de um formulário é coletada uma quantidade pequena de sangue, aproximadamente 5 ml, para a tipificação HLA. A partir dela, o candidato acessa o banco de doadores do REDOME, esperando que alguém compatível seja localizado.
É importante que o doador tenha entre 18 e 35 anos, esteja em bom estado de saúde, não tenha doença infecciosa transmissível pelo sangue, como infecção pelo HIV ou hepatite, e não apresente histórico de doença neoplásica (câncer), hematológica ou autoimune, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide.
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