“Tu não imaginas a saudade que eu estou de subir num palco”, diz Luiz Marenco

O músico nativista e deputado estadual está há um ano e três meses fazendo lives e trabalhando pelo seu mandato de casa.

Adriana Corrêa
Redação Beta
16 min readJun 5, 2021

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Cantor sente falta da troca de energia com o público. Reprodução/site.

Luiz Marenco completa, neste ano, 33 anos de carreira como cantor, com uma discografia de 23 CDs e dois DVDs. Natural de Porto Alegre, ele é um dos artistas nativistas mais requisitados para shows no sul do Brasil. Em 2018, foi eleito deputado estadual com 24.607 votos, pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Marenco, 56 anos, defende o incentivo e investimento na cultura e na educação como forma de movimentar a economia. O deputado preside a Frente Parlamentar de Fortalecimento da Cultura Regional Gaúcha e integra a Comissão de Educação e Cultura. Nesse período de pandemia, tem apoiado ações em favor dos trabalhadores do setor cultural e adaptou sua intensa rotina de shows para uma presença mais intensa na internet. Tudo da sua casa, uma chácara em Santana da Boa Vista, a 300 km de Porto Alegre.

A entrevista a seguir foi feita por vídeochamada, tipo Do Meu Rancho pro Teu, assim como no título que ele deu para a série de lives que tem feito desde o início da pandemia de Covid-19. Na conversa, que durou uma hora, o músico deputado falou sobre o seu trabalho no primeiro mandato do legislativo estadual, sua carreira artística, futuros projetos e a vida com a família.

A cultura é um dos setores mais abalados pela pandemia. Como o senhor vê a situação gerada pelo fechamento de casas de eventos e shows?

Por causa da pandemia, cantor está longe dos palcos. Reprodução/site.

O último espetáculo que eu fiz foi no dia 7 de março de 2020. Portanto, segunda-feira, vai fazer um ano e três meses que eu não subo ao palco. Obviamente, todos que vivem da arte, no Rio Grande do Sul, falando da nossa gente, dos meus colegas, esses que eu falo sempre, os obreiros da arte, como chamo, foram impedidos de trabalhar. O teu sustento, o teu dinheiro não chega à família, é uma situação muito triste, porque as contas vêm, e tu vai pagar como? Foi a primeira classe a ser afetada e acredito que também serão os últimos a voltar. Sabemos que não pode haver aglomerações, não podem ter atividades presenciais e a classe artística respeitou muito rigorosamente todas as recomendações de distanciamento social e está em situação de vulnerabilidade. Então, o que a nossa classe começou a fazer — tu sabes que o músico sempre acha uma maneira de tentar dar a volta — , esses espetáculos virtuais, para tentar fazer com que o pão chegue na mesa. Muitos divulgam o pix (chave para transação bancária), para terem alguma renda. Às vezes, em regiões que tem menos problemas, reúnem a família, o músico vai lá com sua guitarra e canta, ou contratam uma live. Da tua casa, tu canta para aqueles que estão em casa, da maneira que nós estamos aqui, virtualmente. Esta é a maneira que os músicos estão achando pra conseguir trazer o pão à mesa.

“O músico não parou de trabalhar, mesmo não sendo remunerado, porque todo mundo precisa de música.“

Eu mesmo, em todo esse tempo, fiz várias participações beneficentes para arrecadar alimentos, cobertores e roupas. Muitos estão passando trabalho, não só a classe artística, mas os que sentem frio, que sentem fome. Ainda mais agora. Esses autônomos, que estavam se mexendo um pouco, não podem nem se mexer, estão desempregados, sem renda. Então, o músico sempre teve presente até nessa questão de cantar de forma beneficente.

Como o senhor classifica a condução dos governos com relação ao setor cultural? A Lei Aldir Blanc é suficiente e eficaz no atendimento das necessidades da classe artística?

Luiz Marenco em reunião com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Divulgação/ALRS.

Lá em março de 2020, quando vimos o que estava acontecendo na China, Estados Unidos, Europa, obviamente que tu sabe isso vai vir pra cá. Participei de uma videoconferência com bancos e parte do Executivo. Eu pedi que houvesse uma linha de crédito bem específica pra essas pessoas e empresas que lidam com a música, porque se eles não têm como receber, eles não têm como pagar imediatamente. Pedi uma carência até o momento que voltasse ao normal.

“A Lei Aldir Blanc, demorou muito para acontecer.”

Houve cinco editais, acredito que todos deram problemas, por exemplo, o Prêmio Trajetórias, onde o músico se inscreve e ele vai dizer qual a sua contribuição pra cultura até o dia de hoje: o que tu fez, há quantos anos tu compõe, o que tu gravou, que tu fez shows. Muitos não conheciam, não estavam sabendo sobre o projeto. Eu queria que chegasse a mais pessoas. Compartilhei nas minhas redes. Avisei a todos os possíveis candidatos pra que eles se inscrevessem. É uma coisa que tem que chegar a todos e não chegou. Tem gente que até hoje não sabe.

Mas a Lei Aldir Blanc também foi maravilhosa, porque o governo federal entregou R$ 3 bilhões — que estavam parados no Fundo Nacional da Cultura, pela falta de interesse dos municípios. Aqui no RS, no começo da pandemia, 70% dos municípios não tinham instalado o seu sistema municipal de cultura. Vieram esses R$ 3 bilhões que foram divididos pelo país e muitos municípios devolveram porque não sabiam como é que funcionava, não sabiam do que se tratava, houve muita desinformação. Foi pouco divulgado. Até saiu, mas bem menos do que deveria.

Bem depois, começaram a se mexer para disponibilizar uma linha de crédito para a cultura, daí começou a movimentar. Agora, a Assembleia Legislativa disponibilizou ao pessoal do setor de eventos um dinheiro que não tem nada a ver com a Lei Aldir Blanc. Foi a própria Assembleia com sua economia — a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul é a que gasta menos no Brasil — , não é o Marenco, são todos os deputados. A Assembleia ajudou muito a classe de eventos, assim como a classe hoteleira e restaurantes, que também foram incluídos nesses cento e poucos milhões de reais disponibilizados.

Houve alguma iniciativa de apoio à classe em nível estadual? Qual foi a sua atuação nesse momento tão crítico para a cultura no Estado?

Eu faço parte da Comissão da Educação e Cultura da Assembleia e também tenho uma Frente Parlamentar de Fortalecimento da Cultura. Então, nós seguimos trabalhando e buscando a prorrogação dos prazos, para ajudar a todos os municípios. No dia 19 de dezembro de 2020, eu tive uma audiência com o governador. Depois de todos os estudos dessa frente parlamentar, depois de conversar com a Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs) — para que ela ajudasse no sistema municipal de cultura, para que fossem criados os conselhos municipais para receber a ajuda da Lei Aldir Blanc — eu falei com o governador Eduardo Leite para que ele pedisse ao Congresso, Câmara e Senadores, que prorrogassem a Lei Aldir Blanc. Naquele mesmo momento em que estávamos lá no Palácio (Piratini), o governador entrou no grupo de Whatsapp dos governadores de todo o país e mandou uma mensagem dizendo “vamos lutar pra prorrogar a Lei Aldir Blanc para dezembro de 2021” e foi prorrogado. Fiquei muito contente, porque teremos mais esse tempo para fazer com que chegue a informação nos municípios e que sejam contemplados, o pessoal tá se alinhando e estão buscando essa ajuda.

Qual a expectativa do setor ainda para 2021?

Luiz Marenco e colegas de palco durante show no Teatro São Pedro, em Porto Alegre. Reprodução/site.

Como cantor, espero ver os meus colegas o quanto antes na estrada. Hoje, eu sou deputado, mas tu não imaginas a saudade que eu estou de subir num palco, juntamente com meus companheiros, que tocamos juntos há 15, 20 anos.

“Tu subir num palco, olhar pra frente, ver todas aquelas pessoas pedindo a tua a música, aquelas pessoas que só te entregam carinho e energia. Eu estou com uma falta, uma saudade disso e eles (os músicos) também.”

Além disso, eles também querem exercer o seu trabalho, sua profissão, pagar suas contas, levar o pão para a família. Tu via os rodeios lotados, exposições, teatros, a gente quer que volte. Claro, no momento estamos preservando a saúde de todos. Há pouco, tivemos uma audiência com o governador, participei com alguns outros deputados, ajudamos naquele texto que foi enviado pelo setor de eventos (para pedir flexibilização das medidas de isolamento), colocamos mais algumas ideias. Governador disse que pode 50% da capacidade, então vamos tirar mesas, com distanciamento de dois metros de cada, com até quatro pessoas. Não pode dançar, mas pode ouvir. Os músicos no palco, a plateia aqui, a família que convive todos os dias, com os participantes testados, isso pode acontecer, é uma maneira do músico conseguir trabalhar um pouco. Vai demorar um tempo até todos conseguirem fazer o que faziam antes, viver da maneira que viviam antes.

Quais são os projetos mais importantes do seu mandato na área da cultura?

Deputado criou Comissão Especial para tratar da área da Cultura no Legislativo. Divulgação/ALRS.

Temos um projeto que não seria só para classe da cultura, seria para todos os autônomos, que está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Nesse momento de pandemia, quem não pode trabalhar, “eu não posso vender meu cachorro quente, eu não posso cantar num bar, eu não posso fazer um espetáculo”, mas tem custos como luz, água e gás todo mês. Esses serviços não serão cortados, pois se está impossibilitado de trabalhar, não tem como pagar as contas. Então, no momento que voltar ao normal, haveria uma carência de dois ou três meses, até conseguir voltar a trabalhar, para pagar as contas que ficaram para trás. Pela Mesa Diretora da Assembleia, conseguimos, na Semana Farroupilha, promover vários shows e lives pra ajudar a classe artística. A gente tem feito bastante coisa para a classe artística. Eu sou desse meio, mas não posso trabalhar só para essa classe. Também tem a questão que estou trabalhando no plano de carreira da Brigada Militar e estou sempre atuando contra a retirada de diretos dos professores e dos brigadianos.

Tem outro projeto que está na CCJ, para que esses aparelhos de mídia, telefones, notebooks e tablets apreendidos pela Receita Federal ou pela Polícia nos presídios, sejam doados para as crianças que não têm condições de comprar o aparelho para estudar. Aqui para fora (no Interior), muitos pais têm um telefone simples que não tem sustentação pra baixar um aplicativo. Então, esses aparelhos seriam doados para aqueles de classe bem baixa, pois precisamos que as crianças estudem. Elas estudando, vão ser pessoas melhores para o nosso estado, nosso país. A educação e a cultura são importantes para todos.

Alguns projetos para a área da cultura saíram da Comissão Especial que, no primeiro dia de mandato, pedimos a instalação para a área da cultura, para mostrar o quanto gera em economia para os municípios e o estado. Ficamos seis meses fazendo audiências públicas, trouxemos o secretário da Cultura de Pernambuco e o da Bahia. Todos sabem o quanto a cultura da Bahia gera de economia, são bilhões. Fizemos esse estudo e descobrimos que no RS tem 130 mil trabalhadores na área da cultura, 42 mil microempreendedores. Isso foi essencial para surgirem projetos. Foi um trabalho muito legal, que entregamos em livro ao governador Eduardo Leite — com estudos, gráficos, apontamentos, tudo aquilo que pesquisamos no Estado — . Também procuramos a Famurs para debater. Descobrimos com os palestrantes muita coisa que poderia ser implementada no nosso estado.

Agora, estamos fazendo outro projeto muito importante. Nossas crianças têm que saber o que acontece no mundo, mas também precisam saber o que acontece no lugar onde elas vivem. Queremos implantar outra matéria pra ser estudada nas escolas, que é o folclore do Estado. No Uruguai e na Argentina já fazem isso. Para valorizar o chão que tu pisa, tua história, o que os teus avós, o que o teu sangue ancestral fez para que fosse formado hoje o Rio Grande do Sul, que tem uma história que tantos respeitam nesse mundo.

“Nossa cultura tem uma história e essa história eu não quero que seja esquecida.”

Com reconhecimento em sua carreira de mais de 30 anos, qual foi a sua motivação para entrar a área de atuação política?

Deputado estadual Luiz Marenco no plenário da Assembleia Legislativa do RS . Divulgação/ALRS.

Eu estou há 33 anos na música, nunca me imaginei político. Obviamente que todos somos políticos, ou deveríamos ser. Eu acho que a política tem que estar dentro da casa das pessoas. Até para aqueles maus políticos não passarem por cima, não te enrolarem, é só ligar o rádio e a TV que tu vai ver, todo dia no Brasil tem notícia nova de corrupção. Mas eu nunca me imaginei num parlamento. As minhas músicas, para quem conhece, sabe que eu sempre opinei. Eu sempre cantei o que eu gosto, eu não canto pra agradar eu canto o que eu gosto de cantar. Se tu canta tua verdade, tu vai cantar com sentimento e as pessoas vão se identificar.

Eu tenho muitos amigos políticos, eu já tinha recebido um convite, algum tempo atrás e disse “não, eu sou cantador”. Até um dia que eu estava em Porto Alegre, tinha um show no Teatro São Pedro e fui visitar um amigo na Assembleia, um ano antes da eleição. Ele me convidou, disse “quem sabe tu não concorre a deputado?” Levei aquilo pra casa e fiquei pensando.

“Nós nunca tivemos um representante da área cultural, que pudesse buscar algumas coisas que até hoje não foram alcançadas, alguém que pudesse pensar em como ajudar a cultura do Estado. Então pensei: “ eu acho que posso contribuir”. Aceitei e agora estou lá, né (risos).”

Uma coisa que eu nunca misturei é a minha arte com a política. Eu tenho minhas redes sociais como cantor e, no momento que eu me candidatei e me elegi, eu fiz as redes como deputado, pois eu tenho que respeitar quem gosta da minha música, porque muitos não gostam da política, eu tenho que respeitar essas pessoas. Hoje estamos com 58 mil seguidores no Facebook, no Instagram estamos chegando a 34 mil seguidores. É muita gente. Desde o começo, nós fizemos uma prestação de contas, um resumo de tudo que fazemos durante a semana, quem nos visitou, o que foi feito. Tenho essa obrigação, eu sou um dos 55 representantes no estado do povo gaúcho, eles estão pagando meu salário, eu sou um funcionário, como eu digo, sou um peão.

Enquanto artista, como está sendo para o senhor e sua equipe enfrentar esse período longe dos palcos?

Live solidária em Pelotas foi transmitida pelo canal oficial de Luiz Marenco no Youtube.

Dia 30 de maio fizemos uma live solidária em Pelotas. Nesse dia, eu vi três companheiros que fazia um ano e dois meses que não nos víamos. Bah, uma saudade que a gente estava, imagina! Um grupo que tu fica praticamente 20 anos tocando junto, tem que gostar um do outro, é um casamento, são pessoas que tu têm sintonia. Foi muito bom, cantamos sorrindo. Graças a Deus esses companheiros que tocam comigo têm outras atividades, não estão passando essa necessidade que muitos estão. Nós só temos muita saudade mesmo. No dia da live, brincamos e nos divertimos, errando uma nota ou outra, que não errávamos antes, porque a gente tocava toda a semana juntos, mas errávamos e dávamos risadas. Foi muito bom!

Como foi adaptar a agenda corrida de shows por todo o estado para a realização de lives em casa, transmitidas pela internet?

Músico de filosofia espírita acredita que devemos sair melhores desse período de isolamento. Reprodução/site.

Em tudo a gente tira coisas boas. A minha filosofia é espírita, então eu penso que nosso pai celestial colocou a mão em nossas cabeças e disse, olha vou dar uma chance de vocês melhorarem. Começou a acontecer também coisas boas, porque o homem ficou mais dentro de casa. Porque tinha muita coisa acontecendo de errado. Acredito que nós temos três casas, o mundo, a minha casa aqui com minha família e a minha casa aqui dentro (no coração). Então, a gente tem que melhorar aqui dentro, pra melhorar o resto. Pensando dessa maneira, eu não quero que volte como estava antes, eu quero que nós voltemos melhores. Porque se continuar como antes, o mundo velho vai desandar.

A minha vida está sendo essa, tudo por aqui, pelo computador. Tu vês como as coisas mudaram, se fosse um tempo normal, estaríamos conversando de forma presencial. Hoje, eu estou aqui em Santana da Boa Vista e tu estás em Porto Alegre, com imagem e som ótimos, veja o que a tecnologia está gerando de economia. Então, muitas coisas vão se modificar. Este ano, completo 33 anos cantando. Dia 19 de maio, fiz 20 anos de casamento. A minha vida sempre foi estrada e estrada, pra lá e pra cá.

“Em setembro, eu saia no começo do mês e voltava no final. Agora, estou há um ano e dois meses na minha casa. Eu estou conhecendo melhor minha família, eles estão me conhecendo melhor.”

Nós estamos falando coisas que não falávamos antes, eu tenho uma guria, a Caetana, 16, o Santiago, 11, aquelas idades que tem que haver conversa. Então, claro, nós brigamos, mas aprendemos, todo mundo aprende. Eu estou tendo esse tempo agora. Tem as coisas boas dentro de tudo isso. Tem as coisas ruins, claro. Eu perdi muitos amigos, conhecidos, vi a tristeza de muitos amigos perdendo os seus, não é fácil, mas temos que continuar e sobreviver. Isso aí (a pandemia) não veio por nada, isso aí veio pra ser um ensinamento e a gente tem que aprender com isso.

Neste período de isolamento social, a sua atuação mais descontraída nas redes sociais foi uma surpresa para os fãs. O senhor já tinha essa afinidade com as ferramentas digitais?

Eu sempre usei as redes sociais, sempre dei importância para as redes, porque é uma maneira de enxergar as pessoas que tu gosta, e de as pessoas virem até mim. Tu vais tendo uma experiência de troca. Aí vieram as minhas cantorias, como eu chamo. Todos já sabem: sábado é dia da cantoria do Marenco. Tanto é que, às vezes, eu nem coloco ali, como um amigo meu fala, “o cartazinho”, que são os cards. Agora, vai ser a 66ª semana que eu vou cantar no sábado, às 21h30. Então todo mundo já sabe.

Marenco tem atuação descontraída nas redes sociais. Reprodução/Instagram.

Sobre as brincadeiras, eu sempre fui muito criança, eu sempre fui crianção, meu pai era assim também. Eu sou muito de bobagem toda hora. Então, eu estou sempre brincando com os meus filhos e com a minha esposa, tanto que eles dizem “pai, quando tu vai crescer?” e eu não quero crescer, eu quero me preservar assim e isso me ajuda a manter o equilíbrio. Muito disso é legal, pois eu brinco nas lives com a Caetana e com o Santigo, eles dão risada, com a Marlise, minha esposa, que tá sempre junto. Eu brinco que são a minha produção, digo “como é que tá produção?” (risos). Porque aqui não tem microfone, não tem luz. Eu pego meu violão e vou para frente da lareira e canto o que eu quero, brinco, digo bobagem, tomo meu vinho. A minha vida é assim, eu não estou fazendo nada diferente. Tudo que eu estou fazendo é o que eu faço diariamente. É o que eu sempre fiz na minha vida.

A gente vê muito essas lives com muita técnica e aqui não tem nada. Eu fazia em três redes, mas a gente não conseguia acompanhar as mensagens, daí deixamos só pelo Facebook e Youtube. Esses dias, eu fiz um ao vivo antes mostrando “ó gente a minha produção já está arrumando aqui”. A produção é uma câmera pequena que eu tenho e o meu celular. Eu coloco os dois em cima de uma caixa de torradeira (risos). Nesse dia, eu mostrei “ó gente a produção aqui, ali meu copo d’água, meu vinho, uma lenha que vou botar no fogo”, e as pessoas se sentem em casa contigo. Aí, se criou a tradição. Sábado, chega 21h30, as pessoas começam a entrar ali.

Do Meu Rancho Pro Teu. Cantor já fez 65 lives desde que iniciou a pandemia. Transmissões são feitas aos sábados, pelo seu canal no YouTube e Facebook.

Agora, na última live, chegou a 1700 pessoas conectadas, mas tem muito mais gente que assiste junto. Aí, parece que tu é amigo de tanto tempo de todas as pessoas, até já sei o nome delas, mas toda semana entra gente nova. Tem gente da Espanha, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Pasquistão, Afeganistão, até do Alaska. Quando eu vou cantar nesses lugares? Talvez, essas pessoas nunca viram e nunca vão me ver cantar ao vivo, e todo sábado eles entram e eu faço um som com eles. Pra mim é maravilhoso, porque eu estou tocando, estou cantando. Eu não posso subir num palco, mas estou cantando. Para um cara que fica 35 anos cantando, simplesmente parar de cantar não dá. Tem gente até que fala que no mundo todo não tem ninguém que fez 65 lives toda semana. Disseram até pra entrar para o Guinness. Eu disse que tem que ver então como se inscreve nesse “tareco” (risos). Eu nunca deixei de fazer nenhuma. Ah! Teve um dia só que faltou luz aqui em Santana, daí fiz no domingo, mas não deixei de fazer nenhuma semana.

Quais as expectativas e projetos futuros da carreira?

Tenho um projeto que era para ter sido lançado em 2019, um documentário. A minha ideia era convidar todos aqueles que participaram da minha história, desde o começo até o dia de hoje. Mas, para isso, eu deveria ter visitado todos eles. Obviamente, não consegui visitar a todos, pois, graças a Deus, tenho muitos amigos. Então, fui pegando alguns que participaram de alguns trabalhos. Isso demorou muito tempo. Foram quase dois anos para captar tudo. Tá tudo pronto, mas daí veio a pandemia. Como eu vou lançar isso na pandemia? Eu quero lançar isso e escancarar a minha felicidade de contar a minha história, com quem participou da minha história. Por exemplo, antes de eu começar a cantar, eu era garçom do restaurante do Cassino (praia de Rio Grande). Às vezes, eu conto e muitos não acreditam. Eu fui lá e o dono do restaurante participou e contou a história. Eu até fico emocionado, pois tem coisas que eu não lembrava, e eles fizeram eu lembrar. Em Jaguarão, fui peão de uma estância e o dono contou a história também.

Documentário trará depoimentos de pessoas que participaram da história do músico. Reprodução/site.

“Acho legal contar essa minha história. Até para o cara que quiser cantar um dia ver que, se ele quiser cantar, ele vai cantar. Todo ser humano que quiser e acreditar, ele vai ver que é possível, se acreditar.”

Porque, se eu não acreditasse que fosse possível, eu não ia fazer que ninguém acreditasse. Quando eu comecei a cantar, eu cantava muitas músicas do Noel Guarany e do Cenair Maicá, que são as minhas referências. Aí, eu comecei a colocar minhas músicas também, quando comecei a compor. Porque se eu não acreditar e não cantar as minhas músicas, como as pessoas vão conhecer e cantar, se eu que fiz não canto? Eu digo pra todo mundo: faz com coração, faz com a alma, acredita que consegue fazer, porque tu vai conseguir. Por isso, eu queria contar a história e mostrar as pessoas que participaram de tudo. Esse é um projeto que eu tenho muito carinho, mas que ficou parado. Também já estou compondo para um disco que vou fazer com um amigo de Livramento e tenho mais um projeto de um outro disco. Então, a hora que liberar tudo, que abrir a cancela, vou sair cantando para tudo que é lado!

Cantor e compositor já prepara dois discos para lançar após pandemia. Reprodução/site.

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